Durante debate na sede do Conselho Regional de Economia do Paraná (CORECONR), em Curitiba, na última quarta-feira (25), economistas apontaram que 2016 será um ano de ajuste, mas sem recuperação ou crescimento da economia. O cenário continua sendo de estagnação, acompanhado de processo inflacionário. Entre as maiores preocupações dos especialistas estão a capacidade de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e a geração de empregos no Brasil. A boa notícia é que o desempenho da balança comercial deve melhorar.
“Sem sombra de dúvidas, o maior desafio político-econômico é consolidar o ajuste fiscal. O mercado espera um déficit primário na ordem de 1,10% do PIB, em 2015, e de 0,57%, em 2016. Neste caso, teremos uma redução do déficit público de 9,35% do PIB (2015) para 7,64% (2016). Estamos, portanto, em uma situação delicada. O Brasil não consegue operar com um déficit público acima de 5% do PIB porque isso gera desequilíbrio econômico. É necessário com urgência um choque fiscal”, diz o economista do Conselho do CORECONPR e coordenador do curso de Economia da Universidade Positivo, Lucas Dezordi.
Dezordi lembra que 2015 foi marcado pela forte recessão econômica, aliada ao movimento de aumento de preços monitorados (IPCA – Administrados). Com isso, as expectativas do mercado em relação a 2015 e 2016 deterioraram-se sistematicamente. No início do ano, esperava-se, por exemplo, um PIB de 0,5% e 1,8% para o final de 2015 e 2016, respectivamente. Agora, a expectativa é de queda de -3,2% em 2015 e -2,0% em 2016.
Nesta mesma linha, as projeções do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o final de 2015 aumentaram de 6,56% para 10,33%, e, para o término de 2016, de 5,70% para 6,64%. “Ou seja, o próximo ano será um período de ajuste econômico. Tanto o mercado como o governo não trabalham com um cenário de recuperação”, afirma o economista.
A estimativa é que a taxa de câmbio (R$/US$) feche em R$ 3,95 neste ano e fique em aproximadamente R$ 4,20 em 2016. Levando-se em conta esse dado, Dezordi acentua que o caminho do ajuste brasileiro passa “impreterivelmente” pela melhora das exportações e estagnação nas importações. “Fato que ajudará em um desempenho melhor da balança comercial”, diz. As exportações devem alcançar US$ 192 bilhões, em 2015, e US$ 203 bilhões, em 2016. Para as importações, a previsão é de US$ 177 bilhões, em 2015, e US$ 173 bilhões, em 2016. O saldo da balança comercial deve ser de US$ 15 bilhões até o fim deste ano e de US$ 31,8 bilhões até o final de 2016, mudando o cenário insustentável de 2014, quando fechou com um déficit de U$ 3,9 bilhões.
A previsão é que, preocupado com a contaminação em 2016 do forte processo inflacionário vivenciado em 2015, o Banco Central mantenha a taxa de juros Selic em aproximadamente 14,25% ao ano. “O aperto monetário observado neste período será mantido para 2016”, finaliza Dezordi.
Agronegócio
No Brasil, o agronegócio foi beneficiado pela variação do dólar em 2015. “Este é um momento bastante propício para recuperar perdas. Nenhum outro produtor no mundo tem a vantagem que o Brasil possui em função do câmbio”, ressalta o economista Anderson Helpa, da OCEPAR. “O preço da soja caiu 40% no mundo todo, porém, no Brasil, não tivemos prejuízo porque a cotação do dólar compensou. Além disso, 45% do plantio deste ano já foi vendido, contra 30% do mesmo período do ano passado.”
Helpa lembrou que 56% da produção agropecuária brasileira passa pelas cooperativas paranaenses. No Paraná, o faturamento nesse setor cresceu mais de 10% no último ano, passando de R$ 42,24 bilhões para R$ 46,64 bilhões.
Em 2016, as cooperativas agropecuárias que têm foco no mercado interno serão as mais afetadas pela retração econômica, de acordo com Helpa. “Aquelas voltadas à exportação, apesar de enfrentar custos maiores, tendem a ser compensadas pelo câmbio favorável. Não haverá contração de investimentos, sendo previsto um total de R$ 2,78 bilhões para 2016. Em 2015 este valor foi de aproximadamente R$ 2,3 bilhões.
Indústria
De acordo com o Banco Central e Boletim Focus, a produção industrial teve saldo negativo de – 3,20%, em 2014, de -7,50% em 2015, e estima-se que seja de -2,00% em 2016. Todavia o economista Maurilio Schmitt, da Federação das Indústrias do Estado Paraná (FIEP), diz que o cenário “nebuloso” não aconselha arriscar números sobre o setor. Segundo ele, medidas “equivocadas” do Governo Federal e Estadual refletiram no aumento de tributos e da burocracia, que, somados à falta de investimentos no setor e ao momento delicado da economia, prejudicam ainda mais o crescimento.
Schmitt ressaltou que o Paraná tem no setor Agropecuário um fator de recuperação. “Nossa estrutura econômica é diferente de outros estados. Temos um amortecedor para gerar riqueza, que é o agronegócio. E poderíamos gerar mais riqueza ainda se pudéssemos agregar mais valor a nossa produção primária.”
O economista observou, no entanto, que os investidores têm procurado fazer negócios fora do Paraná. “Há 17 gêneros de empregos industriais negativos e declinação das vendas. Estamos caindo acima da média nacional, e o Paraná está ostentando o maior índice de inflação das regiões metropolitanas”, diz. Ele alertou, ainda, que a “política econômica precisa estar centrada na qualidade social do povo e não apenas em números.”
Crise e redução de empregos
Sandro Silva, economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), do Paraná, apresentou como principais razões da estagnação atual, a crise mundial (especialmente na Europa), a queda do investimento, principalmente na indústria, o elevado nível de incerteza, a taxa de juros elevada e taxa de câmbio valorizada, e a supressão de uma parcela expressiva do consumo pelas importações. Além disso, dividiu a crise atual como sendo Fiscal, Política e Econômica.
Segundo ele, ocorreu nos últimos anos uma desaceleração do crescimento da arrecadação do governo federal, consequência principalmente de políticas que beneficiam alguns setores com a redução de impostos. “Estima-se que devido a essa medida, em 2014 o governo deixou de arrecadar R$ 100 bilhões. Com os problemas fiscais somados à questão política, o governo acabou tendo dificuldade de conseguir a maioria do Congresso para aprovar suas medidas.”
O economista também explica que, além da desaceleração do crescimento da economia, que vinha ocorrendo desde 2011, com a crise fiscal o governo mudou a política econômica de anti para pró-cíclica. “Mas continuou atuando com medidas contraditórias. De um lado um esforço para diminuir despesas e aumentar receita, e do outro, a elevação dos juros, que aumenta as despesas com a dívida pública. Apenas com juros da dívida o governo gastou R$ 300 bilhões, em 2014, e neste ano pode chegar a R$ 500 bilhões”, afirma.
Dados do DIEESE mostram que, em 2014, somando amortização e juros da dívida interna, o governo gastou mais de 45% do seu orçamento. “Apenas a título de comparação, neste mesmo período, os gastos da União com saúde foram de R$ 86,3 bilhões e com educação, de R$ 80,19 bilhões. Com o Bolsa Família, gastou-se, em média, R$ 25 bilhões.
Essas medidas afetaram o setor de empregos. De janeiro a outubro de 2014, o saldo de empregos formais no Brasil era de 912.987, número que caiu, no mesmo período de 2015, para -818.918. No Paraná, no mesmo período, o saldo de empregos caiu de 84.720 para -22.413, de acordo com dados do Caged. As condições de emprego continuarão difíceis em 2016, com um mercado de trabalho bem restritivo.
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