Adultos aprendizes

A volta aos estudos, ou mesmo o início deles, quando estamos já adultos, em alguns casos até mesmo idosos, representa um imenso desafio que muitos enfrentam.

Pessoas não alfabetizadas na infância, infelizmente fato muito comum no país, tem em particular provocações maiores na aprendizagem madura, pois perderam muitas oportunidades culturais que teriam facilitado o desenvolvimento de suas personalidades e perspectivas profissionais. Ler e escrever, ademais de suas vantagens específicas na comunicação e no exercício profissional, também implica em cidadania, relacionamentos interpessoais, extensão da vida familiar e comunitária.

Por este motivo a educação de adultos tem recebido atenção especial, orientar pessoas maduras a aprender não é simples, e exige técnicas um pouco mais elaboradas e planejadas que aquelas destinadas às crianças.

No adulto, a experiência de vida do estudante não pode ser relevada pelo instrutor, pois constitui-se na mais rica fonte de aprendizagem. Despertar nele a necessidade de saber é essencial, mostrar o que ganhará com sua dedicação, em termos pessoais, familiares, de vida profissional, é essencial; mas nunca esquecendo que adultos costumam ser responsáveis por suas decisões e determinam suas vidas, desenvolvem seus próprios projetos, e gostam de ser tratados pelos demais como seres capazes de se autodirigir, de fazer escolhas.

Enquanto crianças veem as escolas quase como mais uma brincadeira, uma forma de inserir-se no mundo dos mais velhos, este aspecto lúdico pouco interfere nos processos emocionais de alguém amadurecido, porém tudo o que efetivamente utilizar suas experiências constituirão base para seu novo aprendizado, e toda metodologia de ensino que aproveitar essa amplitude de diferenças individuais serão bem mais eficazes: assuntos de interesse específicos, como esportes apreciados, tipo de lazer preferido, situações reais de seu dia-a-dia, costumam trazer disposição para aprender. Quando os novos conhecimentos estão, de alguma forma, relacionados aos antigos conceitos já dominados, isso contextualiza alguma aplicação prática ou a revelação de uma utilidade nova a ser desenvolvida.

Motivação parece ser o ponto central, e tudo que representar aumento na qualidade de vida, pessoal ou familiar será muito bem-vindo, incrementa a autoestima, centra o adulto em sua própria vida, nos problemas que precisa resolver; incentivos externos como um melhor emprego, salário mais alto, rapidamente são transformados em pressões internas, como reconhecimento dos amigos, admiração de familiares, mais potentes nos processos cognitivos.

Em função disso, desde o início dos anos 50 do século passado, cada vez mais educadores percebem que a educação de adultos, que passam a denominar Andragogia – em oposição à pedagogia, voltada às crianças – funciona melhor em ambientes voltados às experiências, mais informais e flexíveis, e isentos de ameaças.

É nos adultos que ficam mais claras as formas preferenciais de aprendizagem, pois vamos, ao longo dos anos, desenvolvendo nossas formas de apreensão: alguns são mais visuais, assimilando melhor as informações obtidas por meio de imagens, gráficos, leitura, slides; outros são mais auditivos, entendendo melhor através do ouvir as aulas, músicas ou repetições orais, tanto feitas por outros quanto pela autoleitura; e finalmente os sinestésicos, assimilando melhor pela participação ativa, pelo exercício ou uso das mãos nas atividades propostas.

Evidentemente ninguém é completamente visual, auditivo ou sinestésico, mas ao longo dos anos vamos melhorando nossas percepções sobre a melhor forma de acelerar a aquisição de conhecimento.

O professor voltado a esta comunidade específica não pode deixar de ter esta “leitura” sobre seus alunos, auxiliando-os mais eficazmente na obtenção de conhecimentos.

 

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.