Apneia do sono: obesidade, álcool e adenoide estão entre as causas da doença

Apneia é um termo que significa “falta de ar”. Ela pode se manifestar durante o sono por pausa ou diminuição temporária da respiração (de 10 a 20 segundos em cada episódio), em geral com vários episódios ao longo da noite. Ocorre um bloqueio transitório parcial ou total da via aérea, em geral superior, que é o canal por onde passa o ar que respiramos. Existem diversas causas para apneia do sono, que podem ocorrer isoladas ou em associação.

Dra. Jeanne Oiticica, médica otorrinolaringologista e Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, explica que dentre os mecanismos que podem contribuir para apneia do sono estão:

  • Desvio de septo nasal – o septo nasal é uma parede constituída por osso e cartilagem, que separa a narina direita da esquerda, tem cerca de oito cm de comprimento, atravessa o centro da face, indo da ponta do nariz até a altura das orelhas;
  • Hipertrofia de cornetos nasais – estruturas esponjosas que crescem e retraem dentro do nariz, importantes no aquecimento e na umidificação do ar que respiramos;
  • Adenoide – tecido de aspecto amoriforme que cresce no fundo do nariz, na sua transição com a garganta;
  • Amígdalas volumosas – estruturas que se localizam a cada lado da língua e que também possuem aspecto amoriforme;
  • Língua volumosa;
  • Palato mole rebaixado – tecido muscular mucoso que fica no fundo da garganta logo acima da língua;
  • Úvula longa – tecido em forma de campainha ou penduricalho que existe no fundo da garganta;
  • Retroposicionamento da língua – língua posicionada muito ao fundo da garganta;
  • Micrognatia – mandíbula pequena;
  • Genética – distúrbios na formação do colágeno por exemplo;
  • Flacidez – falta de tônus e rigidez no tecido;
  • Excesso de tecido na garganta;
  • Obesidade;
  • Abuso de álcool;
  • Uso de determinados medicamentos.
Os portadores de apneia do sono acordam cansados, podem apresentar sonolência diurna excessiva, cochilo fácil durante o dia, fadiga crônica, cefaleia, boca seca, irritabilidade, oscilações de humor, ganho de peso, ranger de dentes, respiração ruidosa ou ofegante, respiração pela boca e roncos.

A doença pode surgir em qualquer faixa etária, mas é bem mais comum em adultos pelas comorbidades (diabetes, hipertensão arterial, dislipidemia) associadas ao avançar da idade, incluindo ainda obesidade, sedentarismo, hábitos de vida inadequados.

“O principal risco da apneia é que ela pode matar. A pausa temporária da respiração, que ocorre várias vezes durante o sono, determina uma restrição à adequada oxigenação do corpo. Essa falta de oxigênio pode atingir tecidos vitais como coração e cérebro, levar a infarto cardíaco ou derrame cerebral (AVC) ”, alerta Dra. Jeanne.
Quando a apneia tem como causa o aumento das tonsilas (faríngea e amigdaliana), ou o bloqueio da passagem de ar pelo nariz (desvio de septo nasal, hipertrofia de conchas nasais), ela repercute no crescimento e formação do arcabouço ósseo da face e pode levar à mordida aberta anterior, palato ogival, hipodesenvolvimento do terço médio da face, entre outros.

Tratamento –  O primeiro passo é determinar a causa da apneia e corrigi-la. “Por exemplo, se a causa for obesidade e sobrepeso, o tratamento é feito a partir do controle de peso. Se a causa for um determinado medicamento que a pessoa estiver usando, suspende-se o medicamento, é claro, se isto for possível. E assim por diante. Existem ainda inúmeros tratamentos disponíveis incluindo aparelho intraoral (serve para tracionar a língua para frente durante o sono impedindo que ela caia para trás e bloqueie a passagem do ar que respiramos pela via aérea), procedimentos cirúrgicos (septoplastia, turbinectomia, uvulopalatofaringoplastia, glossectomia parcial, avançamento maxilo-mandibular), CPAP (aparelho que proporciona pressão positiva nas vias aéreas durante o sono para evitar que estas colapsem) ”, detalha a médica.

Algumas mudanças de hábitos podem contribuir para a prevenção da apneia, como alimentação regrada, exercícios físicos regulares, evitar tomar medicamentos sem prescrição médica e adotar estilo de vida mais saudável.

Perfil Dra. Jeanne Oiticica
Médica otorrinolaringologista, concursada pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Orientadora do Programa de Pós-Graduação Senso-Stricto da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da USP.
Chefe do Grupo de Pesquisa em Zumbido do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Professora Colaboradora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Responsável do Ambulatório de Surdez Súbita do hospital das Clínicas – São Paulo.

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