Entenda o que é importante levar em conta para que a mesada se transforme numa ferramenta de educação financeira para crianças e adolescentes
É inegável que quanto mais cedo se começa a ensinar as crianças a lidarem bem com o dinheiro, maiores são as chances de criar adultos financeiramente controlados e aptos a lidarem melhor com seus recebimentos e gastos mensais. Para muitos especialistas, a mesada é a primeira importante lição de educação financeira que os pais podem transmitir aos filhos, transformando-se numa ferramenta educativa para crianças e adolescentes. Recebendo pequenas quantias e com a orientação dos pais, os menores lidam com a frustração de não poder ter tudo o que querem e aprendem que é preciso guardar dinheiro para comprar o que desejam.
O início de ano é o momento ideal para sentar com os filhos e acertar a mesada para o ano todo, definindo valores, periodicidade e também quais as contas e despesas que deverão ser pagas com a mesada e o que continuará a ser custeado pelos pais. Segundo Altemir Farinhas, consultor da Conquista Soluções Educacionais, a criança que recebe mesada já começa a entender que o dinheiro some muito rápido e que, se não for bem gasto, gera frustração. “Quem poupa sempre tem – e a mesada ensina isso. É um aprendizado natural. Às vezes a criança vai gastar certo, às vezes vai gastar errado e, por isso, é fundamental a orientação dos pais. O importante é que ela comece a lidar com o dinheiro na vida real, nas coisas do dia a dia”, explica Farinhas.
E aí surge a dúvida mais comum dos pais: quando começar e qual o valor e periodicidade adequados para a mesada. A resposta varia muito conforme a faixa etária e a realidade financeira das famílias. Especialistas costumam aconselhar que a mesada seja inserida de forma eventual até que a criança se acostume com a ideia e comece a ter noção de como lidar com o dinheiro. Depois, é importante definir uma periodicidade que, até os 11 anos, pode ser semanal. A partir dos 12 anos, quando o adolescente já consegue lidar com um horizonte maior de tempo, deve-se passar a dar os valores mensalmente. Quanto à quantia adequada, especialistas sugerem uma regra: calcular R$ 3 por semana, multiplicados pela idade de quem recebe a mesada. Segundo a regra, um adolescente de 12 anos, por exemplo, vai receber R$ 144 (R$ 3 x 12 anos = R$ 36 x 4 semanas = R$ 144). Mas é importante reforçar que isso pode variar, dependendo do orçamento familiar e da maturidade da criança ou adolescente.
Muitas vezes, é comum a quantia da mesada acabar antes do prazo estipulado. Segundo Farinhas, essa é uma excelente oportunidade para ensinar o filho a cuidar melhor de suas finanças. “Em casos assim, é possível agir de duas formas: a primeira é deixar a criança sem dinheiro até receber a próxima mesada. Os pais podem explicar que recebem o salário e que esperam um mês para receber o valor novamente e que eles também deverão esperar e aprender a não gastar tudo tão rápido. A segunda opção é, em situações em que seu filho deseja muito algo, fazer um empréstimo, cobrar os juros e descontar nas próximas mesadas. Assim ele vai entender a importância de poupar para comprar algo, a fim de evitar ficar pagando prestações”, destaca Farinhas.
A gerente de desenvolvimento de negócios da Central Sicredi PR/SP/RJ, Adriana Zandoná França, reforça o papel educativo da mesada, mas alerta que apenas dar o dinheiro não traz benefício para a criança. “É importante que os pais conversem com seus filhos sobre o tema, que os ensinem que é preciso saber poupar, juntar o dinheiro para comprar o que se quer, comparar preços e até pedir descontos”, explica. Segundo ela, os pais devem orientar seus filhos e também servirem como modelo. “As crianças aprendem pelo exemplo – então, é fundamental que os pais também tenham disciplina e educação financeira”, afirma. Ainda segundo Adriana, “uma boa estratégia é incentivar e apoiar os filhos a terem objetivos futuros definidos para que o ato de poupar faça sentido para eles e proporcione satisfação quando alcançados”. Ela destaca que, atualmente, apenas um terço da população brasileira tem dinheiro guardado. “Quanto mais os pais investirem na educação financeira de seus filhos, mais teremos adultos com maturidade para realizar seus objetivos e também passar por adversidades”, completa.
Os especialistas dão dicas que podem ajudar os pais na hora de sentar com os filhos para acertar os detalhes sobre a mesada:
1) Procure saber qual o valor da mesada dos amigos dos filhos. O ideal é estar sempre dentro da média – nunca o maior ou o menor valor.
2) É importante calcular a mesada para que não haja muita sobra de dinheiro todos os meses. É a escassez, e não a fartura, que vai mostrar para a criança a necessidade de se ter controle financeiro pessoal.
3) Uma boa estratégia é estimular o filho a poupar de 20% a 30% do dinheiro para realizações futuras, de curto prazo.