Moduladores intestinais favorecem imunidade: primeiro colostro garante proteção ao animal, mas depois é preciso complementar a dieta

Fernando Antônio Nunes Carvalho, médico veterinário, MSc

João Gabriel Balizardo Carvalho médico veterinário

Nutrição Animal do Grupo MATSUDA – Brasil, cliente da ICC Brazil

Poucos pecuaristas compreendem a importância da microbiota intestinal para o desenvolvimento e a saúde dos bovinos ao longo de sua vida. Quando esses animais nascem, seu microbioma gastrointestinal é estéril, mas assim que o bezerro entra em contato com contaminantes externos, principalmente oriundos da mãe, seus intestinos são povoados por microorganismos, principalmente enterobactérias e cocos gram-positivos.

No rúmen-retículo, esse processo de colonização ocorre de forma lenta e complexa, levando semanas ou mesmo meses para se estabelecer, até apresentar um padrão. Já nos intestinos, os microorganismos se instalam de forma imediata, dinâmica e sem padrão determinado. As primeiras colonizações (oito primeiras semanas) definirão a eficiência funcional, a capacidade de absorção de nutrientes e o desenvolvimento do sistema imunológico do bovino ao longo de toda sua vida.

Esse processo é influenciado pela genética do animal, por fatores ambientais (época do ano, local do parto), pela idade da mãe, por sua condição corporal ao parto e tempo da gestação. Além disso, pela qualidade do colostro e o momento em que este é ingerido, assim como pelo tratamento da mãe ou do lactente com antibióticos, antes e depois do parto. De qualquer forma, alguns cuidados simples ajudam no bom desenvolvimento da microbiota intestinal nos primeiros dias de vida.

Primeiro, é fundamental que nas primeiras horas após o nascimento o neonato excrete o mecônio, material fecal de cor esverdeada, bastante escura, produzida pelo feto. Essa excreção somente é possível quando o animal ingere o colostro, que tem ação laxante, antisséptica, imunológica e nutricional. Quanto mais rápido isso ocorrer, melhor. Isso contribuirá para que haja máxima absorção pelos intestinos e as Imunoglobulinas (células de defesa) maternas protejam o bezerro por meses.

O colostro também é rico em MOS, um oligossacarídeo (açúcar), que resiste tanto à digestão ácida do estômago quanto à enzimática do duodeno (parte inicial do intestino delgado), além de ajudar no desenvolvimento da microbiota intestinal neonatal. O MOS seleciona os microrganismos benéficos que devem se multiplicar nos intestinos e inibe a multiplicação dos indesejáveis, especialmente das bactérias patogênicas que podem causar processos inflamatórios, clínicos ou subclínicos, trazendo danos irreversíveis às vilosidades intestinais. Após beber o colostro e começar a mamar, os bezerros ficam relativamente protegidos. Mas é importante que recebam, a partir dos 30 dias de vida, em sistema de creep feeding, suplementos contendo moduladores intestinais capazes de reforçar seu sistema imunológico e garantir boas taxas de crescimento.