Curitiba tem alta prevalência de jovens fumantes

Ao longo das décadas, a indústria do tabagismo elegeu os seus alvos. Antes das primeiras evidências de que o hábito de fumar estava associado ao aumento de mortalidade por câncer e outras doenças, os médicos ilustravam os anúncios que afirmavam que fumar reduzia a ansiedade e depressão. Na sequência, os holofotes também foram direcionados para as mulheres, que buscavam conquistar um cenário de igualdade de direitos e para os homens aventureiros do estilo de vida propagandeado por marcas de cigarro.

Mais recentemente, o alvo se tornou o público jovem. No Brasil, esse impacto é mais sentido no Sul. Estudo realizado pelo Ministério da Saúde e publicado na Revista de Saúde Pública, destaca que 17,7% dos curitibanos de 12 a 17 anos são fumantes, o que representa a segunda maior prevalência de tabagismo entre jovens do país, atrás apenas de Porto Alegre (18%). A pesquisa afirma também que entre os tabagistas nessa faixa etária, ao menos 20% já são consumidores de narguilé.

O maior perigo desses dados, alerta a Organização Mundial de Saúde (OMS), é que a maioria dos fumantes se torna dependente até os 19 anos. “As crianças e adolescentes estão se expondo cada vez mais cedo aos males causados pelo tabagismo. É nosso dever conscientizar os nossos jovens de que não há consumo seguro, seja ele por cigarro, narguilé ou qualquer outro produto”, afirma a hematologista do Laboratório Frischmann Aisengart, Jerusa Karina Miqueloto.

Perigos por trás do narguilé

Dentre as armadilhas que seduzem o público jovem, a que mais desponta é o narguilé. No entanto, a reunião de amigos em torno do produto, é um ameaça à saúde. A OMS, que oficialmente declarou que o tabagismo é uma doença pediátrica, é taxativa ao afirmar, baseada em evidências científica, que não existe consumo seguro de tabaco, incluindo cachimbo, cigarro de palha, cigarro tradicional, cigarros mentolados ou aromatizados e o narguilé.

Pelo fato de conter água, muitos jovens acreditam que a vaporização do narguilé não é nociva. No entanto, ele é um cachimbo que traz um tipo de fumo que é feito com tabaco, melaço e frutas ou aromatizantes. Esse fumo é queimado em um fornilho e sua fumaça, após atravessar um recipiente com água, é aspirada por uma mangueira até chegar à boca. Difundido pela indústria tabagista como uma forma inofensiva de consumo de tabaco justamente com a argumentação de que a água seria capaz de filtrar os componentes tóxicos, o narguilé é sim prejudicial à saúde. Isso porque, ao consumir o narguilé, são absorvidas as substâncias tóxicas, dentre elas os produtos da combustão do carvão utilizado para queimar o fumo.

Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em parceria com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) concluiu que fumar narguilé por uma hora seguida corresponde ao consumo de tabaco de 100 cigarros. Os autores viram também que, menos tendo conhecimento e consciências dos riscos do consumo de tabaco, mais da metade (55%) dos estudantes da área de saúde que são fumantes, também utilizam o narguilé. Estudos apontam que quantidade de nicotina inalada com o narguilé é pelo menos o dobro da inalada pelo consumo do cigarro normal, causando uma dependência ainda maior.

Outro agravante é que cigarro é consumido em cinco ou dez minutos, enquanto o narguilé, geralmente utilizado socialmente na roda com os amigos, é inalado por até duas horas seguidas, intensificando a quantidade de nicotina. Os dados são do relatório do Grupo de Estudo para Regulação do Tabagismo (TobReg-WHO), disponível em http://www.who.int/tobacco/global_interaction/tobreg/waterpipe/en/.

Um importante passo foi a aprovação em 2017 de um projeto de lei que proíbe, em Curitiba, o uso de narguilé em locais publicados abertos ou fechados, além da venda de cachimbos, essências e complementos para sua utilização aos menos de 18 anos. Essa medida, poderá contribuir para a redução do consumo e das doenças relacionadas a esse hábito.

De acordo com a OMS, o uso do produto está associado com o desenvolvimento de câncer, principalmente de pulmão, assim como de doenças cardiovasculares. O consumo em longo prazo, afirma o INCA, também estaria ligado a um maior risco para câncer de boca e bexiga. Além disso, como a mangueira é geralmente compartilhada por vários indivíduos, pode também levar a doenças infecciosas como herpes, hepatite e tuberculose.

Para mais informações acesse: http://www.labfa.com.br.

(moura.netto@bowler.com.br)