Depois do sucesso em São Paulo e no Rio de Janeiro a Feira Patchwork Design chega a Curitiba. Entre os dias 14 e 17 de junho, a Expo Renault Barigui sediará mais uma edição do evento, que reúne uma feira especializada no setor, a Contemporâneo – Exposição Internacional de Arte Têxtil, a mostra “Boneca de Pano é Gente” com trabalhos de artesãs de vários estados brasileiros e de outros países e uma ação social onde os visitantes vão confeccionar pequenas bonecas de pano com mensagens lúdicas para serem doadas para pacientes infantis internados em hospitais oncológicos.
“Contemporâneo – Exposição Internacional de Arte Têxtil”
A “Contemporâneo – Exposição Internacional de Arte Têxtil” vai apresentar 30 trabalhos (20 artistas estrangeiros e 10 artistas brasileiros). Entre os estrangeiros, destaque para as obras das artistas americanas Sidnee Snell e Ann Johnston, reconhecidas como umas das mais importantes artistas têxteis dos EUA expondo em galerias de arte de vários países. Já os brasileiros participarão reunindo uma série única com todos os trabalhos do mesmo tamanho.
Na exposição o público poderá conferir peças de arte têxtil moderno. “Os trabalhos são quase todos abstratos e apresentados em exposições galerias de arte e museus de vários países. São trabalhos contemporâneos. As pessoas nem acreditam que o que estão vendo é tecido. A técnica dá liberdade ao artista de brincar a vontade, misturando não somente as cores, mas texturas”, conta Zeca Medeiros, curador da exposição.
Há mais de 18 anos à frente da organização da Patchwork Design e da “Contemporâneo” e pioneiro na divulgação da arte têxtil no Brasil, o carioca Zeca Medeiros abriu novas frentes no exterior até 2020. Convidado pelas associações americanas CQA (Contemporary Quilt Association) e HFD (High Fiber Diet) Zeca apresentou duas palestras sobre “Curadoria de Arte Têxtil” em outubro de 2017, para uma plateia de artistas e curadores de arte das cidades de Seattle (Washington) e Portland (Oregon).
Como resultado das palestras, Zeca Medeiros foi convidado a apresentar a exposição “Contemporâneo” no Road Show AQS (American Quilt Society) nos meses de fevereiro, março e abril e no Museu Le Conner, no estado de Washington, nos meses de agosto, setembro e outubro de 2018 e em 2020 no Quilt Study Center e Museum em Linchon – Nebraska.
Feira Patchwork Design
A Feira Patchwork Design vai reunir estandes de serviços e produtos da indústria têxtil como tecidos, maquinários, revistas e livros, produtos de decoração, cama, mesa, banho, vestuário, acessórios e joias artesanais. A Segundo Zeca Medeiros a adesão de artesãos a feira cresce a cada dia e a visitação também surpreende. Nas duas edições do evento no Rio, em abril e novembro de 2017, teve um crescimento de 30% em relação ao evento de 2016. Só em 2017 a feira já recebeu mais de 11 mil visitantes, 23% a mais que em 2016.
Já em 2018 houve um crescimento de 15% no volume de negócios em relação a 2017. A expectativa, segundo a organização do evento, é de que esse valor ultrapasse os R$ 4 milhões.
– O aumento surpreendente no faturamento se deve a crise que potencializa o mercado do artesanato. O consumidor que está em busca de soluções originais e com bom preço, alimenta a cadeia produtiva com aumento nas vendas, beneficiando o artesão. O faturamento de cada expositor na feira oscila entre R$ 17 mil e R$ 60 mil, dependendo do produto oferecido, explica Zeca Medeiros.
O mercado cresceu tanto que desde 2011 a Patchwork Design passou a acontecer também em São Paulo, outro mercado em expansão. São em torno de oito mil visitantes vindos de todo os estados e em faturamento de mais de R$ 4 milhões.
“Na crise o artesanato ganha força, como fonte extra de renda ou até mesmo como fonte principal de renda de muitas famílias”, afirma Zeca.
O setor é tão promissor que há exemplos de profissionais que se deslocam de outros estados para atingir novos mercados. A gerente da Área de Economia Criativa do SEBRAE, Heliana Marinho, ressalta que nichos como feiras e eventos são ótimas oportunidades para apresentar o produto ao mercado.
“Boneca de Pano é Gente”
Uma das atrações desse ano da Patchwork Design será a exposição “Boneca de Pano é Gente – Exposição Internacional de Bonecas”. Na mostra, o público poderá conhecer 27 bonecas de vários estados brasileiros e de outros países, com destaque para a boneca “Mumbi – Deusa da Criação” da artista plástica queniana Naomi Wanjiku. Naomi é agenciada pela galeria de arte inglesa “OctoberGallery” e já apresentou obras no Brasil na exposição Contemporâneo em 2013 e no museu Afro Brasil em São Paulo em 2015.
A exposição “Boneca de Pano é Gente” é uma homenagem a “boneca/gente” Emília criada por Monteiro Lobato, personificação dessa fantasia no inconsciente coletivo do brasileiro a partir dos 40 anos, afirma Zeca Medeiros, curador da exposição. “Objeto que alimenta fantasias infantis em milhões de lares mundo afora e acompanha o homem há milênios, a boneca povoa até mesmo o inconsciente de adultos” conclui.
Entre os trabalhos apresentados na exposição “Boneca de Pano é Gente” está a boneca Frida, da artesã de Aracruz/ES, Ana Paula Cavalari. A boneca ganhou medalha de bronze na Exposição de Arte Bunkyo 2015, em São Paulo.
Quem visitar a exposição será convidado a participar de uma ação social confeccionando, em uma oficina gratuita, pequenas bonecas de pano com mensagens lúdicas e de otimismo. As bonecas serão doadas para pacientes infantis internados em hospitais oncológicos. Segundo a artesã paulista Cris Lind, coordenadora da ação, a ideia do projeto é criar uma corrente de positividade convidando os visitantes a levarem um pouco de amor e alento para as crianças e suas famílias.
Desde a Antiguidade, o fascínio pelas bonecas esteve presente em quase todas as civilizações como representação da arte, fantasia e religiosidade. Hoje a confecção de bonecas de pano é a que mais cresce no mercado de artesanato, atraindo admiradores e colecionadores de várias idades.
Na opinião de Perla Rafaelly, uma das expositoras e voluntária na organização da exposição, o mercado de bonecas de pano hoje é amplo e está em crescimento direcionado para o público adulto e infantil. Algumas pessoas fazem por hobby, terapia, para presentear ou para vender e fazer renda. Segundo a artesã, no mundo do artesanato do pano onde o tecido é a matéria prima principal, as bonecas já tomaram um espaço significativo entre 35 a 40% e vem crescendo cada vez mais. “As feiras de artesanato e as redes sociais são grandes colaboradoras para esse crescimento. Existem expositores ou artesãos que sustentam suas famílias com as vendas de bonecas, matérias e moldes para confecção das mesmas e workshops para ensinar a confecciona-las”, finaliza.
Um dos motivos que fez a confecção de bonecas de pano no Brasil deixar de ser apenas a fabricação de um brinquedo infantil e abraçar um público e um mercado maior foi a influência sofrida pela artista norueguesa Tonne Finnanger em 1999, que com 25 anos de idade criou a boneca Tilda, uma boneca totalmente de pano, cabelos de lã com uma particularidade: não possuir boca, apenas olhos pretos e bochechas rosadas. Essas características, segundo Tonne, seriam para a boneca falar com o coração. Depois vieram influências das bonecas russas que são articuladas e ficam de pé sozinhas, das bonecas Waldorf confeccionadas de forma artesanal com a utilização (inclusive no enchimento) de materiais totalmente naturais: malha e tecido de puro algodão e feltro e fios de lã pura de carneiro, das bonecas Country trazendo a cultura americana nas cores e formas, das bonecas de escultura têxtil e soft onde a boneca é modelada minuciosamente com linha e agulha recebendo formas e feições, entre outras.
“Nas feiras onde reunimos artistas de várias regiões do Brasil podemos observar muitas influências étnicas e culturais de cada região”. As bonequeiras da região Sul, por exemplo, são muito detalhistas, capricham muito no uso de acessórios, bordados, rendas, pinturas e detalhes feitos manualmente. Já as bonequeiras da região Nordeste trazem muito mais alegrias com colorido, variedade nas texturas e estampas dos tecidos, explica Perla.
Um pouco da história
“A boneca atuou como ator importante nos ritos cerimoniais da Antiguidade, já que são vastos os registros desse objeto em textos romanos, gregos e também em informações de escavações arqueológicas que encontraram bonecas, especialmente em túmulos, confeccionadas com materiais diversos. Essas bonecas, encontrados especialmente nas escavações da bacia mediterrânea, eram feitas em terracota, osso, marfim e madeira, algumas dotadas de articulações nos joelhos. Desde a Antiguidade, a boneca foi recebendo novas formas, ou seja, foi se traduzindo para ser cada vez mais manipulada pelas crianças. Câmara Cascudo (1988) aponta a boneca de pano como um dos principais documentos de informação sobre o povo brasileiro. Aportando aqui como imigrante junto aos escravos, ela atuou como elemento constitutivo da cultura lúdica infantil, especialmente para crianças desprovidas de poder aquisitivo. As mulheres a fabricavam para o uso das crianças da família, normalmente utilizando restos da produção de outros produtos, como lãs, tecidos, algodão, etc. (Fonte: trecho do estudo de mestrado das pesquisadoras Roselne Santarosa de Sousa e Maria de Fátima A. de Queiroz e Melo, ambas da Universidade Federal de São João Del Rey).
SERVIÇO:
Patchwork Design, “Contemporâneo: Exposição Internacional de Arte Têxtil”, Mostra “Boneca de Pano é Gente”, feira de produtos e serviços e ação social.
Data: de 14 a 17 de junho
Local:Expo Renault Barigui – Rua Batista Ganz, 430 – Santo Inácio
Horário: 13 às 19h
Ingresso: R$ 24,00 inteira e R$ 12,00 meia
Site: http://www.bializ.com/patchworkdesign/
ines.contexto@gmail.com