54% das pessoas que tiveram acne sentem que isso afetou sua autoconfiança, diz pesquisa britânica

A acne é uma doença inflamatória de pele que tem alta prevalência em consultórios dermatológicos e seu impacto psicossocial vem sendo estudado em trabalhos recentes. Uma nova pesquisa britânica, divulgada em junho pela Associação Britânica de Dermatologia, mostra que 54% dos adultos britânicos que já experimentaram acne sentem que ela teve um impacto negativo em sua autoconfiança e 22% acham que o problema teve um impacto negativo em suas interações sociais. “Essa pesquisa confirma que a acne pode ter um impacto profundo na autoestima, podendo até mesmo levar a problemas psicológicos como ansiedade e a depressão, principalmente quando não é tratada”, afirma a dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia. Em fevereiro, o estudo também britânico Risk of depression among patients with acne in the U.K.: a population-based cohort study, publicado no British Journal of Dermatology, chegou a uma conexão convincente: no primeiro ano após o diagnóstico com acne, os pacientes têm um risco aumentado 63% de desenvolver depressão em comparação com pacientes que não têm acne. “Nesse outro estudo, os pesquisadores analisaram registros de pacientes do Reino Unido entre os anos de 1986 e 2012”, afirma a médica. Os dados preocupam, pois o Brasil é um país tropical e, por conta disso, há uma tendência para desenvolver a patologia. “Muitas vezes geneticamente, pessoas que moram em países tropicais têm as glândulas sebáceas aumentadas de tamanho, elas são hiperplasiadas, e com isso também produzem mais sebo – o que facilita o aparecimento da acne”, acrescenta.

Outra conclusão importante da pesquisa de fevereiro e que respalda o perigo do não-tratamento é a de que o nível de risco de depressão volta ao normal à medida que a pele é tratada e limpa. “Ou seja, há uma conexão emocional entre a qualidade da sua pele e o seu bem-estar”, explica a dermatologista Dra. Claudia. O estudo ressalta ainda que as condições da pele podem ter um impacto sério na saúde mental. “Há uma ênfase de que o problema é grave, com desenvolvimento de uma verdadeira depressão clínica e não apenas um humor triste”, conta a Dra. Claudia. “Dessa forma, as pessoas afetadas pela acne que têm preocupações com sua saúde mental devem ser absolutamente levadas a sério. E, se o dermatologista observar essa necessidade, além de prescrever o tratamento completo, pode orientar a procura por um psicólogo ou psiquiatra”, explica.

Causas e tratamentos – “Quando se fala em tratamento, o primeiro passo é propor uma rotina investigativa para descobrir se há histórico familiar, se tem origem na adolescência (uma abordagem diferenciada), ou se é acne da mulher adulta (mais comum, mas o homem também pode ter), por stress, enfim, a diagnose vai ajudar a tratar”, diz a médica.

No caso dos adolescentes, o surgimento da acne está associado, quase sempre, à formação de muita queratina, que acaba obstruindo o folículo piloso. “As glândulas sebáceas, neste caso, são extremamente produtoras, há uma grande formação de ácidos graxos, o que alimenta a flora bacteriana, o Propionibacterium acnes, que é o grande responsável pela patologia quando ela é inflamatória e infecciosa”, afirma a dermatologista. Vale destacar ainda que a secreção sebácea depende da ação de hormônios androgênicos, dessa forma, é justamente na puberdade que ocorre o seu crescimento e observa-se, então, o aumento de secreção da glândula.

Contudo, independentemente da adolescência, a presença da acne pode estar relacionada ao consumo de alimentos com alto índice glicêmico, que colaboram para a hiperprodução sebácea; além disso, situações de estresse também estão relacionadas ao aparecimento da acne, uma vez pode ocorrer descarga de adrenalina na corrente sanguínea.

Erupções acneiformes também podem surgir devido ao uso de drogas (tabagismo, medicamentos, etc.), produtos cosméticos e filtro solar com veículo não adequado, calor e exposição a agentes químicos, uso de roupas sintéticas ou produtos de contato com a pele tendem a causar essas erupções. A Dra. Claudia Marçal lembra que acne em mulheres adultas é considerada hoje uma patologia à parte. “Isso porque existe a influência de pílulas, presença de miomas, ovário policístico, estresse, uso abusivo de maquiagem, cosméticos sem orientação e terapia de reposição de hormônios”, afirma.

Com relação aos tratamentos, a dermatologista explica que além do uso habitual da Isotretinoína e o uso dos probióticos, alternados com os ácidos com a vitamina C (nicotinamida e azeloglicina) e Vitamina A, é possível utilizar o Hidroxitirosol por via oral e tópica. “Trata-se de uma substância que é usada com sucesso hoje em dia, que ajuda muito no controle inflamatório da patologia”, afirma a dermatologista. A médica indica também o uso de peróxido de benzoíla à noite para ajudar a secar as espinhas e diminuir a inflamação.

Além disso, a utilização do LED de luz azul também é bem-vinda. “Esse recurso tem uma ação bacteriostática muito importante, que faz um controle cicatricial, anti-inflamatório e com melhora da pigmentação, que invariavelmente permanece, quando uma lesão perdura por mais tempo”, afirma. Outra opção para complementar esse tratamento, segundo a médica, é usar a luz infrared – que tem um potencial cicatricial, calmante e anti-inflamatório.

Quando surgem as cicatrizes, outro problema estético que mexe com a autoestima e é comum em quem teve acne por muito tempo, o microagulhamento de ouro com radiofrequência também é uma opção que propicia resultados eficazes. “O tratamento com microagulhamento não tira o paciente da rotina e é pouco doloroso. Com isso, é feito o reparo e estimulação desse colágeno que foi danificado pelo próprio processo inflamatório que destruiu o tecido de boa qualidade local”, afirma. O microagulhamento, segundo a dermatologista, é ideal para tratar casos de cicatrizes profundas ou superficiais.

Outros cuidados – “É importante a higienização, que deve ser feita regularmente, com uso de sabonetes (duas a três vezes ao dia) que tenham extratos calmantes e com ação adstringente e anti-inflamatória”. Os ativos mais indicados são: Acneol SR (que pode ser encontrado nas farmácias de manipulação), extrato de Hamamélis, o Cobre e o Zinco. A dermatologista lembra que as peles com acne precisam ser sempre hidratadas. “É importante usar hidratante e filtro solar para formar uma barreira contra os agressores, que são o calor, a luz solar infravermelha, a luz visível, as mudanças de temperatura e exposição ao ar condicionado. Tudo isso leva a uma mudança e estímulo da produção de óleo na tentativa de compensar a agressão que a pele está sofrendo”, destaca.

Além disso, a médica ressalta a importância do acompanhamento nutricional. “Eu peço que o paciente faça o controle alimentar e aumente a ingesta hídrica e reduza os índices glicêmicos dos alimentos, diminuindo o consumo de açúcar e de hidrato de carbono”, afirma.

Nos cuidados com a pele, a dermatologista indica o uso de hidratantes em sérum, ricos em água e pobres em óleo, para o efeito compensatório externo – coibindo a produção de óleo exagerado. No período noturno, é essencial a complementação do uso do sabonete com o esfoliante, que consegue remover as impurezas que, em geral, o sabonete não consegue retirar, segundo a dermatologista. “O uso da loção tônica deve conter extratos calmantes, anti-inflamatórios, higienizadores dos resíduos mais resistentes. E logo depois, então, é importante a aplicação de produtos que o próprio dermatologista recomenda. Nós usamos desde Vitamina C, em formulação de 10% a 20%, além de derivados da Azeloglicina, a Nicotinamida, de vitamina ácida, os alfa-hidroxiácidos, combinados a extratos”, finaliza.

DRA. CLAUDIA MARÇAL: É médica dermatologista, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), da American Academy Of Dermatology (AAD) e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica (SBCD). É speaker Internacional da Lumenis, maior fabricante de equipamentos médicos a laser do mundo; e palestrante da Dermatologic Aesthetic Surgery International League (DASIL). Possui especialização pela AMB e Continuing Medical Education na Harvard Medical School. É proprietária do Espaço Cariz, em Campinas – SP.

LINKS:

Pesquisa1: http://www.bad.org.uk/media/news [Over half of people who have ever had acne feel it has affected their self-confidence]

Estudo2: https://www.sciencedaily.com/releases/2018/02/180207120651.htm ou https://www.allure.com/story/how-acne-affects-mental-health-depression

paula.amoroso@holdingcomunicacoes.com.br