A história da Capoeira se iniciou no século XVI e há três linhas de pesquisa sobre sua origem: nasceu na África e foi trazida ao Brasil por africanos escravizados; é uma criação de escravos africanos em terras brasileiras; é uma criação indígena. A hipótese mais recorrente entre os historiadores é a de que foi criada no Brasil por escravos africanos.
Essa arte é uma expressão cultural que reúne aspectos de luta, dança, cultura popular, artes marciais, jogo e brincadeira. Seu jogo é executado dentro de uma roda em que dois jogadores executam uma ação sincronizada de perguntas e respostas por meio da expressão corporal.
Ao princípio, a prática da Capoeira pelos escravos nas senzalas foi proibida por ser considerada um risco para os senhores, feitores e capatazes. E foi nesse contexto em que se disfarçou de dança, para poder ser praticada com o consentimento dos “patrões”. Essa prática foi um elemento muito importante da resistência cultural e física dos escravos.
No primeiro código penal do país – Código Penal do Império do Brasil/1830 – não havia referência direta aos praticantes de Capoeira, mas a polícia os enquadrava no capítulo que tratava dos vadios e mendigos. Certo tempo depois, os capoeiras ganharam prestígio devido a sua participação na Guerra do Paraguai (1864-1870), pois seus corpos eram considerados verdadeiras armas de guerra. Após a abolição da escravidão, ficaram conhecidos no Rio de Janeiro também por serem contratados como seguranças e por formarem milícias (ou maltas), como a temida “Guarda Negra”, que protegia a monarquia, e seu envolvimento com a política, dividindo-se em republicanos e monarquistas. Libertos e sem ofício, acabavam se envolvendo em brigas e outras desordens, sempre desafiando o poder oficial. Já no início da República, a Capoeira foi nominada no Código Penal Brasileiro (Decreto nº 847/1890). A partir dessa inclusão, a polícia reprimiu seus praticantes com extrema violência, especialmente nas cidades do Rio de Janeiro, Recife e arredores. Dessa forma, a modalidade foi tipificada e elencada como uma prática criminosa – seus praticantes eram exterminados, presos e/ou deportados.
A Capoeira também era praticada por homens livres – pobres e ricos, inclusive europeus que viviam na capital do Império e, embora seus praticantes fossem vistos como criminosos, recobraram valor social por meio da vertente nacionalista, que defendia a Capoeira como ginástica brasileira e a queria transformar em esporte nacional.
A inclusão da Capoeira no projeto nacionalista como representação autêntica da brasilidade se estendeu por décadas. A partir de 1920 e 1930 esse aproveitamento ginástico da Capoeira com uma visão mais atlética a respaldou para que fosse mais conhecida e ensinada em outros espaços, como escolas, academias, clubes, quartéis, etc. Essa prática corporal resistiu por décadas e, no Governo de Getúlio Vargas (1934), alcançou o status de esporte nacional.
Atualmente, a Capoeira conta com milhares de praticantes pelo país, é tratada como atividade pedagógica dentro de escolas e como disciplina nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, ou seja, o saber popular se uniu ao saber científico.
Enfim, a Capoeira, que foi duramente perseguida e quase extinta, resistiu à repressão estatal e ao preconceito da nossa sociedade e hoje é símbolo da cultura brasileira no mundo.
Autora: Katiuscia Mello Figuerôa é professora e praticante de Capoeira desde 1997, e também professora do curso de Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.
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