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[OPINIÃO] O que estamos esperando?

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Julio Röcker Neto*

O ano que passou foi, sem dúvida, importante para a educação brasileira. A aprovação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) para os ensinos Infantil e Fundamental e a reforma do Ensino Médio talvez tenham tirado o cenário educacional do ponto de inércia. O que não significa que fechamos 2017 com motivos para comemorar. Dados do Censo Escolar mostram o quanto ainda temos para avançar até que se consigam oferecer condições mínimas de aprendizagem nas escolas de todo o país. Um dos maiores desafios continua a ser o Ensino Médio. A evasão escolar dessa etapa ultrapassa os 11%. E, para reduzir esse número, é preciso analisar com cuidado e precisão não apenas essa fase da vida escolar, mas sim toda a trajetória de aprendizado do estudante.

O levantamento nacional mostra que, em 2017, mais de um terço dos jovens entre 15 e 17 anos que frequentavam a escola estavam em situação de distorção de idade e ano escolar. A fórmula que reúne atraso, baixo desempenho e um contexto de estagnação produz péssimos resultados. Grande parte dos estudantes que concluem o 9º ano não se sente motivada a seguir para o Ensino Médio. Para reverter isso, não basta oferecer a vaga e facilitar o acesso à escola. Governo e educadores precisam enxergar a urgência de se mudar por completo o modelo de ensino e oferecer para o jovem estudante um processo de aprendizagem mais atraente e efetivo.

Para melhorar os indicadores do Ensino Médio, é preciso começar a fazer – bem – a lição de casa, muito antes da última etapa da Educação Básica. As dificuldades de aprendizado, em geral, surgem no início da trajetória escolar, principalmente na fase de alfabetização, e produzem estragos ao longo de toda a vida do estudante. A Avaliação Nacional de Alfabetização aponta que mais da metade dos alunos brasileiros entre 8 e 9 anos não está plenamente alfabetizada – o que traz repercussões graves se pensarmos que essa realidade está diretamente ligada à distorção de idade e ano e, mais tarde, à evasão escolar.

Garantir que crianças e jovens aprendam e que o façam na idade certa requer um enfrentamento do problema que ainda está longe de acontecer quando se analisam a postura de nossos governantes e a falta de prioridade com que conduzem as questões ligadas à educação. Um país em que quase metade das escolas públicas de Ensino Fundamental não possui biblioteca ou sala de leitura é um país que ainda tem um grande problema e não é de se surpreender que mais da metade de nossas crianças não esteja alfabetizada no tempo certo.

O Plano Nacional de Educação (PNE) completa 4 anos em 2018 e é outro indicativo de que essa luta está longe de ser vencida.  Das 20 metas e centenas de estratégias com previsão para serem alcançadas a curto, médio e longo prazos (mesmo sabendo que a maioria das metas teve algum encaminhamento), quase nenhum dos prazos até agora foi cumprido. Precisamos, entre outras coisas, deixar de acreditar que condições mínimas e pequenos avanços serão suficientes. É preciso oferecer ensino de qualidade para uma trajetória de aprendizagem digna. Precisamos olhar para países como Finlândia, Coreia do Sul, Hong Kong e Japão, que têm os melhores indicadores do mundo quando se trata de educação, e repensar com urgência o fato de que o Brasil ocupa a penúltima posição no ranking mundial que avalia a qualidade da educação. Se não houver um verdadeiro compromisso de mudança que coloque a educação como a prioridade maior de nosso país, continuaremos perpetuando um cenário de desigualdade de oportunidades, no qual poucos são contemplados e muitos deixados pelo caminho.

*Julio Röcker Neto é gerente editorial do sistema de ensino Aprende Brasil.

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