Recente estudo americano diz que substância usada em tratamento de hipertensão é eficaz contra acne

O tratamento da acne, orientado por dermatologistas, geralmente começa com a prescrição de cuidados tópicos diários com a pele (uso de cremes e secativos) até, em última análise, o uso oral da isotretinoína, o famoso Roacutan, em casos mais graves. Mas do início do tratamento até o uso do controverso medicamento, muitos médicos optam pela prescrição de antibióticos orais – o problema é que eles trazem uma série de riscos, podem sobrecarregar o organismo e também tornar as bactérias mais resistentes. Mas o novo estudo Frequency of Treatment Switching for Spironolactone Compared to Oral Tetracycline-Class Antibiotics for Women With Acne, publicado em junho deste ano no Journal of Drugs in Dermatology, afirma que a espironolactona, um medicamento utilizado para tratamento da hipertensão, é tão eficaz quanto os antibióticos no tratamento contra a acne em mulheres. “O medicamento diminui o nível de hormônio masculino nas mulheres, ou seja, traz uma ação antiandrogênica, ajudando a controlar os hormônios relacionados à hiperatividade das glândulas sebáceas, ajudando a combater a acne”, explica a dermatologista Dra. Thais Pepe, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Academia Americana de Dermatologia.

De acordo com a médica, o estudo analisou dados de mais de 6.600 mulheres e meninas tomando espironolactona para mais de 31.000 tomando antibióticos. “Para determinar a eficácia, os pesquisadores analisaram quantas mulheres em cada grupo haviam mudado para outro tipo de tratamento em um ano – um sinal de que o primeiro tratamento não estava funcionando. A descoberta de pouco mais de 14% dos pacientes com espironolactona fez uma troca em comparação com pouco mais de 13% dos pacientes tratados com antibióticos contra acne”, diz a dermatologista.

Embora não haja dados precisos no Brasil sobre a prescrição de antibióticos, pelo menos nos Estados Unidos, os dermatologistas compõem menos de 1% dos médicos do país, mas prescrevem 5% de todos os antibióticos orais. O problema dessa alta taxa é a resistência antimicrobiana, com o uso duradouro dos antibióticos.

A espironolactona deve ser utilizada apenas em casos de acne da mulher adulta, segundo a médica. A substância pode ser menos arriscada ao longo do tempo, embora não seja isenta de efeitos colaterais. “Geralmente, as mulheres saudáveis tendem a tolerar bem a espironolactona segundo estudos, mas a substância tem vários efeitos colaterais em potencial, incluindo fadiga, incontinência urinária, períodos irregulares e sensibilidade mamária”, diz ela. Em casos raros, também pode causar dores musculares, batimentos cardíacos irregulares e confusão, acrescenta. “Ao identificar alternativas ao uso de antibióticos para o tratamento da acne, podemos ajudar a minimizar os potenciais efeitos adversos [da resistência aos antibióticos]”, diz a Dra. Thais Pepe. Enquanto isso, certifique-se de sempre conversar com seu médico sobre os riscos de longo e curto prazo de qualquer medicamento que eles estejam prescrevendo como um tratamento para acne.

Dra. Thais Pepe: Dermatologista especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia, membro da Sociedade de Cirurgia Dermatológica e da Academia Americana de Dermatologia. Diretora técnica da clínica Thais Pepe, tem publicações em revistas científicas e livros, além de ser palestrante nos principais Congressos de Dermatologia.

maria.claudia@holdingcomunicacoes.com.br