Início + Mais Gente Seu Antônio, o barbeiro de gerações de curitibanos, vai se aposentar no...

Seu Antônio, o barbeiro de gerações de curitibanos, vai se aposentar no fim do mês

Seu Antônio, o barbeiro de gerações de curitibanos, vai se aposentar no fim do mês
O barbeiro Antonio Chiguenobu Yochida, de 82 anos está se aposentando, depois de muitos anos trabalhando no Mercado Municipal.Curitiba, 22/08/2018 – Foto: Cesar Brustolin/SMCS

O tradicional salão do senhor Antônio, no Mercado Municipal, tem data para fechar as portas: nesta sexta-feira (31/8). Curiosamente, um dia antes do simpático barbeiro e cabeleireiro completar 58 anos de atividades no tradicional espaço da Prefeitura.

Trabalhando desde o dia 1.º de setembro de 1960 no local, Chiguenobu Yochida, seu nome de batismo, sente nas pernas o peso dos 82 anos e também o agravamento de um problema vascular por passar horas em pé durante décadas. “Querer eu não queria, mas tenho que me aposentar”, reconhece ele, que ouve com dificuldade, mesmo com a ajuda de dois aparelhos auditivos.

Com a decisão de Antônio de se aposentar, gerações de clientes fieis já começaram a se despedir do simpático senhor que, desde 1964, ocupa o mesmo espaço no Mercado Municipal. “Corto com seu Antônio há mais de 20 anos. Ninguém tem a mão tão firme como a dele, que faz um acabamento perfeito, graças a sua coleção de navalhas”, afirma o empresário Paulo Brunel, que mensalmente bate ponto no Box 375, localizado logo depois da entrada da Avenida Sete de Setembro.

Com apenas 16 metros quadrados, o salão do senhor Antônio tem um mobiliário que dá a impressão de que o espaço parou no tempo. As duas cadeiras usadas no local têm entre 65 e 80 anos, sem falar em outras relíquias, como um porta-chapéus com espelho, exemplares da revista O Cruzeiro, navalhas de mais de 50 anos e até uma tesoura japonesa herdada do pai, que também era barbeiro e cabeleireiro, com mais de 100 anos.

“Meu pai usou esta tesoura quando trabalhava em um salão em Tóquio e você acredita que ela nunca precisou ser afiada?”, conta com orgulho o profissional, esboçando seu característico sorriso tímido que vai fazer falta aos clientes.

LEIA TAMBÉM

Um dos personagens mais queridos do Mercado Municipal, seu Antônio hoje trabalha sozinho, das 8 às 18 horas, de segunda a sábado. De acordo com ele, o movimento costumava ser maior entre os anos 1960 e 1970, quando o espaço da Prefeitura também era o centro de abastecimento de atacado (hoje concentrado na Ceasa).

“Naquela época, o Mercado abria às 3 horas da manhã, quando eu começa a trabalhar, e funcionava de domingo a domingo. Depois vieram todas as reformas e ampliações que transformaram o mercado no que é hoje”, recorda ele.

Chegada em Curitiba

Nascido na cidade de Lins, no interior de São Paulo, seu Antônio cruzou a divisa com o Norte do Paraná no início dos anos 1950, mudando-se inicialmente para Wenceslau Brás. Mas a estada foi muito curta e, logo em seguida, ele veio para a então desconhecida Curitiba, onde resolveu trabalhar com o ofício ensinado pelo pai.

“Cheguei a Curitiba, no mesmo ano em que começou a construção do Mercado Municipal (1956). Logo me falaram que a Prefeitura estava erguendo um mercado no meio do mato, em um banhado”, lembra ele, um dos veteranos do espaço da Prefeitura, inaugurado em 2 de agosto de 1958.

O apelido Antônio foi escolhido na adolescência. “Poucos sabiam pronunciar meu nome em japonês e, por isso, acabei adotando Antônio”, revela.

Fregueses ilustres

Pelas suas navalhas e tesouras já passaram fregueses ilustres, como os ex-governadores Ney Braga e Bento Munhoz da Rocha. “Sou do tempo em que ainda se falava ‘vim fazer cabelo, barba e bigode’ e o mais engraçado é que agora a moda voltou, mas entre os jovens”, conta ele, que tem fregueses de todas as idades.

Cliente há um ano de seu Antônio, o médico Airton Yamada, 54 anos, ainda não sabe com quem irá cortar o cabelo, após a aposentadoria do barbeiro e cabeleireiro. “Não é qualquer profissional que sabe cortar cabelo de japonês, que é muito duro. Qualquer erro e surgem aqueles caminhos de rato. O que vou fazer?”, afirma ele.

A resposta foi dada pelo próprio seu Antônio. “Vou atender em casa, mas com hora marcada. Se algum cliente quiser ir, é só pegar o meu cartão”, avisa ele, que no fim da próxima semana começa a transferir o mobiliário do salão para sua residência na Vila Fanny.

Já o Box 375 vai se transformar em uma casa de chá.

smcs

Sair da versão mobile