Hoje em dia é cada vez mais fácil enxergar o impacto das mídias sociais na percepção que o paciente tem da sua própria imagem. Na era das selfies, estar nas redes sociais basicamente força pacientes de todas as idades a manter uma atenção microscópica com a sua aparência, elevando a autocrítica a níveis extremos, o que leva a um aumento considerável do número de procedimentos estéticos realizados todos os anos. “Segundo estatística anual da American Society of Plastic Surgeons, em 2017 houve 17.5 milhões de procedimentos estéticos cirúrgicos e não invasivos, um aumento de 2% em relação a 2016. Desse número, 1.8 milhões foram procedimentos cirúrgicos e 15.7 milhões foram procedimentos não invasivos – um aumento de mais de 200% desde o ano 2000. Entre os procedimentos mais realizados estão: a toxina botulínica (7.23 milhões) e preenchedores (2.7 milhões)”, destaca o Dr. Jardis Volpe, dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
E, segundo o especialista, o Brasil desponta como um dos principais mercados nesse universo da beleza. “Os brasileiros estão entre os povos mais vaidosos do mundo, sendo que, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Gallup, 61% da nossa população considera a aparência física como o fator mais importante para o sucesso. O Brasil é o segundo maior mercado em procedimentos estéticos no mundo atrás apenas dos EUA. De acordo com o Censo da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, em 2016 houve aumento de 390% em procedimentos estéticos não cirúrgicos em comparação com 2014”, completa.
Este quadro fica ainda pior entre jovens de 20 a 30 anos, que estão cada vez mais “escravos da aparência” e buscam, mais cedo do que deveriam, técnicas de preenchimento e aplicação de toxina botulínica para prevenir sinais de envelhecimento como rugas, que ainda estão longe de aparecer. “Para estes jovens há uma necessidade de parecer sempre jovem, o que dá a impressão de que a aparência é sempre mais importante para eles, já que o julgamento perfeccionista chega bem antes que os efeitos da idade”, explica o dermatologista. E esse comportamento está presente em quase todas as classes sociais, pois, no Brasil, até mesmo populações de baixo poder socioeconômico gastam uma parcela significativa da renda mensal com produtos e serviços de beleza, chegando a investir mais com beleza do que com educação, segundo a Fecomércio de SP. Com gastos que chegam a 20,3 bilhões ao ano, a classe C é uma das que mais gasta, chegando a comprometer 30% da renda com salões de beleza, clínicas de estética e serviços relacionados.
Neste cenário surgem os exageros como lábios demasiadamente grandes e irreais, bochechas extremamente volumizadas e expressões congeladas por uso errado da toxina botulínica. De acordo com o Dr. Jardis, existem dois motivos para este exagero. O primeiro é o próprio paciente que sofre com a dismorfofobia, um distúrbio de imagem corporal que atinge cerca de 2¨% da população geral e 20% dos pacientes de clinicas dermatológicas. “Na dismorfofobia, ou Transtorno Dismórfico Corporal, o paciente preocupa-se excessivamente com defeitos mínimos na aparência. É comum ainda observar casos extremos de pessoas jovens que querem melhorar um defeito que não existe. O problema é que elas não aceitam limites. Então acabam indo de lugar a lugar até que algum profissional faça o que elas desejam, o que acaba gerando a artificialidade e o exagero”, afirma.
O outro motivo do excesso no resultado é por conta da formação técnica. No Brasil, o mercado de estética é multiprofissional, o que, segundo o especialista, é bom, mas os profissionais não possuem um papel muito bem definido. Sendo assim, biomédicos, dentistas e profissionais não-médicos podem fazer aplicação de toxina botulínica, mesmo não tendo a mesma formação de um médico dermatologista ou cirurgião plástico. “Não quer dizer que eles vão produzir as artificialidades, mas se queremos que o paciente esteja resguardado, é necessário que a formação seja adequada. Um dos casos mais comuns de erros e exageros são de pessoas que foram fazer preenchimentos de olheiras e acabaram ficando com um edema, inchaço persistente nessa área, ou que ao volumizar a boca, ficaram com lábios extremamente desproporcionais”, alerta o médico. “É importante ressaltar que na área de Estética, Dermatologia, Cirurgia Plástica e Beleza, não vale só a técnica, mas também a questão da arte. É fundamental para o profissional estudar as proporções, simetrias e padrões de beleza e fazer cursos de história da arte e desenho, por exemplo.”
Apesar de tudo isso, hoje existe uma demanda muito importante de pacientes pedindo um resultado mais natural, chamado de positive aging (envelhecimento positivo). São pessoas que querem ser cuidadas por longos períodos por um dermatologista e fazem tratamentos preventivos, o que gera menos artificialidade, porque as intervenções são mais suaves ao longo do tempo. Além disso, procedimentos mais modernos ajudam a manter a naturalidade. “Por exemplo, ao invés de volumizar, nós podemos sustentar a face com bioestimuladores ou até mesmo com um tipo de ácido hialurônico para aplicar na parte óssea para fazer uma elevação e uma sustentação sem volumização. Os lasers também evoluíram muito nos últimos dez anos, sendo que alguns procedimentos a laser não deixam marca nenhuma e não exigem tempo de recuperação, apesar de serem feitos em mais sessões. E esse tipo de compromisso no cuidado com a pele também é benéfico, pois traz um acompanhamento médico constante que será importante para a saúde da pele do paciente”, finaliza o Dr. Jardis Volpe.
Fonte: Dr. Jardis Volpe, dermatologista; Diretor Clínico da Clínica Volpe (São Paulo). Formado pela Universidade de São Paulo (USP); Especialista em Dermatologia pela Sociedade Brasileira de Dermatologia; Membro da Sociedade Americana de Laser, da SBD e da Academia Americana de Dermatologia; Pós-graduação em Dermatocosmiatria pela FMABC; Atualização em Laser pela Harvard Medical School. www.clinicavolpe.com.br
redacao@holdingcomunicacoes.com.br