Atingindo cerca de 90% dos adolescentes e metade da população adulta, a acne é um dos problemas de pele mais comuns, sendo causada por diversos fatores, como herança genética, alterações hormonais ou até mesmo pelo excesso de gordura nos alimentos. O fato de os cientistas não saberem qual a causa exata da acne é o motivo de ainda não existir uma cura definitiva para o problema, já que, apesar de poder ser tratada e curada, a acne exige cuidados constantes para evitar o risco de remissão. Mas, com o avanço da tecnologia e das pesquisas, novas maneiras de encarar o problema estão surgindo. Por exemplo, um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia, em San Diego, está trabalhando em uma vacina capaz de erradicar de vez a acne.
Porém, segundo a dermatologista Dra. Valéria Marcondes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da American Academy of Dermatology (AAD), criar uma vacina para a acne não é tão simples quanto parece. “O problema é que a acne é causada, em partes, pelas bactérias P. acnes, microrganismos que fazem parte da microbiota da nossa pele e estão conosco durante toda nossa vida. Dessa forma, não é possível criar uma vacina para esta bactéria, pois, apesar de alguns grupos de microrganismos promoverem a inflamação, eliminá-la completamente não tratará a acne e ainda poderá interferir no microbioma saudável do nosso corpo. Além disso, existem mais de 100 subtipos deste microrganismo, o que torna ainda mais difícil atingir apenas os causadores da acne”, explica. A solução dos pesquisadores para o problema foi então criar uma vacina capaz de atingir apenas o mensageiro inflamatório que estas bactérias produzem e não a bactéria em si. Para isso, o grupo encontrou um anticorpo que combate a proteína tóxica que as P. acnes secretam na pele e que está associada a inflamação que leva à acne.
Em resultados publicados recentemente no Journal of Investigative Dermatology, a equipe de pesquisadores divulgou os resultados de seus primeiros estudos sobre a vacina, que até agora foi testada em camundongos e em células da pele de pacientes com acne. “Os ratos, que foram usados para testar a eficácia da vacina como prevenção para acne, tiveram um antígeno injetado em seu organismo capaz de atacar a P. acnes e acabaram produzindo anticorpos contra as bactérias causadoras da acne. Já no teste com as células da pele de pacientes que sofrem com o problema, que foram usadas para testar a eficácia da vacina como cura para pacientes que já tem acne, os cientistas observaram redução acentuada na inflamação presente nas amostras”, afirma a dermatologista.
Agora os pesquisadores estão se preparando para um ensaio clínico da vacina em seres humanos e estão esperançosos que a terapia seja bem-sucedida. “Embora os resultados sejam promissores, ainda estamos longe de ver uma vacina contra a acne chegar no mercado. Além disso, espera-se que nas próximas pesquisas não sejam realizados testes em animais, pois até que resultados positivos sejam vistos em humanos, o destino desse tratamento continuará desconhecido”, diz a Dra. Valéria Marcondes.
Causas e tratamentos – “Quando se fala em tratamento, o primeiro passo é propor uma rotina investigativa para descobrir se há histórico familiar, se tem origem na adolescência (uma abordagem diferenciada), ou se é acne da mulher adulta (mais comum, mas o homem também pode ter), por stress, enfim, a diagnose vai ajudar a tratar”, diz a médica.
No caso dos adolescentes, o surgimento da acne está associado, quase sempre, à formação de muita queratina, que acaba obstruindo o folículo piloso. “As glândulas sebáceas, neste caso, são extremamente produtoras, há uma grande formação de ácidos graxos, o que alimenta a flora bacteriana, o Propionibacterium acnes, que é o grande responsável pela patologia quando ela é inflamatória e infecciosa”, afirma a dermatologista. Vale destacar ainda que a secreção sebácea depende da ação de hormônios androgênicos, dessa forma, é justamente na puberdade que ocorre o seu crescimento e observa-se, então, o aumento de secreção da glândula.
Contudo, independentemente da adolescência, a presença da acne pode estar relacionada ao consumo de alimentos com alto índice glicêmico, que colaboram para a hiperprodução sebácea; além disso, situações de estresse também estão relacionadas ao aparecimento da acne, uma vez pode ocorrer descarga de adrenalina na corrente sanguínea.
Erupções acneiformes também podem surgir devido ao uso de drogas (tabagismo, medicamentos, etc.), produtos cosméticos e filtro solar com veículo não adequado, calor e exposição a agentes químicos, uso de roupas sintéticas ou produtos de contato com a pele tendem a causar essas erupções. A Dra. Valéria lembra que acne em mulheres adultas é considerada hoje uma patologia à parte. “Isso porque existe a influência de pílulas, presença de miomas, ovário policístico, estresse, uso abusivo de maquiagem, cosméticos sem orientação e terapia de reposição de hormônios”, afirma.
Com relação aos tratamentos, a dermatologista explica que além do uso habitual da Isotretinoína e o uso dos probióticos, alternados com os ácidos com a vitamina C (nicotinamida e azeloglicina) e Vitamina A, é possível utilizar o Hidroxitirosol por via oral e tópica e peróxido de benzoíla. “Trata-se de uma substância que é usada com sucesso hoje em dia, que ajuda muito no controle inflamatório da patologia”, afirma a dermatologista. Além disso, a utilização do LED de luz azul também é bem-vinda. “Esse recurso tem uma ação bacteriostática muito importante, que faz um controle cicatricial, anti-inflamatório e com melhora da pigmentação, que invariavelmente permanece, quando uma lesão perdura por mais tempo. Outra opção para complementar esse tratamento é usar a luz infrared, que tem um potencial cicatricial, calmante e anti-inflamatório”, afirma. É possível ainda utilizar a técnica de Drug Delivery, onde microagulhas perfuram a pele e substâncias antibacterianas e antiacne são aplicadas por estes canais de entrada abertos pelas agulhas, assim sendo depositadas nas camadas mais profundas da pele.
Quando surgem as cicatrizes, outro problema estético que mexe com a autoestima e é comum em quem teve acne por muito tempo, o microagulhamento de ouro é uma opção que propicia resultados eficazes. “O tratamento com microagulhamento não tira o paciente da rotina e é pouco doloroso. Com isso, é feito o reparo e estimulação desse colágeno que foi danificado pelo próprio processo inflamatório que destruiu o tecido de boa qualidade local”, afirma. O microagulhamento, segundo a dermatologista, é ideal para tratar casos de cicatrizes profundas ou superficiais.
Fonte: Dra. Valéria Marcondes – Dermatologista da Clínica de Dermatologia Valéria Marcondes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia com título de especialista e da Academia Americana de Dermatologia. Foi fundadora e é membro da Sociedade de Laser. www.valeriamarcondes.com.br
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