[Opinião] O ensino a distância é a melhor opção para a educação no Brasil?

Por Rabino Samy Pinto

Como melhorar o nível educacional no Brasil? Essa é uma questão que deve chamar a atenção da pauta nacional nos próximos quatro anos. O programa sugerido pelo presidente eleito Jair Messias Bolsonaro deve voltar seus olhos para a educação no país, já que o último índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) divulgado mostrou que o ensino fundamental e o médio não atingiram as metas previstas nos anos finais. Como educador e diretor por muitos anos de escola, mesmo que particular, tenho total interesse em avaliar qual caminho se está tomando.

Dos programas propostos pelo presidente eleito, temos assistidos e lido vários artigos, críticas e discussões sobre a educação a distância. A verdade é que o ser humano vem estudando nesse formato faz tempo. Na história vemos que no século XVIII se estudava por correspondência, a literatura rabínica se fez dessa forma, até mesmo depois da ocupação romana em Israel, século II, os rabinos já ensinavam por meio de manuscritos que eram enviados a seus discípulos.

Importante dizer que a entrada da tecnologia na educação tem uma questão filosófica. O termo “escola”, tanto no latim, quanto no grego, traz a ideia de conferência e de descanso. As pessoas paravam seus trabalhos para descansar e participar dessas conferências, o que nos mostra que, na sociedade grega passada, a busca por conhecimento era um prazer, diferente do que temos na memória da escola do século XX, que era um tormento para os alunos. A filosofia antiga já dizia que “não estudamos para a vida e sim para a escola”, quem não se lembra de uma fila enorme para falar com o professor de matemática, todo mundo tinha medo e ninguém gostava da disciplina, mas estudava simplesmente para fazer a prova.

Claro que isso mostra que o assunto é bastante complicado, mas devemos olhar bem para o que está em pauta. Algumas boas razões são levantadas para defender esse caminho nos dias de hoje.

Quais os benefícios que o Ensino a Distância pode trazer para o Brasil?

A primeira questão é sobre as dificuldades orçamentárias. Nesse ponto, a tecnologia de fato substitui cada vez mais o custo do capital humano em todos os setores, e na educação essa medida não seria diferente. Na área educacional temos problemas com custos e investir em ferramentas tecnológicas para o chamado Ensino a Distância (EAD) seria um agente para resolver esse item problemático.

Outra razão para o EAD é combater ideologias dos professores, assunto bastante discutido com a questão da Escola Sem Partido, e a tecnologia tornaria imparcial o conteúdo das aulas. A última questão levantada para defender essa ideia é uma alternativa concreta para a educação em áreas rurais e a dificuldade de deslocamento de grandes distâncias de povoados e aldeias. Um bom programa de EAD garantiria a resolução deste problema.

Então, no plano do futuro governo, esses três itens soam razoáveis para justificar o projeto. Ainda poderíamos incluir o avanço do mundo tecnológico como outro fator para reforçar este caminho. A tecnologia já alcança diversas áreas como a saúde, o lazer, o financeiro, entre tantas outras, então por que não a trazer para a educação? Claro que saber como introduzir de forma adequada e responsável no campo educacional é uma outra questão a se considerar e que deve tomar o devido cuidado, mas isso, certamente vai preparar a criança para a realidade.

Além disso, as escolas públicas do Brasil têm um alto índice de falta dos professores. Estudos mostram que a média de ausência são de 30 dias por ano. Isso acarreta em um descompromisso com a responsabilidade social de ensino, afeta a organização escolar e incentiva a indisciplina em sala. Então, poderíamos dizer que a educação a distância recuperaria a produtividade e o aprendizado.

Quais problemas dessa proposta de ensino também devem ser avaliados?

Não se pode ignorar os problemas que envolvem esse projeto, mesmo sendo a favor. O primeiro ponto que se deve destacar é a maturidade de uma criança de 6 anos em frente a um computador. Para os alunos por volta dessa idade produzirem de forma correta será necessário a presença dos pais supervisionando eles. De qualquer forma a presença de um adulto é indispensável para alcançar o sucesso do programa.

Outra problemática dessa metodologia de ensino a distância é que a criança perde um dos aspectos mais importantes da escola: aprender em conjunto. Para muitos teóricos da educação e psicologia o verdadeiro aprendizado é aquele feito em grupo. É muito mais eficaz aprender com outros alunos do que aprender sozinho. Além disso, apesar das instituições de ensino terem sido um tormento nos séculos XIX e XX, elas foram muito prazerosas como espaço de convivência social. Todos sentem falta de alguns amigos, das turmas, das bagunças e dos passeios, e no EAD isso se perderia ou diminuiria sensivelmente, e deixaria uma lacuna muito grande na construção dessa pessoa.

O ensino presencial tem outro ponto positivo, já que muito mais que apenas informação existe a questão da formação. A construção de valores, ética e moral se dá muito pelo modelo do professor, que acaba se perdendo na educação a distância.

O que se deve fazer para aproveitar os benefícios das duas metodologias e ainda cobrir o déficit que o ensino tem sofrido?

Criar uma proposta híbrida é um caminho a se pensar. Uma analogia feita por Marcelo Tas se encaixa muito bem para exemplificar essa situação. O namoro é presencial ou a distância? Ele é hibrido. Você fala com seu companheiro por telefone, marca um encontro pelo WhatsApp, mas eles estão morrendo de saudade de se encontrar presencialmente.

Uma proposta que inclua a educação a distância e presencial talvez resolvesse as questões das faltas dos professores, da diversidade, retire a ideia de tormenta e traga uma pouco de prazer e lazer para os estudantes. Assim, a escola busca sua própria reforma e não deixa de se aprimorar, para que o saber seja realmente saboroso para todos os alunos que vão para a escola.

Sobre Rabino Samy Pinto

O Rabino Samy Pinto é formado em Ciências Econômicas, se especializou em educação em Israel, na Universidade Bar-llan, mas foi no Brasil que concluiu seu mestrado e doutorado em Letras e Filosofia, pela Universidade de São Paulo (USP). Foi diretor do Colégio Iavne, por 22 anos. O Rav. Samy Pinto ainda é diplomado Rabino pelo Rabinato chefe de Israel, em Jerusalém, e hoje é o responsável pela sinagoga Ohel Yaacov, situada no Jardins também conhecida como sinagoga da Abolição.