Proteção a macacos é essencial no monitoramento da Febre Amarela, alertam médicos-veterinários

Proteção a macacos é essencial no monitoramento da Febre Amarela, alertam médicos-veterináriosNas últimas décadas, registros de Febre Amarela além dos limites da Região Amazônica têm preocupado profissionais da saúde. A doença possui um padrão sazonal, tendo como período de maior transmissão de dezembro a março, época do ano em que mais chove. O maior volume de água facilita a propagação dos mosquitos que transmitem a doença.

De acordo com o balanço epidemiológico apresentado pelo Governo de São Paulo, até o dia 23 de outubro, foram registrados 502 casos nativos de Febre Amarela silvestre confirmados no Estado. Ao todo, 175 deles evoluíram para mortes.

Apesar dos esforços concentrados para a saúde humana, a falta de informação à população tem sido um desafio no combate à Febre Amarela, principalmente no que se refere às agressões às populações de macacos, principais vítimas do vírus no ciclo silvestre da doença nos corredores florestais que saem da Amazônia e chegam, pelos recortes de Mata Atlântica, às regiões Sudeste e Sul do País.

O Governo de São Paulo anunciou que, neste ano, 257 macacos tiveram confirmação da doença. A Grande São Paulo registrou metade dessas notificações. Entre os casos, dois deles envolvem animais da Baixada Santista, e 33 foram registrados nas regiões do Vale do Paraíba e no litoral norte.

Médicos-veterinários têm papel fundamental no processo de conscientização, tanto sobre as formas de transmissão da doença quanto na relação do homem com os macacos. A médica-veterinária Claudia Igayara de Souza, integrante da Comissão de Médicos-Veterinários de Animais Selvagens do Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV-SP), reforça a importância dos profissionais: “Os médicos-veterinários são encarregados de investigar as epizootias, coletar amostras de macacos para diagnóstico e colaborar na implementação das medidas de controle.”

Para evitar que os macacos sejam vistos como vilões é necessário ampliar o alcance de informações essenciais. Para tanto, é preciso mostrar que os primatas, na verdade, além de vítimas da doença, são sentinelas que contribuem para a identificação antecipada de potenciais riscos à saúde humana.

“O macaco é o principal indicador de que a doença está circulando no local. É graças aos diagnósticos em primatas que conseguimos impedir que aconteça a morte de pessoas”, explica Marcello Nardi, médico-veterinário da Divisão Técnica de Medicina Veterinária e Manejo da Fauna Silvestre da Prefeitura do Município de São Paulo e presidente da Comissão de Médicos-Veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP.

 

Vacine-se também contra a desinformação

Matar ou agredir as populações de macacos, além de crime ambiental, é eliminar uma proteção natural. Eles são sentinelas importantes no monitoramento dos avanços da doença. Portanto, cuidar da saúde dos Primatas Não Humanos é um importante passo no controle à doença. Saber como agir diante de um animal contaminado também se torna uma medida essencial.

Apenas os primatas são suscetíveis à Febre Amarela e há diferença na manifestação da doença entre as espécies. O macaco bugio é uma das principais vítimas da Febre Amarela, como explica Claudia Igayara. No cuidado com os primatas, ela é uma profissional experiente, atuando no Zoológico Municipal de Guarulhos desde 1997. “Os bugios são os mais sensíveis, e costumam apresentar altas taxas de letalidade. Já os saguis são bem mais resistentes, e podem apresentar sintomas inespecíficos, brandos, com baixa letalidade”.

É preciso, portanto, saber identificar um animal com os sintomas da doença. A maioria deles quando doentes, apresenta comportamento lento, costuma descer das árvores, fica perambulando pelo chão e tem dificuldade de se alimentar.

“Ao encontrar macacos doentes ou mortos o órgão local de saúde deve ser notificado para que sejam acionados os procedimentos de investigação, a população não deve mexer no animal, nem enterrar a carcaça”, orienta a médica-veterinária.

Nesses casos, o presidente da Comissão de Médicos-veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP, Marcello Nardi, reforça que entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde, ou Centro de Controle de Zoonoses, é fundamental no combate à doença.

 

Desafios silvestres e urbanos

No perímetro urbano, as ações de vacinação e de cuidados básicos para impedir a proliferação de mosquitos têm se mostrado eficientes. Já em áreas de florestas, a ação ainda é limitada, mas pode e deve ser feita.

Nardi já atuou na vigilância ativa, com ações de captura de macacos, identificando animais doentes, junto a equipes da Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. “Combater o mosquito vetor da Febre Amarela na mata é um desafio maior. A proliferação do Aedes aegypti depende da vigilância da ação dos humanos, impedindo locais de foco de reprodução, como a água parada. Na mata, não podemos usar qualquer medida que desequilibre o meio ambiente”, explica.

Se na mata só é possível promover ações de vigilância e precaução, nos zoológicos, em períodos de surto da doença, os cuidados devem ser redobrados. “Nos zoológicos, são instituídos procedimentos de quarentena para animais recebidos, avaliação necroscópica de animais mortos, coleta e encaminhamento de amostras para diagnóstico e proteção dos primatas residentes por meio de telas mosquiteiro nos recintos”, afirma Cláudia.

A médica-veterinária lembra que, por estarem tão próximos dos animais que são peças-chave para o controle e prevenção da Febre Amarela, diversos médicos-veterinários estão envolvidos em pesquisas sobre a doença nas diferentes espécies e, inclusive, na busca por uma vacina para os macacos.

O presidente da Comissão de Médicos-Veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP é otimista em relação a essas pesquisas. O advento de uma vacina para os primatas reforçaria o combate à proliferação do vírus da Febre Amarela. “Laboratórios de referência estão tentando criar uma vacina para os macacos. A vacinação de humanos, quando foi testada em animais, acabou matando os primatas. É preciso aprofundar esses estudos para que em breve tenhamos a resposta de uma vacina no mercado em um futuro não muito distante”, projeta Nardi.

 

Histórico

A Febre Amarela silvestre é transmitida por mosquitos (Haemagogus e o Sabethes) que vivem nas matas e na beira dos rios, e o controle da doença neste ciclo continua desafiando profissionais. O ciclo urbano da doença não existe no Brasil desde 1942 e acontece quando a transmissão se dá por meio de um mosquito urbano, o Aedes Aegypti, exatamente como acontece com a Dengue, o Zika e a Chikungunya.

O primeiro caso de Febre Amarela registrado no período entre 2017 e 2018 foi em outubro do ano passado. Na ocasião, um óbito humano foi confirmado no Estado de São Paulo, com local provável de infecção no município de Caraguatatuba, onde epizootias em Primatas Não Humanos (PNH) haviam sido detectadas meses antes da ocorrência do caso.

“As epizootias são a ocorrência de um grande número de casos de determinada doença em animais, em um curto espaço de tempo, que pode ser ou não acompanhada de mortalidade”, explica a médica-veterinária que integra a Comissão de Médicos-Veterinários de Animais Selvagens do CRMV-SP.

Cães e gatos, por exemplo, não são afetados pela doença. A Febre Amarela é transmitida, única e exclusivamente, por meio da picada do mosquito vetor e a vacinação no homem é a melhor forma de prevenção.

 

Sobre o CRMV-SP

O CRMV-SP tem como missão promover a Medicina Veterinária e a Zootecnia, por meio da orientação, normatização e fiscalização do exercício profissional em prol da saúde pública, animal e ambiental, zelando pela ética. É o órgão de fiscalização do exercício profissional dos médicos-veterinários e zootecnistas do Estado de São Paulo, com mais de 35 mil profissionais ativos. Além disso, assessora os governos da União, Estados e Municípios nos assuntos relacionados com as profissões por ele representadas.

 

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