Cirurgia pode ser uma opção para reduzir crises de epilepsia

Cirurgia pode ser uma opção para reduzir crises de epilepsia
(Imagem Pixabay)


Dr. Silvio Machado*

Historicamente, a epilepsia traz uma bagagem de preconceitos e estigmas que envolvem questões sociais e psicológicas que vão além da medicina. Por isso, é preciso desmitificar essa doença que atinge mais de 50 milhões de pessoas no mundo, e cerca de três milhões de brasileiros, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

A epilepsia é uma doença neurológica caracterizada por descargas elétricas anormais e excessivas no cérebro que são recorrentes e geram as crises, as quais podem se manifestar com alterações da consciência ou eventos motores, sensoriais, autonômicos (por exemplo: suor excessivo, queda de pressão) ou psíquicos involuntários percebidos pelo paciente ou por outra pessoa.

Muitas vezes, a causa é desconhecida, mas pode ter origem em ferimentos (recentes ou não) sofridos na cabeça. Traumas na hora do parto, abuso de álcool e drogas, tumores e outras doenças neurológicas também facilitam o aparecimento do problema.

Diagnóstico

Exames como eletroencefalograma (EEG) e neuroimagem são ferramentas que auxiliam no diagnóstico. O histórico clínico do paciente, porém, é muito importante, já que exames normais não excluem a possibilidade do indivíduo ser epiléptico. Se o paciente não se lembra das crises, a pessoa que as presencia torna-se uma testemunha útil na investigação do tipo de epilepsia em questão e, consequentemente, na busca do tratamento adequado.

Em crises de ausência, a pessoa apenas apresenta-se “desligada” por alguns instantes, podendo retomar o que estava fazendo em seguida. Em crises parciais simples, o paciente experimenta sensações estranhas, como distorções de percepção ou movimentos descontrolados de uma parte do corpo. Pode sentir um medo repentino, um desconforto no estômago, ver ou ouvir de maneira diferente. Se, além disso, perder a consciência, a crise será chamada de parcial complexa. Depois do episódio, enquanto se recupera, a pessoa pode sentir-se confusa e ter déficit de memória. Tranquilize-a e leve-a para casa se achar necessário. Em crises tônico-clônicas, o paciente primeiro perde a consciência e cai, ficando com o corpo rígido; depois, as extremidades do corpo tremem e contraem-se. Existem, ainda, vários outros tipos de crises. Quando elas duram mais de 30 minutos sem que a pessoa recupere a consciência, são perigosas, podendo prejudicar as funções cerebrais.

As crises podem se manifestar várias vezes ao dia, em certos casos de 30 ou mais, até episódios  esporádicos, como de uma a duas ao ano . 

Cerca de 1% da população mundial (65 milhões de pessoas) tem epilepsia. Aproximadamente 80% dos casos ocorre em países em desenvolvimento. A ocorrência de epilepsia torna-se mais comum à medida que a idade avança. Em países desenvolvidos, a ocorrência de novos casos é mais frequente em crianças e idosos, enquanto que em países em vias de desenvolvimento é mais comum em crianças mais velhas e jovens adultos. Entre 5 e 10% de todas as pessoas terão uma ocorrência sem causa definida até aos 80 anos de idade, sendo a probabilidade de sofrer uma segunda crise entre 40 e 50%. Em diversas partes do mundo, é restrita ou vedada a autorização de condução a pessoas com epilepsia, embora muitas possam voltar a conduzir após determinado período sem crises.

As condições genéticas, congênitas e de desenvolvimento são na sua maioria associados a ela entre os pacientes mais jovens, tumores cerebrais são mais prováveis de ocorrer em pessoas com mais de 40 anos, traumatismo craniano e infecções do sistema nervoso central, pode ocorrer em qualquer idade.

Em geral, se a pessoa passa anos sem ter crises e sem medicação, pode ser considerada curada. O principal, entretanto, é procurar auxílio o quanto antes, a fim de receber o tratamento adequado. Os medicamentos antiepilépticos são eficazes na maioria dos casos, e os efeitos colaterais têm sido diminuídos. Muitas pessoas que têm epilepsia levam vida normal, inclusive destacando-se na sua carreira profissional.

Se o paciente não responder ao tratamento medicamentosos, o médico pode recorrer ao auxílio cirúrgico – este não tem como objetivo a retirada da medicação, e sim ajudar no controle de crises.

Quando realizar cirurgia de epilepsia em crianças

Se as convulsões ocorrerem em uma área do cérebro  que pode ser removida facilmente  sem causar outros danos, a cirurgia deve ser considerada.

Quando a epilepsia é causada por um tumor, cisto ou lesão, ou outro crescimento que não responde bem ao medicamento, o médico pode indicar como opção apropriada.

A operação pode remover a parte do cérebro onde as convulsões estão ocorrendo ou, às vezes, ajudar  as más correntes elétricas a não se espalharem  pelo cérebro.

A criança pode estar acordada durante a cirurgia. Com o paciente acordado, este segue alguns comandos e os cirurgiões terão certeza que as áreas importantes do cérebro não foram danificadas.

Tipos de cirurgia mais utilizados em crianças

Hemisferectomia – Envolve a remoção de quase todo o lado do cérebro responsável por causar convulsões.

Ressecção focal – Remove a porção do cérebro onde as convulsões se originam , normalmente o lobo temporal. 

Corpus calosotomia – Não remove as parte do cérebro que causa as convulsões, essa cirurgia interrompe o caminho as convulsões e confina em uma das partes do cérebro.

VNS (estimulação de nervo vago ) –   É a implantação de um aparelho que envia estímulos elétricos constantes ao cérebro por um  nervo específico,  que auxilia no controle das convulsões.

Segundo levantamento realizado na cidade de  São Paulo, a idade média dos pacientes operados  caiu de 32 para 19 anos na última década. São cada vez mais jovens as pessoas que se submetem à cirurgia de epilepsia. Em 1996, a idade média dos pacientes operados era de 32 anos. Em 2006, a média estava em 19 anos.

*Dr. Silvio Machado, neurocirurgião pediátrico do Hospital VITA (Curitiba – PR)

 

 

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