Jornada dupla pode colocar coração feminino em risco, alerta Sociedade de Cardiologia


A cada 10 minutos, uma mulher morre no Brasil em consequência de acidente vascular cerebral. Já o infarto faz uma vítima a cada 11 minutos. As doenças cardiovasculares são responsáveis por 30% das mortes do sexo feminino, no Brasil

Ações de alerta para o risco cardiovascular em mulheres foram promovidas em várias cidades brasileiras, na sexta-feira, dia 8 de março, pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). As mortes por doenças do coração crescem ano a ano entre o sexo feminino. Só em 2016, foram 51.198 vítimas por acidente vascular cerebral (AVC) e 48.104 por infarto.

A presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher da SBC, Marildes Luiza Castro, ressalta que as doenças do coração matam duas vezes mais que todos os tipos de câncer, incluindo o de mama. “As doenças cardiovasculares (DCV) mataram um total 171.809 mulheres, em 2016. As jornadas duplas e até triplas – trabalho, cuidado com os filhos e afazeres domésticos – elevam os níveis de estresse. E isso, associado, muitas vezes, à falta de atividade física e má alimentação, compromete a saúde do coração. Sem citar o tabagismo, em muitos casos”.

Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, há 60 anos, de cada 10 mortes por doenças cardiovasculares, nove eram homens e apenas uma mulher. Hoje esta proporção está em 5,3 homens para cada 4,7 mulheres.

MORTES
Gênero/Doença 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Homem/DCV 171.263 175.254 174428 178.027 178.288 182.555 190.242
Mulher/DCV 155.082 159.923 158836 161.601 161.916 167.029 171.809
Total 326.345 335.177 333264 339.628 340.204 349.584 362.091
Homem/AVC 50.536 50.877 50.530 50.333 49.830 50.251 51.753
Mulher/AVC 49.190 49.863 49.652 49.705 49.436 50.252 51.198
Homem/Infarto 58.230 60.158 60.735 62.235 62.940 65.224 68.018
Mulher/Infarto 41.719 43.317 43.653 44.535 44.953 46.625 48.104
              219.073

As manifestações das doenças cardiovasculares não são exatamente iguais nos dois sexos. Um dos motivos são os hormônios. Acredita-se que a mulher tenha uma “proteção natural” pelos estrógenos, que diminuem muito após a menopausa, ocasião onde há aumento da incidência das DCV. Já nas mais jovens, a associação cigarro + anticoncepcional acaba com essa proteção, o que iguala o organismo feminino ao masculino em termos de risco cardiovascular.     

Os sintomas do infarto em mulheres são, em muitos casos, diferentes da clássica dor no peito relatada por homens, como náuseas, vômitos, dor nas costas e no pescoço, falta de ar e indigestão. “O tipo de dor na mulher se assemelha mais a uma queimação no peito, com falta de ar, náuseas, mal estar, sensação de morte. Nas idosas pode ocorrer também um aperto forte no peito, com irradiação para o braço esquerdo e sudorese”, alerta Marildes.

Prevenção

            Apesar das mulheres acreditarem que a causa mais frequente de morte entre elas é o câncer, há sete vezes mais chances de morte em decorrência de um infarto agudo do miocárdio do que de um câncer de mama. Segundo a cardiologista, “esse equívoco implica em menor compromisso do sexo feminino no controle dos fatores de risco que levam ao infarto e ao AVC, além de uma menor taxa de investigação desse conjunto de doenças, bem como a maior negligência no seu tratamento, determinando mais sequelas”.

Gestantes

            Outra situação de risco inerente à mulher é a gestação. Existem doenças próprias deste período como a Pré-eclâmpsia e Eclâmpsia, Hipertensão Gestacional e a Miocardiopatia Periparto, além de determinadas cardiopatias que podem evoluir mal durante a gravidez, agravando o risco materno e fetal. Muitas dessas situações são totalmente desconhecidas. “É preciso alertar a todas as mulheres da necessidade de um pré-natal bem feito e rigoroso”, conclui a presidente do Departamento de Cardiologia da Mulher da SBC.