A Reforma da Previdência em votação no Congresso gera polêmicas infindáveis, mexe com o que se diz o elemento mais sensível do ser humano, o bolso. Há argumentos fortes a favor e contra praticamente todas partes da proposta, mas uma delas afeta diretamente a todos que precisarão contar com a aposentadoria: a idade e o tempo de serviço/contribuição necessários para que se tenha direito a ela. Há nisso categorias de trabalhadores que, pelas características ou ambiente do próprio trabalho, solicitam tratamento diferenciado, e talvez algumas tenham mesmo direito a isso; trata-se de condições insalubres, perigosas ou estressantes, que propiciam um “envelhecimento” funcional e pessoal mais acelerado do que ocorre de modo geral em outras.
Uma dessas categorias é a dos professores. Um filósofo da área dizia: “professores envelhecem, alunos têm sempre a mesma idade”. Isso define parte dos conflitos geracionais em sala de aula, no começo da carreira docente as idades são próximas. Não é raro que no início dos primeiros anos de magistério o professor não seja identificado como tal, parecendo mais ser um dos estudantes; é necessário bom senso para que a indispensável distância se imponha. Passando o tempo, as turmas parecem ser formadas por “crianças” na medida em que a idade do professor avança, e com isso diminui sua paciência com o que pode julgar inconveniências infantis, as mesmas que partilhava tranquilamente anos antes.
À medida em que ficam mais velhos, todos enfrentam determinados percalços, e professores não são exceção. O avançar da idade costuma trazer doenças crônicas que certamente comprometem o estilo de vida e talvez até o humor, dado às diversas limitações impostas pelos tratamentos médicos, dificuldades de locomoção e pleno domínio das funções cognitivas. Profissões que exigem convívio intenso com pessoas mais jovens por vezes trazem um ônus mais pesado pela necessidade de adaptação ao seu ritmo.
Outro agravante é o crescente avanço tecnológico das metodologias de ensino, que embora nada tenha de incorreto em sua essência, costuma representar um temor para aqueles que foram educados com base em outros parâmetros, e é indispensável pensar nisso a longo prazo, pois mesmo os mais atualizados hoje podem estar defasados dentro de alguns anos, o progresso científico poderá ser de tal forma abrupto que gere dificuldades de acompanhamento.
Em países com supervalorização da juventude, muitos idosos tendem ao isolamento social, vivendo sós ou em abrigos e instituições para aqueles incapacitados, e muitos, mesmo que vivendo em ambiente familiar sentem-se solitários, principalmente pela perda de parte considerável de sua própria geração. Mudanças sociais ocorridas nestas últimas décadas aceleram esta sensação: a redução do núcleo familiar, a maior participação feminina no mercado de trabalho afastando-as do ambiente doméstico onde comumente desempenhavam as funções de cuidadoras, a desestruturação dos casamentos, o afastamento ou inexistência de filhos, tudo contribuirá para que o envelhecimento seja visto como gerador de falta de apoio, afeto, atenção e cuidados.
A idade traz mais sabedoria aos sábios, teimosia aos teimosos e intolerância aos intolerantes, mas a todos ela sobrecarrega com seu peso. O bom professor sabe disso, e supera dignamente os percalços eventuais e inevitáveis que a vida apresenta, talvez o grande segredo esteja em manter o bom humor, conviver consigo mesmo com respeito e respeitar os demais.
Aposentar-se um pouco mais cedo talvez evite muitos dissabores aos próprios estudantes, permitindo que convivam com professores de faixa etária mais próxima à sua, e embora a necessidade do estudo e das leituras sejam permanentes em qualquer profissão, auxilia a diminuir a ansiedade pela sensação de estar sendo constantemente desafiado pelos alunos – estresse que em nada favorece o bem-estar emocional.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. <wcmc@mps.com.br>