O custo da prematuridade para a saúde pública ultrapassa R$ 8 bilhões por ano no país

Bebês que nascem prematuros permanecem em média 51 dias internados, revela ONG

O custo da prematuridade para a saúde pública ultrapassa R$ 8 bilhões por ano no país
O parto prematuro no Brasil tem um custo de aproximadamente 8 bilhões de reais por ano e é preciso mudar o cenário da prematuridade no país, começando por campanhas em massa voltadas à prevenção

O impacto do nascimento de um bebê prematuro vai muito além das sequelas de saúde que a prematuridade pode causar para essa criança e do trauma psicológico que ela deixa para as famílias. O parto que acontece antes das 37 semanas de gestação desencadeia um ciclo de eventos que afeta tanto o individual quanto o coletivo de uma sociedade, incluindo desde o vínculo afetivo entre mãe e filho, até os setores da Economia, da Saúde, da Cidadania e o mercado de trabalho.

No mundo, nascem 15 milhões de prematuros todo ano, uma média de 10% do total de nascimentos. Em recente levantamento realizado pela Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP/Fiocruz), a taxa de prematuridade brasileira ficou em 11,5% dos nascimentos. De acordo com o IBGE, foram registrados 2,87 milhões de nascimentos no Brasil em 2017, o que nos leva a concluir que, somente naquele ano, mais de 330 mil bebês nasceram antes da hora.

Com o objetivo de identificar possíveis ações em prol da causa da prematuridade no país, a Associação Brasileira de Pais, Familiares, Amigos e Cuidadores de Bebês Prematuros – ONG Prematuridade.com, entrevistou 2.900 famílias de bebês prematuros entre outubro de 2016 e junho de 2019 e constatou que o período médio de internação desses bebês na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal, após o nascimento, foi de 51 dias. Na pesquisa, a ONG observou ainda que 63,7% dos bebês permaneceram até 60 dias internados após o nascimento, 26% ficaram de 2 a 5 meses na UTI e 1% dos recém-nascidos ficou mais de 6 meses sob cuidados intensivos.

Em qualquer país, o custo diário de um bebê prematuro internado é altíssimo. São pacientes frágeis, que dependem de equipamentos e medicamentos caros para sobreviver. Eles também precisam ser submetidos a exames e procedimentos de alta especificidade, além da necessidade de um cuidado redobrado – literalmente intensivo – por parte equipe de saúde; e tudo isso tem um custo. No Brasil não é diferente: um bebê que precisa desse tipo de assistência gera um impacto significativo para os cofres da Saúde, afetando tanto o sistema público quanto os serviços de saúde suplementar (convênios).

De acordo com um levantamento do Centro Paulista de Economia da Saúde da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)*, entre 2009 e 2011, o custo médio diário de um bebê prematuro internado era de R$497,84. Ao considerarmos o período de 51 dias de internação, chegamos a um custo médio total diário de R$ 25.389,84 por criança. Isso significa que, em uma estimativa conservadora, o parto prematuro no Brasil tem um custo de aproximadamente 8 bilhões de reais por ano.

Já o estudo realizado na Santa Casa de Misericórdia e Maternidade de Rondonópolis (MT), apresentado noXXIV Congresso Brasileiro de Custos de 2017, apontou que a média de custos diários por paciente na UTI Neonatal foi de R$ 934,48. Levando-se em consideração esses dados, o total estimado para os 51 dias de internação de cada paciente chegaria a R$ 47.658,48, representando mais de 15 bilhões de reais por ano para o cuidado intensivo dos bebês prematuros no Brasil.

“Muitas vezes, somente quando falamos em cifras é que conseguimos a atenção e o engajamento de quem tem ‘a caneta na mão’. Pois bem, estamos aqui mostrando o impacto que o nascimento prematuro pode ter para os cofres públicos também. É urgente que se fale e se faça muito mais para mudar o cenário da prematuridade no nosso país, começando por campanhas em massa voltadas à prevenção”, comenta Denise Suguitani, diretora executiva da ONG Prematuridade.com.

De fato, o custo diário por paciente em uma UTI Neonatal varia para cada instituição e para cada região. Entretanto, além dos danos emocionais e físicos que a prematuridade causa, é inquestionável que o nascimento prematuro acarreta altos custos para os cofres públicos de qualquer sociedade. No caso do Brasil, 10º país no ranking de prematuridade, fica cada vez mais evidente a necessidade de grandes campanhas de conscientização e educação que visem à redução do número de partos prematuros, incluindo programas de planejamento familiar, identificação precoce de fatores de risco e acompanhamento pré-natal de qualidade.

* Estimativa de custo de permanência hospitalar para recém-nascidos prematuros de mães adolescentes (indexado pelo dólar americano).