O Bar Valentino comemora em outubro, 40 anos de vida e não vai festejar a data sozinho. Durante todo o mês, a agenda traz figuras importantes da cena musical da Cidade além de três eventos, produzidos especialmente para a ocasião. O Bar Valentino faz parte da história cultural de Londrina sendo, desde a sua inauguração, um ponto de encontro de artistas, uma plataforma de lançamento da música local e vitrine da produção cultural londrinense. O Valentino nasceu da mente criativa do diretor de teatro do grupo Delta, José Antonio Teodoro, apaixonado por cinema clássico: daí o nome, uma homenagem a Rudolph Valentino e de divas como Marilyn Monroe e Rita Hayworth, com seus pôsteres até hoje nas paredes da “casinha”. Depois, veio o italiano Pino, que introduziu as massas no cardápio – carro chefe da cozinha do bar desde então. Na sequência, veio Marcos Marangoni que manteve as tradições artísticas e culinárias. Em 1991, o bar chegou às mãos do casal Zanza e Valdomiro Chammé, atuais proprietários e tutores da memória do local.
Ao longo desses 40 anos de história, o bar foi a segunda casa dos boêmios da Cidade, sem nunca ter feito distinção de raças, crenças e opções sexuais. Pela histórica casinha de madeira, passaram peças de teatro, shows musicais de todos os estilos, apresentações do FILO, do Festival de Música, Festival de Blues, exposições de artistas plásticos, lançamentos de livros e CDs, mostras de vídeo e performances de quem frequentava o bar. O Bar Valentino serviu de inspiração para músicas, poemas, livro, curta-metragens, monografias de graduação e mestrado em antropologia, historia, design, psicologia, economia, histórias em quadrinhos e ainda recebeu visitantes ilustres, nomes importantes das artes no Brasil e no exterior. Em 2006, contrariando a lenda de que a cartomante que vivia aos fundos do bar (e que lia a sorte dos freqüentadores) “costurou” os quatro cantos da casa para que ela nunca saísse do lugar, a “casinha” mudou de endereço. Numa operação de preservação e restauro, a histórica sede do Bar foi para a Rua Prefeito Faria Lima, às margens o Lago Igapó 2 e com a mudança, o local entrou numa nova fase, ampliando ainda mais a oferta cultural e conquistando outros públicos e novas gerações de frequentadores. Mais do que um palco, o Valentino é um personagem da história cultural de Londrina.
Além de festas que fazem parte dessa história – como a Terça Tilt, com quinze anos de casa e a Barbada, com quase dez, a agenda do bar durante todo o mês de outubro conta com atrações especiais, como Luke de Held e convidados, Balé de Londrina, Escola de Teatro da Funcart, Clube do Choro e o Samba da Padaria; além dos três shows de aniversário.
O primeiro deles é o show “As Meninas da Rua de Cima”, novo projeto do cantor e compositor Tonho Costa, no dia 06 de outubro, com ingresso solidário; para curtir o show basta levar itens de higiene pessoal (sabonetes, pasta e escovas de dentes, desodorantes e etc) que serão doados ao Lar Anália Franco. O show traz musicas próprias mas também tem muito groove com referências da black music de Michael Jackson, Stevie Wonder, Tim Maia, James Brown, Kool and the Gang e muito mais. A relação do musico Tonho Costa com o Valentino começou em 1997, quando procurou o Chammé para tentar agendar um show do Grupo Uquiah Dibõ na casa. “Eu havia acabado de abandonar a carreira de contabilista. Saí de um escritório e do curso de Contábeis na UEL. Eu era um menino bem da igreja, quase fui seminarista. Nunca havia frequentado o Valentino. Minha primeira visita foi num dia de semana no comecinho da noite e lá estava o Chammé, concentrado atrás do caixa. Nos conhecemos assim”, conta Tonho Costa. O show conta com a participação especial da cantora Meire Rodrigues e do guitarrista Kiko Jozzolino e, além de Tonho Costa no vocais, a banda é formada por Andre Gião (guitarra), Allysson Kalil (contrabaixo), Rafa Menezes (bateria), Robson Ganeo (teclado), Noel Carvalho (sax), Natanael Carvalho (trompete) e Marco Aurélio (trombone).
No dia 18, o Valentino volta no tempo com um grande baile, um show com a Vitor Gorni Orchestra, pensado especialmente para festejar os quarenta anos do Bar. Uma noite dedicada aos casais, com musicas da época de ouro dos bailes com orquestra. “Fox, samba, bolero, samba canção, mambo… Um repertório com grandes clássicos das orquestras de Glenn Miller, Ray Connif e crooners como Frank Sinatra”, conta Vitor Gorni. O show conta com a participação dos cantores Ricardo Yuki e Vinicius Zanin. “Serão duas horas de música dançante com orquestra, uma coisa muito difícil de se desfrutar hoje em dia”, afirma Gorni que também tem uma historia com o Valentino que dura algumas décadas. Conheceu o bar para agendar um show com a sua banda Jazzmania, em 1994, shows quase semanais e com a casa sempre lotada. “Eu morava em Cambé e não conhecia o bar. Daquela época lembro que não dava nem para entrar, de tanta gente que vinha assistir ao show. Ficava muita gente pra fora, na varanda. Não cabia todo mundo”, lembra. Para ele, o Valentino hoje é, para Londrina, o que casas de show show são para grandes centros. “É uma casa de alta qualidade. Eu compararia as suas instalações ao Blue Note e Birdland. Um espaço fantástico e fizemos shows memoráveis lá como Mateus Gonsales convida Vitor Gorni Orchestra, Tributo a Frank Sinatra e Michael Bublé, 50 anos da Tropicália, Tributo a Raul Seixas e muitos outros e todos com orquestra. Na casinha antiga, tudo isso seria impossível”, analisa. No palco sob a batuta de Vitor Gorni (saxofone), Lincol Rodrigues (saxofone), Fernando Sales (saxofone), Márcio Souza (trompetes), Newton Florêncio (trompetes), Luciano Torres (trombone) e Mateus Gonsales (piano).
Uma festa que começou em casa, com amigos e virou um “babado forte” é a atração da agenda dos 40 anos do Bar Valentino no dia 26. A história da “Festa do Zé” começa quando o consultor de vendas José Sabino terminou a construção da sua casa, em 2001, no Bela Suíça. Era um grupo de menos de dez amigos que se reuniam para fazer uma “festa em casa” rachando as despesas, e que depois foram convidando conhecidos, amigos de amigos até virar uma super festa, com cobrança de entrada na portaria, DJs, banheiros químicos, tendas, segurança contratada. “Em casa, cheguei a ter 300 convidados. Era uma super estrutura”, conta Sabino. A vizinhança cresceu, abriram um hospital que atende crianças e idosos por perto e a turma decidiu sair de casa, passando a fazer quatro festas ao longo do ano, em varias casas noturnas de Londrina. Essa é a primeira vez que a festa acontece no Valentino, algo emocionante para o idealizador que lembra da primeira vez que pisou na casinha. “Foi em 1985, quando fui com alguns colegas de trabalho. Saímos do Tigrão e passamos para comer uma macarronada”, conta. “Aí comecei a aparecer sempre por lá”. A festa também tem uma identidade forte: é uma festa LGBTI, idealizada para o pessoal que não gosta muito de ir em boate ou em baladas tradicionais da comunidade. “Gente que gosta de festa com outra cara”, afirma. A idéia é enfeitar o bar com alguma decoração e ainda servir quitutes, exatamente como sempre acontecia nas festas em casa. A “Festa do Zé” acontece no dia 26 de outubro.
Completando o caráter multidisciplinar, a vitrine do Bar recebe mais uma vez as obras da designer gráfica e artista plástica, Daniele Stegmann. São dez ilustrações, feitas com lápis de cor sobre papel preto. “São estudos, desenhos feitos de impulso, com temas variados com um predomínio de corpos e elementos da natureza”, conta a artista. As obras estarão à venda.
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