Aspirina tem novas recomendações para a prevenção primária de problemas cardiovasculares

Usada desde os anos 1970 para fins preventivos, a aspirina reduz as chances de trombose no sangue, mas também aumenta o risco de hemorragias, principalmente em pacientes idosos

Passamos do tempo em que tomar uma aspirina era a indicação para prevenir doenças cardíacas em qualquer indivíduo. Novos estudos concluíram que essa terapia, em grupos de pessoas com menos de 40 ou mais de 70 anos, não reduz as chances de ataque cardíaco ou de acidente vascular encefálico, segundo explica Marcelo Nishiyama, cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo . Por outro lado, ela também potencializa as chances de hemorragia, trazendo mais riscos do que benefícios para esses grupos.

A decisão de tomar o comprimido de forma preventiva começou após a divulgação dos primeiros estudos sobre o tema, realizados ainda na década de 1970. À época, eram poucos os tratamentos disponíveis para a prevenção primária de problemas cardiológicos. Hoje, confrontada com os novos medicamentos disponíveis, a recomendação é questionável para determinados grupos de pessoas. “A estatina é uma droga muito mais benéfica e eficaz para baixar o nível de colesterol no sangue e prevenir o entupimento das artérias e formações das placas”, comenta Nishiyama. Já o uso da aspirina como prevenção primária ficou reservado para os pacientes considerados de alto risco como o caso dos diabéticos, com níveis de colesterol alto ou os que têm histórico familiar importante de doença arterial coronariana.

A ação da aspirina no organismo

Ao reduzir a capacidade de coagulação do sangue, a aspirina diminui o risco de formação de coágulos sanguíneos dentro da artéria, evitando o bloqueio do fluxo sanguíneo no coração – causa do ataque cardíaco. No entanto, esse mesmo efeito potencializa o risco de hemorragias, principalmente na região gastrointestinal.

“Sem dúvida, a aspirina salvou muitas vidas, mas o consenso hoje é que o benefício vale, sem dúvidas, para a prevenção secundária, mas apenas em alguns casos específicos para prevenção primária”, adverte o cardiologista. Assim, nada muda para pacientes que já infartaram, colocaram stent, tiveram acidente vascular cerebral (AVE) ou passaram por alguma cirurgia do coração e para aqueles com alto risco de eventos cardiovasculares. Para eles, a medicação continua ser recomendada.

Nos últimos anos, lembra Nishiyama, o número de pessoas que usam a aspirina para proteger o coração aumentou. “Nos Estados Unidos, inclusive, ela pode ser encontrada até mesmo nos suplementos vitamínicos, hábito que terá que ser revisto”, completa. Além disso, o cardiologista lembra que a administração de qualquer droga deve ser feita sempre sob recomendação médica. E lembra que para manter a saúde cardíaca não basta apenas ingerir medicamentos, por mais que sejam recomendados. “É necessário manter hábitos saudáveis como praticar exercícios, cuidar da alimentação, parar de fumar e sempre buscar acompanhamento médico. Essas recomendações continuam válidas para todos”.  acosta@llorenteycuenca.com