Enquanto isso na sala dos professores

No mesmo período em que os resultados do PISA/2018 são divulgados, os professores das escolas públicas municipais e estaduais se reúnem para debaterem o futuro dos estudantes no tão temido CONSELHO DE CLASSE.

Para aqueles que não sabem, o Conselho de Classe não é o momento em que os professores se reúnem para falar mal dos alunos, muito pelo contrário, é o momento em que os profissionais da educação se encontram para defenderem o/a estudante que não teve pontuação suficiente para ser aprovado de série. E, diga-se de passagem, avaliar o conhecimento das pessoas por meio de um único número (no caso a média anual) é no mínimo pensar dentro de uma caixa.

Enfim, essa é a função do Conselho de Classe. Discutir, avaliar, pensar e repensar os conceitos atribuídos a esse ou àquela aluna. É pensar no futuro.

No entanto, há muito o Conselho de Classe (Final, particularmente) não é para isso. Ele serve para discutir disciplina, comprometimento e as angústias dos professores. O conhecimento adquirido ao longo do ano letivo cai por terra.

Em se tratando dos profissionais subordinados a Renato Feder e a Maria Silvia Bacila, nem os desabafos profissionais são válidos. Dois profissionais do alto escalão da educação estadual e municipal curitibana que, aparentemente, não entendem absolutamente nada de educação. E quando eu falo em educação, eu falo daquela de chão de escola. Daquela em que o professor acorda antes das 5 horas da manhã pra chegar ao trabalho a tempo. Daquela em que o professor depois de pegar alguns ônibus ou enfrentar um longo trânsito se depara antes mesmo das 8 horas da manhã com estudantes desinteressados, mal-educados, arrogantes e pior… ignorantes.

E a culpa de esses estudantes chegarem ao ponto e que chegaram é de quem? Não, meu caro e minha cara colega, não é do professor ou da professora. E se por acaso você achou que a culpa era deles, faz um favor: não leia até o final, você perdeu a sua capacidade de interpretação quando não foi capaz de interpretar o mundo a sua volta.

A culpa é deles, volto a dizer, Renato Feder e Maria Silvia Bacila. Pessoas que aceitaram e assumiram um cargo. Um cargo que carrega uma responsabilidade que ambos não são capazes de aguentar.

Ele porque definiu que os professores, além de todo trabalho anual, deveria fazer uma avaliação de (re)recuperação, sim com dois RE’s pois caso ele não saiba a recuperação de conteúdos é feita concomitantemente, então não existe uma recuperação com dia marcado. Mas não se trata de uma simples avaliação, é uma recuperação pra olhos fechados, porque é pra passar os alunos. Inclusive aqueles que não têm conhecimento suficiente para ingressar no ano seguinte.

Ela porque, muito doutora da educação, ficou silenciada frente à normativa número 9 da Prefeitura Municipal de Educação, a qual, em resumo, lista 10 itens obrigatórios para se reprovar um aluno. E, pasme querido/a leitor/a, se, mas somente SE, o Conselho de Classe de professores que ficaram com os alunos durante um ano letivo inteiro resolver reprovar um aluno, além de toda documentação a ser juntada durante o ano (haja armário pra isso), os documentos serão avaliados por uma comissão multidisciplinar na prefeitura. Uma comissão que sequer pôs os pés na escola. Uma comissão que não sabemos quem é. Uma comissão colocada lá por vias políticas, partidárias e lambeção (essa palavra existe?).

Enquanto Renato e Maria gozam do dinheiro público (o seu, inclusive) sendo profissionais incompetentes que não durariam o período de experiência em uma empresa privada, os profissionais públicos (os mesmos que acordam antes das 5 da manhã) comprometidos com o trabalho ficam de mãos amarradas.

E no fim, quem leva a culpa? Eles e elas mesmos/as. Porque, afinal, o PISA demonstrou que nossas crianças não são competentes.

E, nesse fervo todo, você culpa quem?

Enxergue-se e enxergue o que acontece embaixo do seu nariz.

A culpa não é daquele ou daquela que acorda antes das 5 da manhã disposto/a a propagar o conhecimento. A culpa é daquele e daquela que assumiram uma posição paga com o seu dinheiro que não está nem aí para a educação do seu filho e da sua filha. A culpa é daqueles que não estão preocupados com a educação. Muito pelo contrário, daqueles que estão preocupados em tirar mais um pouquinho do seu bolso. Porque enquanto ele e ela viaja conhecendo o mundo, a gente fica aqui à mercê da incompetência alheia.

*Por Flávio Jayme, jornalista e pedagogo com especialização em História da Arte