A princípio masculina e nichada, a mídia podcast está se popularizando e diversificando nos últimos anos trazendo novas vozes e visibilidades para minorias, grupos étnicos e, é claro, mulheres. Buscando não só criar como profissionalizar um olhar feminino sobre a mídia foi criada a produtora Podsim, que mostra que é possível já repensar a recém-formada podosfera brasileira.
Trabalhando coletivamente, elas realizam todas as etapas da construção de um podcast, seja identidade sonora, produção, edição, narração, distribuição, captação de áudio, roteiro e métricas. A Podsim tem 7 programas próprios em rotação, uma minissérie em áudio sobre o carnaval carioca (Meu Bloco na Rua) e já produziram podcasts institucionais.
“A gente se conheceu em 2018, na primeira edição do programa Arte Sônica Amplificada (ASA), parceria do British Council com o Oi Futuro para impulsionar a carreira de mulheres no som e na música. Foi uma residência artístico-profissional em que passamos por mentorias, workshops e oficinas de capacitação e que tinha como objetivo a formação de um projeto. Então foi assim que a Podsim surgiu, da conclusão dessa residência”, conta Ana Gabriela Nascimento, uma das idealizadoras do projeto.
Pós-graduanda em Jornalismo Cultural pela UERJ, Ana tem passagens por rádio comunitária, jornal impresso e agências de comunicação. Ela criou, com uma amiga, o Ventre Nós, podcast sobre corpo feminino que produz, apresenta e edita desde 2018.
“Nós temos mulheres de ponta a ponta na cadeia de produção. Isso significa que a gente acredita na nossa capacidade técnica, criativa, administrativa, analítica e de relacionamento. Achamos que a importância tá na representatividade que isso carrega. Tendo a diversidade como valor, nossas diferentes origens e referências expressam o feminino ao oferecer uma escuta ativa e atenta, do conceito à divulgação. Por isso, criamos um ambiente seguro para a livre expressão de ideias com o objetivo de ampliar a participação feminina na podosfera, com mais mulheres consumindo e produzindo podcasts, descentralizando a produção de conteúdo e destacando narrativas periféricas”, acrescenta Luiza Sales, que é cantora e compositora. Ela tem dois álbuns e criou o projeto Meninas do Brasil, série de vídeos que apresenta o trabalho de compositoras brasileiras e que em 2020 foi lançado em podcast.
Além de Ana e Luiza, fazem parte do projeto mulheres de diversas formações e experiências. Carolina Faria é especialista em preparação vocal, cantora lírica e professora. Bacharel em Canto pela UFRJ, dedica-se à arte e a educação há mais de 20 anos. Em 2019, lançou o podcast O Chazinho, com episódios de poucos minutos para ouvir tomando chá.
Já Irla Franco é artista sonora, microfonista e técnica de som direto. Já trabalhou em longas e curtas e filmes institucionais. Graduanda em Cinema na UFF, Irla pesquisa paisagens sonoras diaspóricas das quais a oficina “AFROESCUTA” e a instalação “OuvidoChão – Cartas Quilombolas” são resultados.
Rachel Araújo é musicista formada pela Escola de Música Villa-Lobos, cursou Produção Fonográfica e Trilha Sonora para TV e Cinema no IATEC. Faz direção musical e trilha sonora para teatro, trabalhos que renderam prêmios de melhor trilha sonora nos festivais de Ponta Grossa (RS) e Araçuaí (MG). Desde 2018, constrói identidade sonora para podcasts.
RAIZZA, também cantora e compositora, une sua experiência nos palcos no podcast Soul+, onde entrevista e conecta músicos independentes de todo o Brasil. Formada em Comunicação Estratégica, ela busca através do Soul+, inspirar novos artistas e trazer a realidade e os desafios do mercado independente da música.
Val Becker é jornalista, editora de conteúdo web, produtora cultural, cantora e compositora. Em 2008, criou a Rádio Graviola, pela qual ganhou três edições do Prêmio Profissionais da Música (2016, 2017 e 2018), na categoria “Melhor Webradio”. Criou, em 2019, o “Descabeladas – o podcast sem maquiagem”.
Renata Aratykyra é jornalista, roteirista, produtora, poeta e cofundadora da Radio Yandê, primeira web rádio indígena brasileira. Pesquisa etnomídias e atua pelo fortalecimento das narrativas indígenas na música, TV, cinema e literatura. Em 2019, fundou o podcast “Originárias”, que apresenta a produção cultural contemporânea dos povos originários do Brasil.
E fecha o grupo Julie Sousa, baterista, professora e produtora. Idealizadora do Hi-Hat Girls, projeto gratuito de oficinas e aulas de bateria para garotas, que viaja o Brasil há 7 anos. Por 2 anos, ela e mais cinco amigas, compartilharam histórias da vida real com muito bom humor no podcast Bora Marcar?. E, em 2020, ela lançou o podcast da Hi-Hat Girls para dar ainda mais voz às mulheres no mercado da música.
“Nesse primeiro momento, eu e Ana já estávamos tocando nossos podcasts. No grupo do Arte Sônica Amplificada algumas meninas já tinham contato com a mídia e outras passaram a ouvir e/ou produzir a partir do nosso encontro. Hoje queremos nos tornar uma plataforma que forneça meios para que as mulheres sejam ouvidas, contando suas histórias e se apropriando de ferramentas acessíveis e inovadoras de comunicação e tecnologia para criar, produzir e distribuir podcasts”, reflete Julie Sousa.
Os programas podem ser conferidos em www.podsim.com.br e em todas as plataformas de podcasts.