A insônia e a irregularidade do sono: novos fatores de risco cardiovascular?

A insônia e a irregularidade do sono: novos fatores de risco cardiovascular?

Em tempos de COVID-19, as preocupações com a doença e com o cenário econômico podem contribuir para noites mal dormidas. 

Durante Congresso Virtual de Cardiologia da SOCESP, que termina hoje e é transmitido nas plataformas digitais, um dos especialistas brasileiros em Medicina do Sono, o cardiologista Luciano F. Drager, que também é diretor científico da entidade, trouxe um tema relevante tanto do ponto de vista clínico como social: a noites constantemente mal dormidas e a falta de regularidade do sono como potenciais fatores de risco cardiovascular. A questão será discutida na aula Indo além da apneia: Impacto CV da Insônia e da Irregularidade do Sono.

“Nas últimas três décadas esta área de pesquisa focou muito no impacto cardiovascular da apneia do sono, sem dúvida um importante distúrbio”, afirmou Drager. “No entanto, evidências crescentes sugerem que a insônia – principalmente quando combinada com a curta duração do sono – estão associadas a um aumento no risco de pressão alta e de complicações cardiovasculares”. Segundo o especialista, os estudos fizeram correções para outros fatores de confusão que pudessem explicar esta associação, tais como idade, obesidade, diabetes e tabagismo, entre outros. “Este pior prognóstico da insônia alerta para o que, intuitivamente, já sabíamos: uma noite bem dormida não descansa só o corpo e a mente, mas pode prevenir doenças graves”.

Outro dado com potencial implicação nas doenças do coração é a irregularidade do sono (a falta de uma rotina no horário de dormir e de acordar). Um estudo americano, realizado durante cinco anos e publicado recentemente no Jornal of the American College of Cardiology, revelou que uma amostragem de duas mil pessoas, que tinham maior irregularidade no padrão do sono, apresentava mais do que o dobro de chance de desenvolver doenças cardiovasculares fatais e não fatais.

COVID-19

Sabemos que o cenário da pandemia não é facilitador do bem dormir. Ao contrário: dependendo de como essa realidade afeta cada indivíduo, o sono tende a sair do padrão de normalidade. “E não é apenas dormir pouco tempo: dormir muito, dificuldade em pegar no sono ou não ter hora certa para deitar ou acordar também impacta o organismo. A longo prazo esses fatores podem ser prejudiciais para a ocorrência de doenças cardiovasculares”, alertou Drager. “Cada vez mais o sono tem que ser encarado com atenção pelas pessoas e pelos profissionais de saúde. O habitual é ter sono de qualidade e, quando isso não ocorre, buscar ajuda médica especializada, mudar hábitos e organizar uma rotina que priorize o dormir bem”.