Danilo Gusmão faz a ponte entre o material e o transcendental no novo EP, “Aqui”

Após fazer um chamado a uma reflexão política no EP “Peleja” e a um estudo sobre o poder das palavras em “Poema”, o cantor e compositor paulistano Danilo Gusmão revela “Aqui”, terceiro lançamento de uma série de quatro partes que compõem “OGÓ – um álbum visual em quatro atos”. O novo EP traz canções que têm como tema central a materialidade daquilo que é transcendental. As músicas estão disponíveis nas principais plataformas de streaming e os vídeos, no canal de YouTube do artista.

A gravação do vídeo aconteceu em um antigo galpão na Vila Maria Zélia, que serve de espaço aberto para a população local e sede para o Grupo XIX de teatro. O projeto “OGÓ – um álbum visual em quatro atos” tem apoio do ProAC, do Governo Estadual de São Paulo, e foi imaginado como uma turnê de 8 apresentações, inviabilizadas pela pandemia. Diante das recomendações de saúde, o espetáculo foi reestruturado para um formato em vídeo. As canções de “OGÓ” foram regravadas com os novos arranjos elaborados para o show, incluindo quatro inéditas.

O formato do vídeo é o mais próximo do que seria a construção visual para os palcos. A cenografia de Anaís Karenin, somada à luz de Dimitri Slavov, o figurino de Jucélia da Silva e a direção cênica de Luiz Fernando Marques foram as primeiras ideias que saíram do papel, antes mesmo de “OGÓ” se tornar um álbum visual. Numa analogia entre o que é etéreo e o que é tátil, aí estão as ideias em sua forma material maturada. Sob a lente de Luiza Calagian o show ganha materialidade por onde possa ser assistido, com ares de um limiar entre terra firme e flutuação. “Aqui” anuncia “Além”, o quarto ato, como se preparasse terreno para o senhor das materialidades transcendentais, Exu.

“A orixalidade serve de imagética condutora das reflexões do trabalho, que buscam desarticular a polarização entre espiritualidade e carnalidade. Em OGÓ aquilo que vive tem sua transcendência assim como o que não está encarnado, é um diálogo cíclico e constante. Diferentes formas de permanência e vida”, teoriza Gusmão.

“Agô” é um pedido de licença aos orixás e ao mundo material. “No meio do agora” é um rock com influência de curimba, gravado anteriormente numa versão voz e violão, com a participação de Isabela Morais, e que agora ganha um arranjo de banda. “Rocinante” é um diálogo de manifestações culturais negras do Brasil como o Jongo, o Samba de coco e o Maracatu de baque virado. A letra é uma convergência entre um mito em que Xangô derrota Ogum e as peripécias de D. Quixote. Composta em 2016 para o espetáculo teatral “Cantos de um naufrágio esquecido” – que tinha como base central de sua construção o romance “O engenhoso fidalgo D. Quixote de La Mancha” -, a canção foi gravada primeiramente com participação especial da cantora Alessandra Leão e agora se apresenta de forma mais crua apenas na voz de Danilo Gusmão. Por fim, “Oxum” é uma canção para a força desta iabá, que é orixá mãe do artista. O formato prosaico do texto, feito antes para a leitura do que para o canto, convocou uma melodia experimental combinada a uma harmonia cíclica dividida em duas partes bastante diversas. A primeira versão dessa canção foi gravada em dueto com Lenna Bahule. Agora a relação íntima entre Mãe e filho fica expressa no dueto entre voz e violão.

“Aqui” abre os caminhos para a derradeira parte de “OGÓ – um álbum visual em quatro atos”, a ser lançado em breve. Enquanto isso, é possível ouvir o EP nas principais plataformas de streaming de música e assistir ao registro visual no YouTube.

Assista a “Aqui”: