Opções / Por Wanda Camargo

O sucesso em algumas profissões exige, ao lado de um bom preparo técnico e de conteúdo, um certo talento de comunicação, um traquejo de palco, brilho especial no acolhimento e o prazer indiscutível de exercê-las. Na ausência destas características, vários são corretos – porém não notáveis, não inesquecíveis – e outros medíocres, mas também necessários para mover o mundo.

São assim aquelas voltadas ao ramo artístico, músicos, pintores, atores, escultores; as destinadas à melhoria das relações entre pessoas, como políticos, os responsáveis pelas interações organizacionais, mestres de cerimônia, gestores de eventos e outras. Mas é no magistério que a diferença é brutal, por influir na futura profissão de muitos: crianças e jovens com professores de desempenho excepcional, que se destacam diante daqueles muitos outros menos marcantes, certamente trarão mais respeito pela diversidade, um modelo positivo nos quais espelhar-se em conduta e habilidades, saberão a diferença entre saber para si e saber para compartilhar.

Normalmente este mestre ensina mais que a simples lição de sua disciplina: dialoga, ouve com atenção, é muito procurado quando o estudante tem problemas, reforça sem excessos a autoestima, protege das emoções violentas e, principalmente, ajuda a desenvolver a capacidade de trabalhar perdas e frustrações. Um professor original e divertido consegue motivar, revelar o valor da ousadia, mostrar ao vivo e a cores a habilidade para criar novas situações e superar antigos problemas; costumamos lembrar dele por toda a vida, as vezes queremos ser iguais, e incrivelmente talvez seja o melhor auxílio ao setor de marketing das instituições privadas, pois é o mais eficiente na manutenção de estudantes, principalmente dos mais criativos e inovadores.

Por serem também normalmente os mais rebeldes, dificilmente os gestores educacionais estão preparados para administrá-los, pois precisariam, além da organização e disciplina, também um certo talento, compreendendo que uma boa escola é um espelho da comunidade em que se insere, na qual encontramos cidadãos perfeitos e imperfeitos, algumas pessoas brilhantes, outras nem tanto, e também as medianas, as inadequadas, e as vezes até inoportunas.

O princípio da realidade diz que um estudante não pode educar-se num simulacro do real, seja na forma presencial ou virtual, distante dos geniais indisciplinados em meio a uma maioria indistinta, para preparar-se convenientemente para viver em sociedade, discutir valores, discernir entre o que é bom ou ruim. Ambientes de formação saudável certamente estão intimamente relacionados com as convicções básicas de seus trabalhadores, com as suas experiências, conhecimentos e competências, além do sentido ético em relação à autoridade, grau de maturidade, experiências e aptidões, pois apenas desta forma podem ensinar inclusão e contornar crises. Dessemelhanças entre professores preparam o estudante para o futuro mundo do trabalho, no qual algumas chefias serão melhores outras piores, aprendizagens serão facilitadas ou dificultadas em determinados momentos, existirão parceiros mais colaborativos que outros, será preciso conviver com aptos e inaptos.

Porém tem sido visível a opção das organizações pela maior homogeneidade de seus participantes, mesmo que isso implique no afastamento sumário daqueles mais destacados da média, como se a época de polarização política extrema em que estamos imersos exigisse a igualdade acentuada nas opiniões e comportamentos, numa espécie de garantia contra os conflitos.

A má notícia é de que isso não parece eliminar desavenças, apenas trazê-las para um setor mais comezinho, mais de inveja e pequenos rancores; menos de grandes diferenças ideológicas onde o embate poderia acontecer num nível intelectualizado, e mais no ódio pessoal pelos interesses contrariados. Prodígios costumam causar ciúmes, porém anódinos também competem entre si, talvez até mais que os destacados, pois estes tem naturalmente a admiração de muitos. Como já observava Freud em seus escritos, o maior conflito surge nas pequenas diferenças, não aquelas de maior monta; no ambiente obediente e sem brilho, criatividade e inovação demoram a surgir.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil. wcmc@mps.com.br