Uso de maconha na gestação aumenta o risco do filho sofrer com psicopatias na infância, diz estudo

Trabalho publicado na última semana de setembro mostra que o uso de cannabis durante a gravidez deixa os filhos mais propensos a ter psicopatia no meio da infância

Uso de maconha na gestação aumenta o risco do filho sofrer com psicopatias na infância, diz estudoPesquisadores da Universidade de Washington em St. Louis encontraram evidências de que crianças em cujas gestações as mães usaram cannabis são mais propensas a ter psicopatologia no meio da infância. Nos Estados Unidos, o uso recreativo de cannabis para adultos agora é legal em 11 estados, enquanto no Brasil, embora ilegal, a maconha é utilizada, já que não há pena de prisão para uso pessoal. “Infelizmente, apesar do uso, sabemos muito pouco sobre as consequências potenciais da exposição pré-natal à cannabis. Estudos anteriores ligaram a exposição pré-natal à cannabis a resultados relacionados ao nascimento, como peso menor ao nascer e características do bebê, como sono e movimento interrompidos. Outros estudos já examinaram o comportamento e os problemas à medida que as crianças envelhecem, mas as descobertas têm sido tênues devido à incapacidade de explicar possíveis variáveis de confusão nos filhos”, afirma o Dr. Rodrigo da Rosa Filho, ginecologista obstetra especialista em reprodução humana e membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH).

Os pesquisadores analisaram os dados do Estudo do Cérebro do Adolescente e do Desenvolvimento Cognitivo (Estudo ABCD), um estudo longitudinal em andamento com quase 12.000 crianças de 9 a 11 anos e seus pais ou responsáveis de 22 locais nos Estados Unidos. Os pesquisadores agruparam os participantes em três grupos mutuamente exclusivos: crianças que não foram expostas à cannabis no período pré-natal; crianças que foram expostas à cannabis no período pré-natal antes da gravidez ser conhecida, mas não depois; e crianças que foram expostas à cannabis após a gravidez ser conhecida, independentemente da exposição anterior. “Os receptores que influenciam a cannabis não são conhecidos por serem expressos antes de cinco a seis semanas de gestação. O grupo formulou a hipótese de que a exposição pré-natal, independentemente de quando ocorresse, seria caracterizada por resultados adversos na infância”, diz o médico. Os dados mostraram que as crianças expostas à cannabis no útero (independentemente de quando a exposição ocorreu) tinham uma probabilidade ligeiramente maior de ter resultados adversos. “Eles tinham uma psicopatologia elevada – experiências mais parecidas com psicóticas; mais problemas com depressão e ansiedade, bem como impulsividade e atenção; e problemas sociais, bem como distúrbios do sono. Eles também tiveram desempenho cognitivo mais baixo, índices mais baixos de estrutura cerebral global durante a meia-infância, bem como menor peso ao nascer”, afirma o médico.

Por esse motivo, os pesquisadores concluíram que os médicos devem desencorajar o uso de cannabis entre aquelas que estão grávidas ou estão pensando em engravidar. Os dados mostraram que a exposição à cannabis após o conhecimento materno da gravidez, que corresponde a quando os receptores endocanabinóides tipo 1 são expressos no cérebro fetal, tem consequência mais drásticas para as crianças, que tendem a ter mais experiências psicóticas, mais impulsividade e problemas de atenção e problemas sociais”, disse ele. “Isso levanta a possibilidade intrigante de que a exposição pré-natal à cannabis pode ter um impacto plausível no comportamento da criança”, diz. “Deixar o uso de substâncias durante a gravidez, que já é um momento desafiador, pode não ser simples. Apoio médico e familiar são importantes. Por último, os casais que estão planejando ter um filho podem querer considerar o combate ao uso de cannabis antes de começarem a tentar engravidar”, finaliza o especialista em reprodução humana.

FONTE: *DR. RODRIGO DA ROSA FILHO: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana, membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo.

LINK: https://jamanetwork.com/journals/jamapsychiatry/article-abstract/2770964