Um estudo analisou por que algumas pessoas parecem nunca ganhar peso, independentemente de sua dieta.
Segundo a nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), os testes genéticos são cada vez mais importantes, pois podem, a partir das análises específicas, identificar características individuais e tendências ou predisposição para o desenvolvimento de doenças metabólicas, além da sensibilidade e da tolerância a macronutrientes e micronutrientes. “Com os resultados é possível traçar estratégias terapêuticas que incluem dieta, prescrição de suplementos e medicamentos com objetivo de evitar que os polimorfismos genéticos (variações na sequência de DNA) sejam expressos”, afirma a médica.
O que o estudo encontrou?
Os participantes estudados para sua magreza deveriam ter um índice de massa corporal (IMC) inferior a 18, estar em boa saúde e não ter problemas médicos ou distúrbios alimentares. Os pesquisadores coletaram amostras de saliva para análise de DNA. Os participantes foram questionados sobre sua saúde geral e estilo de vida. “A genética desempenha um papel importante na determinação do peso de alguém, mas as pessoas não podem pensar que esse é o único fator para determinar o peso de alguém”, diz a Dra. Marcella.
De acordo com o geneticista, três genes têm destaque quando o paciente é propenso ao acúmulo de gordura: FTO, INSIG2 e POMC. “No caso da desregulação desses genes, o corpo gasta menos energia e ganha mais peso, da mesma forma que ele acumula mais gordura. Para cada alelo de risco (o par do DNA), quando um está alterado, há um ganho de 1,13kg: é o caso de pessoas que engordam com muita facilidade”, afirma o Dr. Marcelo. “Nesse caso, o paciente responde bem a uma dieta hiperproteica; no caso da alimentação low carb (e algumas pessoas fazem low e engordam), há um ganho de peso; esse paciente somente se sente saciado quando consome fibras e vegetais que melhoram a saciedade”, detalha a Dra. Marcella Garcez. “O médico pode ainda indicar os suplementos para diminuir o acúmulo de gordura tendo o açúcar e os carboidratos como fonte, boosters termogênicos que trazem compostos bioativos estimulantes e fibras que otimizam o metabolismo, além de substâncias que aumentem a produção energética e melhorem o metabolismo, que atuarão em conjunto para reequilibrar o organismo”, afirma a médica.
Além disso, há mais meios de ficar em forma apesar da genética. No topo da lista, é claro, estão os exercícios. É necessário praticar pelo menos 30 minutos de exercícios 5 dias por semana. “Fazer exercícios regulares e consistentes é muito importante. Não precisa ser uma atividade extenuante, mas apenas moderada e consistente”, diz a médica.
Além dos exercícios, há outras coisas que as pessoas podem fazer para controlar o peso. A médica nutróloga aconselha as pessoas a evitarem os antinutrientes presentes em alguns vegetais, que se consumidos de forma excessiva ou monótona, podem aumentar o risco de ganho de peso. “É recomendável também aumentar a ingestão diária de líquidos, em média, para 3,2 litros para homens e 2,2 litros para mulheres, aumentar o consumo de fibra para ajudar saciedade e fornecer prebióticos que são benéficos para o microbioma intestinal, que também podem afetar o peso”, explica a médica.
E lembre-se: nada de forçar respostas rápidas. “A perda de peso sustentável é uma maratona, não uma corrida de 100 metros. Não faz bem a ninguém perder 30 quilos e recuperá-los 6 meses depois”, diz a médica.
Acúmulo de gordura visceral e diabetes tipo 2
O exame genético também pode ajudar a adequar a dieta no caso de pacientes com predisposição à resistência à insulina, acúmulo de gordura visceral e diabetes tipo 2. “No caso da resistência à insulina, trata-se de pacientes sensíveis ao consumo de açúcares e outros carboidratos”, diz a médica nutróloga. Além do POMC, outros genes envolvidos são GHRL, LEP e LEPR, conforme o geneticista. “Com esses genes, há maior sensação de fome, menor saciedade e é importante melhorar os hábitos de sono, para tanto podemos utilizar suplementos e medicamentos de forma individualizada”, afirma a médica.
No caso do diabetes tipo 2, além de INSIG2, o geneticista cita o gene PPAR-gama, também envolvido. “Como esse fator de transcrição controla o metabolismo de glicose e lipólise, o aumento da expressão desse gene leva a um acúmulo de gordura, ganho de peso, risco aumentado de resistência à insulina, diabetes tipo 2, de forma que cerca de 25% dos casos de diabetes estão associados à alteração genética do gene”, diz o Dr. Marcelo.
Em todos os casos, o melhor a fazer é procurar um médico nutrólogo, que poderá pedir um exame de nutrigenética para auxiliar o tratamento dessas condições ou adequar a alimentação e suplementação para uma efetiva perda de peso.
FONTES:
*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.
*DR. MARCELO SADY: Pós-doutor em genética com foco em genética toxicológica e humana pela UNESP- Botucatu, o Dr. Marcelo Sady possui mais de 20 anos de experiência na área. Speaker, diretor Geral e Consultor Científico da Multigene, empresa especializada em análise genética e exames de genotipagem, o especialista é professor, orientador e palestrante. Autor de diversos artigos e trabalhos científicos publicados em periódicos especializados, o Dr. Marcelo Sady fez parte do Grupo de Pesquisa Toxigenômica e Nutrigenômica da FMB – Botucatu, além de coordenar e ministrar 19 cursos da Multigene nas áreas de genética toxicológica, genômica, biologia molecular, farmacogenômica e nutrigenômica.
LINK do estudo: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.