Temos assistido muitas discussões públicas sobre o retorno (ou não) às aulas presenciais. Especialistas contrapõem opiniões, divididas entre a potencialidade de contágios devida ao convívio de adultos com crianças e adolescentes, a dificuldade de conter o instinto natural dos mais jovens em aglomerar-se – risadas, brincadeiras, namoro, desentendimentos, tudo é melhor pessoalmente – e a necessidade premente de interromper a pandemia.
Além das múltiplas visões científicas, pois cada profissional tende a discorrer sob a ótica de sua área específica: psicólogos do ponto de vista emocional, é péssimo que fiquem isolados, o crescimento intelectual e espiritual depende da convivência, sociólogos da evolução comunitária na qual interações são fundamentais, imunologistas que veem a transmissibilidade um fator impeditivo, e assim por diante, pais que precisam trabalhar e professores nem sempre compartilham opiniões.
Portanto, ficamos divididos entre as diversas recomendações, e a pior parte é que nem todas são feitas com boas intenções: alguns se aproveitam para o atendimento de seus interesses políticos, ou partidários, o desejo por visibilidade midiática ou simples falta de empatia com os demais. Políticos e sindicatos, das mais variadas extrações e múltiplos propósitos, com boas ou más finalidades colocam mais lenha na fogueira, deixando familiares e trabalhadores da educação muitas vezes em campos opostos, ou até, como hoje parece ser o comum, em conflito aberto.
O que entendemos é que, em função da inexistência de medidas preventivas eficazes, com objetivo de diminuir o contato físico entre pessoas, o risco de transmissão da doença e promover o achatamento da curva de crescimento dos casos, o país adotou medidas de distanciamento social nos estados e municípios, como fechamento de escolas e comércios não essenciais, restrição na circulação de ônibus, incentivo ao trabalho em casa, e fechamento de cidades mais afetadas.
O distanciamento social parece ser a medida mais eficaz para prevenção, tendo, no entanto, além das repercussões econômicas num país de imensa desigualdade social, repercussões clínicas e comportamentais, e algumas vezes adoecimento psíquico por mudança no estilo de vida: redução da prática de atividade física, aumento do estresse e consumo de bebidas alcoólicas, tabaco e alimentos não saudáveis. Tais efeitos negativos tem impactos não apenas na saúde individual, mas também na coletiva.
No país a pandemia aumentou a situação de extrema vulnerabilidade da população, piorando as já altas taxas de desemprego e redução de renda; e ademais as políticas de austeridade prescritas podem comprometer as respostas do Sistema Único de Saúde quanto às doenças crônicas não transmissíveis. Assim, reduzir as interações em uma comunidade, que pode incluir pessoas infectadas ainda não identificadas e, portanto, não isoladas, têm sido adotadas com a finalidade de fechar escolas e locais de trabalho, suspensão de alguns tipos de comércio e o cancelamento de eventos, evitando aglomeração de pessoas.
No entanto, a oposição tem sido grande e estimulada pelo comportamento negacionista de muitos dirigentes, fazendo com que jovens e nem tão jovens marquem grandes festas, numa desesperada tentativa de ignorar tudo o que não sejam seus sonhos hedonistas. E isso não é novidade, sempre se fizeram festas durante guerras e bombardeios, como se afrontar a desgraça a afastasse, e embora seja também verdade que a alegria é um bom remédio, é preciso refletir com sensatez sobre hora, lugar e dosagem de sua aplicação. A proximidade exagerada e desnecessária constitui hoje um verdadeiro risco de vida para todos.
Escolas de todos os níveis estão sendo afetadas pelas informações desencontradas e crenças por vezes infundadas, sem uma orientação sanitária efetiva, porém com declarações ideológicas de todos os matizes, e pais contrariados com esta ou aquela decisão.
Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.