Manole lança primeiro livro sobre cuidados transdisciplinares da saúde do público LGBTQIA+

Manole lança primeiro livro sobre cuidados transdisciplinares da saúde do público LGBTQIA+

(e/d) Ademir Lopes Junior, Andrea Hercowitz e Saulo Vito Ciasca

O primeiro livro brasileiro a tratar de forma abrangente temas pertinentes à saúde e comportamento das pessoas LGBTQIA+ (lésbicas, gays, bissexuais, transexuais, queer, intersexo, assexuais e todas as demais variedades da sexualidade humana), em linguagem direta, sem meias palavras e sem deixar de contemplar aspectos técnico-científicos que regulam a realidade deste público. Assim pode ser definido o lançamento da Manole Saúde LGBTQIA+: Práticas de Cuidado Transdisciplinar, dos médicos Saulo Vito Ciasca, Andrea Hercowitz e Ademir Lopes Junior.

Indicado para docentes, estudantes de graduação e pós-graduação, residentes, profissionais da saúde e demais pessoas interessadas no contexto, o objetivo deste trabalho exclusivo é chamar a atenção sobre a necessidade de um olhar diferenciado e de um cuidado integral voltados a essa população, que, segundo Saulo, representa de 10% a 20% do contingente nacional. Para tanto, reúne conhecimento profundo sobre saúde e comportamento LGBTQIA+, contextualizando o cenário da assistência à saúde no Brasil.

Os editores convidaram 140 colaboradores, com o cuidado de compor uma proporção equivalente entre autoras e autores, contemplando a diversidade de orientações sexuais, identidades de gênero, raças/etnias, regiões do país e profissões. Procuraram garantir que pelo menos uma das pessoas envolvidas no capítulo tivesse relação pessoal com a temática por sua identidade sexual e de gênero. Há profissionais das mais variadas áreas da saúde, que ensinam, pesquisam e cuidam de pessoas LGBTQIA+, além de estudantes e pessoas de movimentos sociais.

Temas tradicionalmente negligenciados na formação e prática dos profissionais de saúde são abordados, sempre fundamentados em evidências: da infância ao envelhecimento, parentalidade, conjugalidade, cuidados específicos de saúde de cada população, saúde sexual ampliada para necessidades LGBTQIA+, dentre muitos outros.

O livro instrumentaliza profissionais de saúde na abordagem da população LGBTQIA+, cobrindo diversos aspectos específicos da anamnese e exame físico, questões relativas ao processo de transição de gênero e cuidados com pessoas que se encontram em condições de maior vulnerabilidade, como negras, indígenas, profissionais do sexo, em situação de rua e restrição de liberdade.

Também elenca as responsabilidades e competências necessárias para a atuação de cada especialista na prática do dia a dia.

Abordagens diversas

A transdisciplinaridade do livro fica evidente quando o leitor se depara com a quantidade de temas de áreas distintas – e não obrigatoriamente correlatas – que é exposta em 11 seções com profundidade acadêmica.

Na primeira, intitulada “Nada sobre nós, sem nós”, narrativas reais de pessoas LGBTQIA+ sobre suas experiências em ambientes de saúde mostram um cenário realista dos sistemas de saúde no Brasil, buscando apontar algumas carências que demonstram a necessidade de maior conhecimento e preparo no acolhimento e atendimento dessa população.

Já em outra seção, “Saúde sexual e reprodutiva LGBTQIA+” a conversa vai além das disfunções na resposta sexual. “Para se ter uma ideia da importância dessa discussão, existem estudos científicos para dor na relação vaginal, mas não para dor na relação anal”, dizem os editores. Da mesma forma, segundo eles, o CID (Código Internacional de Doenças) menciona estudo sobre a ejaculação precoce na penetração vaginal, mas não na penetração anal. Para eles, esses paradigmas precisam ser rompidos e não apenas na questão física. “A ciência deve investigar, por exemplo, o que leva uma lésbica ou uma pessoa trans à depressão e como ajudá-las adequadamente.”

A seção “A diversidade na sociedade”, por exemplo, apresenta debates contemporâneos sobre bioética, direitos, formação de profissionais e produção científica. “Aqui trazemos também a questão histórica, discutida por um médico, um cientista social e um filósofo: por que a identidade sexual foi patologizada?”, questionam os editores.

Um caminho para trabalhar a saúde emocional dos LGBTQIA+ é a identificação dos perfis do grupo nas artes. Por isso, a obra disponibiliza uma série de sugestões de filmes, livros e outras referências, comentadas e analisadas por psiquiatras, mostrando a pluralidade sexual através dos tempos nas manifestações artísticas.

Além do olhar dos profissionais de saúde, o livro complementa sua visão transdisciplinar trazendo a perspectiva de diferentes crenças religiosas. Os editores questionaram lideranças católicas, budistas, evangélicas, judaicas, islâmicas, espíritas e candomblecistas convidando seus representantes a responder como a pluralidade de identidades sexuais é vista e recebida em cada uma dessas doutrinas. As respostas são surpreendentes.