Covid-19: Grávidas podem transferir anticorpos induzidos pela vacina para o feto, aponta estudo

Pesquisa publicada em abril concluiu que mães grávidas que desenvolveram anticorpos contra o Coronavírus após receberam a vacina Pfizer podem transferi-los para o feto, o que reforça aos benefícios da vacinação nesse grupo.

Covid-19: Grávidas podem transferir anticorpos induzidos pela vacina para o feto, aponta estudo
Foto de João Paulo de Souza Oliveira no Pexels

As campanhas de vacinação contra o Coronavírus já estão a todo vapor em diversos países ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Mas, ainda assim, novas vacinas, e até mesmo aquelas que já foram aprovadas, continuam a ser pesquisadas para garantir sua segurança em grupos como as gestantes, que estão sob alto risco de infecção grave por Covid-19 e morte, mas que ainda não foram incluídas no calendário de vacinação. “Isso porque os testes de eficácia realizados em todas as vacinas atualmente em desenvolvimento não contemplaram gestantes. Logo, não se sabe se a aplicação do imunizante contra a COVID-19 nesse grupo é seguro ou pode causar algum tipo de complicação. E o mesmo vale para lactantes e mulheres na fase pós-parto”, diz a Dra. Eloisa Pinho, ginecologista e obstetra da Clínica GRU. Porém, agora, um estudo1 pré-publicado em abril no site medRxiv, que reúne relatórios preliminares ainda não revisados por pares, apontou que os fetos podem sim se beneficiar da vacinação contra a COVID-19. “Pesquisas2 anteriores já mostraram que mulheres que se infectaram com o vírus Sars-Cov-2 e desenvolveram Covid-19 foram capazes de transmitir anticorpos aos fetos, o que confere proteção contra a doença. O presente estudo, por sua vez, concluiu que mães grávidas que desenvolveram anticorpos específicos para a SARS-CoV-2 produzidos a partir da vacina Pfizer podem transferi-los para o feto”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.

Para chegar nessa conclusão, os pesquisadores colheram amostras de sangue do feto e da paciente de 1094 gestantes que entraram em trabalho de parto em 8 hospitais de Israel, que foram então divididas em três grupos: 1) pacientes que receberam a vacina durante a gravidez; 2) pacientes que foram testadas positivas para Covid-19 durante a gestação; 3) pacientes que não foram vacinadas ou não tiveram infecção pela COVID-19 durante a gravidez, servindo assim como grupo de controle. Então, através da sorologia das amostras de sangue coletadas, com análise da quantidade de anticorpos presentes, os pesquisadores mostraram que a imunização pré-natal com a vacina Pfizer (BNT162b2 mRNA) foi capaz de promover uma imunidade materna robusta produzida por anticorpos específicos associada a um aumento nos anticorpos protetores na circulação fetal, o que significa então que a resposta imunológica da mãe foi efetivamente transferida para o feto. “O resultado de estudo reforça então o benefício da vacinação contra o Coronavírus em gestantes, algo que vem sendo inclusive sendo reforçado por entidades médicas latinas de Reprodução Humana3, que defendem que, no caso de indivíduos vulneráveis que apresentam alto risco de infecção e/ou comorbidades, incluindo as grávidas, não receber a vacina supera o risco de ser vacinado, previamente ou durante a gravidez”, diz o especialista.

No entanto, é importante ressaltar que o estudo não quer dizer que as grávidas já devem tomar a vacina, afinal, trata-se de uma publicação preliminar ainda em processo de revisão por pares. Portanto, seus resultados não devem ser considerados conclusivos ou usados para orientar a prática clínica. “Além disso, o estudo possui limitações, como não incluir na amostra a maioria dos partos emergenciais, visto que as coletas foram realizadas durante o dia, e ter começado a coleta de amostras antes do início da imunização contra a COVID-19. Dessa forma, é necessário que mais pesquisas sejam realizadas sobre o tema para realmente comprovar a conclusão levantada”, ressalta o médico.

Então, até que o estudo passe pelo processo de revisão por pares e mais pesquisas sejam desenvolvidas, o dilema das mulheres tentantes em meio a pandemia continua: afinal, devo ou não esperar a vacina para engravidar? “Essa é uma dúvida muito comum das pacientes: aguardar ou não a vacina para depois voltar a tentar engravidar. O que a gente recomenda é a individualização, pois depende de vários fatores: se a mulher já é infértil ou não, a idade dela e qual seria o prejuízo na fertilidade do futuro reprodutivo se, por exemplo, ela adiar seis meses ou mais. Tudo depende também do cronograma de vacinação, pois há pessoas que provavelmente só serão vacinadas daqui a um ano, enquanto outras serão imunizadas em três meses. E esperar muito pode impactar demais no futuro reprodutivo. Então, o mais correto é discutir a situação com médicos especialistas em Reprodução Humana para investigar as individualidades do casal e tomar a decisão mais responsável”, completa o Dr. Rodrigo Rosa.

Por sua vez, mulheres que já estão grávidas precisam manter todos os cuidados de prevenção contra o Coronavírus , incluindo o distanciamento social e o uso de máscaras, além de também adotarem medidas para potencializar a imunidade. “A adoção de cuidados que visem melhorar o sistema imunológico é especialmente importante para gestantes nesse momento, pois, durante a gravidez, o sistema imunológico da mulher trabalha de forma menos agressiva para evitar que o organismo reconheça o feto como um corpo estranho e o rejeite, tornando-se assim menos eficiente no combate a agentes patógenos e, consequentemente, mais vulnerável a sofrer com infecções e complicações”, explica a Dra. Eloisa Pinho. “Então, o ideal é procurar beber bastante líquido, controlar o estresse, dormir bem, praticar exercícios físicos de acordo com a recomendação de seu obstetra e, principalmente adotar uma alimentação balanceada.”

Mas, caso você tenha qualquer dúvida sobre imunidade, coronavírus ou vacinação durante a gravidez, o mais importante é que você consulte seu obstetra. “Apenas o médico especializado poderá solucionar corretamente todas as suas dúvidas e recomendar as melhores maneiras de manter você e o seu bebê em segurança”, finaliza a Dra Eloisa.

FONTE: DR. RODRIGO ROSA – Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

DRA. ELOISA PINHO – Ginecologista e obstetra, pós-graduada em ultrassonografia ginecológica e obstétrica pela CETRUS. Parte do corpo clínico da clínica GRU Saúde, a médica é formada pela Universidade de Ribeirão Preto, realiza atendimentos ambulatoriais e procedimentos nos hospitais Cruz Azul e São Cristovão, além de também fazer parte do corpo clínico dos hospitais São Luiz, Pró Matre, Santa Joana e Santa Maria.

1https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2021.03.31.21254674v1

2https://jamanetwork.com/journals/jamapediatrics/fullarticle/2775945

3https://sbra.com.br/wp-content/uploads/2021/02/SARS-Cov-TRADUC%CC%A7A%CC%83O-1-1.pdf