O retorno às aulas e outras atividades presenciais, crianças e adolescentes, grupo sensível à contaminação e transmissão do meningococo, estarão vulneráveis aos riscos da doença por causa do abandono vacinal
Os resultados da pesquisa convergem com dados do PNI (Programa Nacional de Imunizações) do Brasil, que apontam que, em 2020, apenas 73% do público-alvo da vacina meningocócica C, ofertada gratuitamente pelo SUS, cumpriu o esquema vacinal recomendado.
“Os mais afetados serão as crianças e adolescentes, grupo sensível à contaminação e transmissão do meningococo e estarão vulneráveis aos riscos da doença, quando retornarem às aulas e outras atividades presenciais, por causa do abandono vacinal. A diminuição da vacinação já vinha ocorrendo nos últimos anos e se tornou mais evidente em 2020. A vacinação é um serviço essencial que, mesmo em tempos de pandemia, deve ser mantido. A atualização da caderneta vacinal não só de crianças e adolescentes, como também de adultos e idosos, deve ser prioridade”, reforça a médica peditra Dra Lilian Zaboto.
Na década de 70, a população brasileira enfrentou a maior epidemia de meningite de sua história. O avanço dos casos foi contido graças à imunização de 90 milhões de pessoas em tempo recorde por meio de vacinas que protegeram os cidadãos contra a doença.
Quase 50 anos depois, o cenário atual gera preocupação em especialistas. Segundo dados do Ministério da Saúde, mais de 50% dos casos de meningite no Brasil entre 2015 e 2019 ocorreram em indivíduos maiores de 15 anos. Em 2020, de acordo com o número de casos notificados do DataSUS, esse índice chega a 55%.
Essa tendência de contágio está diretamente ligada ao perfil do público adolescente, que pode chegar a 20% dos portadores assintomáticos do meningococo e, por não manifestar sintomas, acaba infectando outras pessoas e representando uma ameaça para a proteção de populações mais vulneráveis ou que ainda não completaram o esquema vacinal, ou não fizeram a dose de reforço.
“Os adolescentes não respeitam muito quando o recomendado é não aglomerar, ou manter distância, essa idade gosta de compartilhar muitas coisas entre eles como copos , cigarros e narguilés, esse contato muito próximo, o beijo e a respiração facilita a transmissão da bactéria. A vacinação na adolescência protege não só o jovem vacinado, como os outros adolescentes dessa idade e crianças mais novas e pessoas mais velhas que têm contato esses adolescentes.” revela a Dra Lilian Zaboto, médica pediatra , membro da Sociedade Brasileira de Pediatria
Incorporada ao PNI (Programa Nacional de Imunizações) brasileiro no ano de 2020, para adolescentes de 11 a 12 anos, a vacina ACWY protege contra quatro diferentes sorogrupos de meningococo.
O imunizante funciona como uma proteção estendida para evitar novos casos de meningite, complementando a vacinação contra o sorogrupo C que é administrada na primeira infância (aos 3, 5 e 12 meses). ” Essa inclusão vai ajudar a diminuir expressivamente a circulação dessa doença grave no Brasil. Por isso é tão importante que as famílias dos adolescentes busquem pela vacina nos postos de saúde. O Brasil é um país que tem o maior programa de imunização do mundo e precisamos usufruir desse beneficio mantendo a carteira de vacinação em dia, independente da idade, pois muitos acham que ao completar 15 anos, não precisamos mais de vacinas “, explica a Dra Lilian Zaboto, médica pediatra.
A doença:
No dia 24, foi o Dia Mundial da Meningite, data que tem por objetivo reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico ágil para evitar as complicações dessa grave doença.
A doença pode ser causada por diversos agentes infecciosos, como bactérias, fungos e vírus. Em geral, a mais grave delas é a meningite bacteriana, e dentre elas se destaca a meningite meningocócica que, em 24 horas, pode mudar o rumo da vida do paciente: a evolução rápida e a alta letalidade são algumas das características mais preocupantes da infecção causada quando a bactéria Neisseria meningitidis (ou meningococo) atinge as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal.
Caso os pacientes não recebam o tratamento adequado rapidamente, 50% deles morrem e até 20% dos sobreviventes podem ficar com alguma sequela, como dano cerebral, perda auditiva ou amputação de membros. Considerada uma doença endêmica grave no Brasil, a enfermidade pode ser assintomática ou provocar sintomas graves, com rápida evolução. A vacinação é a forma mais recomendada e eficaz para evitar a doença.
Os sintomas iniciais da meningite meningocócica podem incluir febre alta, irritabilidade, dor de cabeça, náusea e vômito. Na sequência, o paciente pode apresentar pequenas manchas arroxeadas na pele, rigidez na nuca e sensibilidade à luz. Se não for rapidamente tratado, o quadro pode evoluir para confusão mental, convulsão, choque, infecção generalizada, falência múltipla de órgãos e risco de morte.
Prevenção da meningite meningocócica.
Atualmente, no Brasil, existem vacinas para a prevenção dos 5 sorogrupos ou tipos mais comuns de meningococo: A, B, C, W e Y. O de maior incidência é o C, responsável por 60% dos casos de doença meningocócica quando observamos todas as faixas etárias. Já em bebês no primeiro ano de vida e crianças menores de 10 anos no Brasil, o sorogrupo B é o principal causador da doença.
Nos postos de saúde, a vacina contra a doença causada pelo meningococo C é gratuita para bebês, com doses administradas aos 3 e 5 meses de idade, e um reforço aos 12 meses, que pode ser aplicado em crianças menores de 5 anos de idade. A vacina contra os sorogrupos A, C, W e Y é oferecida em dose única para adolescentes entre 11 e 12 anos
Já o sorogrupo B é prevenido por vacinação disponível somente na rede particular, com doses previstas para os 3 e 5 meses de idade, e mais uma entre 12 e 15 meses. Outras formas de prevenção da meningite meningocócica incluem evitar aglomerações e manter os ambientes ventilados e limpos. contato@dudacomunicacao.com.br