Estudos investigam efeito imunomodulador de probióticos e seu papel como aliado contra infecções virais, incluindo Covid-19

Reforço do sistema imunológico e prevenção de algumas infecções respiratórias virais são papeis já atestados das chamadas “bactérias do bem”

Estudos investigam efeito imunomodulador de probióticos e seu papel como aliado contra infecções virais, incluindo Covid-19
Médico vetor criado por macrovector – br.freepik.com

Há um ano, o mundo enfrenta a pandemia global do novo coronavírus, causada pelo SARS-CoV-2. E, embora as vacinas e novos medicamentos para gerenciar a Covid-19 sejam iniciativas muito aguardadas, médicos e pesquisadores dedicam-se diariamente à busca por alternativas promissoras para diminuir o contágio pela infecção e modular a resposta imune contra essa doença que ainda é tão pouco conhecida.

Nesse cenário, uma revisão recente da Nutrition Research¹ incluiu 4.500 estudos experimentais, publicados nos últimos dez anos, que avaliaram o papel dos probióticos na gestão de respostas imunes, concluindo que os microrganismos vivos são eficazes no reforço e equilíbrio imunológico, além de indicarem ser plausível o uso profilático de algumas cepas de probióticos contra infecções respiratórias virais causadas por vírus como o influenza A (H1N1) e a família dos coronavírus, incluindo o SARS-CoV-2, causador da Covid-19.

Segundo a publicação, diversas infecções virais estão associadas à disbiose, definida como a alteração da microbiota intestinal, tornado os probióticos cruciais em seu tratamento. Mais além, o estudo indica que probióticos podem modular respostas imunológicas, ajudando a diminuir as citocinas inflamatórias, característica da Covid-19, o que os torna promissores para futuras investigações clínicas sobre seu papel profilático contra a doença. Em particular, o estudo aponta cepas microbianas que podem ser alvos de tais ensaios, incluindo Lactobacillus rhamnosus, Lactobacillus gasseri, Lactobacillus casei, Bifidobacterium bifidum e Bifidobacterium subtilis 3.

Um dos estudos analisados na publicação, conduzido pelo grupo de Dannelly², no formato ensaio duplo-cego controlado por placebo, separou dois grupos de voluntários: um deles recebeu uma combinação de três tipos de Lactobacillus, já o outro recebeu apenas placebo. Ao final de 12 semanas,  o grupo que tomou os probióticos teve 50% mais proteção contra sintomas da gripe e resfriados comparado ao grupo placebo.

Outra pesquisa, realizada pelo grupo de Touger-Decker³, conduziu um ensaio para avaliar a eficácia de cepas probióticas Lactobacillus rhamnosus GG e Bifidobacterium lactis Bb-12 na melhoria da qualidade de vida em pacientes afetados por infecções respiratórias superiores. Dos  231 inscritos, 114 indivíduos tomaram as cepas probióticas e os 117 restantes receberam um placebo por 12 semanas. A gravidade da infecções respiratórias foi 34% menor no grupo que recebeu dosagem de probióticos, com melhoria da qualidade de vida dos pacientes, sem quaisquer efeitos adversos reportados.

Outro modelo de análise, dessa vez em animais, coordenado pelo grupo de Song4, avaliou em teste clínico a eficácia do Lactobacillus rhamnosus M21contra infecção respiratória utilizando probióticos. Houve uma diferença significativa na taxa de sobrevivência dos camundongos após a administração de Lactobacillus. A dosagem de bactérias probióticas via oral elevou a taxas de sobrevivência em 40%. O tratamento aumentou a produção de IgA secretora e reduziu a expressão níveis de citocinas pró-inflamatórias TNF-α e IL-6 nos pulmões dos camundongos infectados.

 “A ingestação de probióticos aumenta a proteção do organismo por conseguir equilibrar as respostas imunológicas (Th1 / Th2), responsáveis pelo processo pró-inflamatório e antiinflamatório das citocinas. A ação pode ajudar a diminuir o efeito da tempestade de citocina, uma das consequências mais preocupantes causadas pela Covid-19 e que pode causar inflamação pulmonar crônica e até a falência de órgãos”, explica Décio Chinzon médico gastroenterologista e presidente da Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). “Além disso, as bactérias que promovem a saúde, segundo a definição de probióticos pela OMS, têm um papel potencial na prevenção de várias doenças. Assim, podemos considerar plausível a utilização de probióticos na prevenção de infecções virais como Covid-19, em virtude de seu mecanismo de ação no organismo, ao dificultar a adesão do vírus às células epiteliais, melhorar o funcionamento da barreira mucosa, modular a resposta imune e estimular ação antioxidante”, completa.

“A cada dia perdemos novas vidas por conta dessa pandemia e ainda há poucas opções de medicamentos concretos disponíveis para o tratamento da população. Por isso, cuidar mais de perto da imunidade se tornou imprescindível e os probióticos têm inúmeros benefícios nesse aspecto. É importante também manter uma rotina saudável, dormindo entre 8 e 9 horas por dia, se alimentar bem e praticar atividade física sempre que possível. A máscara, a higiene das mãos e evitar aglomerações ainda vão fazer parte da nossa rotina por algum tempo e são as armas mais conhecidas para se evitar o vírus” pondera o médico.

Referências consultadas:

  1. Kuljit Singh, Alka Rao CSIR-Institute of Microbial Technology, Sector 39A, Chandigarh 160036 India Academy of Scientific and Innovation Research (AcSIR), Ghaziabad, Uttar Pradesh 201002 India
  2. Zhang H , Yeh C , Jin Z , Ding L , Liu BY , Zhang L , et al. Prospective study of probiotic supplementation results in immune stimulation and improvement of upper respiratory infection rate. Synth Systems Biotechnol 2018;3:113–20 .
  3. Smith TJ , Rigassio-Radler D , Denmark R , Haley T , Touger-Decker R . Effect of Lactobacillus rhamnosus LGG(r) and Bifidobacterium animalis ssp. lactis bb-12(r) on health-related quality of life in college students affected by upper respiratory infections. Br J Nutr 2013;109:1999–2007 .
  4. Youn H-N , Lee D-H , Lee Y-N , Park J-K , Yuk S-S , et al. Intranasal administration of liveLactobacillusspecies facilitates protection against influenza virus infection in mice. Antiviral Res 2012;93:138–43

lourannie.muniz@hypera.com.br