A Pandemia e o Caos no Comércio Exterior  

Angela Cristina Kochinski Tripoli (*) 

É comum a concepção de que o mundo não estava preparado para algo tão imenso como a pandemia causada pela COVID-19. Essa afirmação até já faz parte do vocabulário diário, é consenso universal, mas o que não é tão natural é a forma como tudo vem se resolvendo, especialmente quando o assunto envolve as questões de negociações internacionais.

As práticas comerciais passaram a viver novas tendências e a praticar novas formas de execução dos negócios, devido às mais improváveis condições até para as então costumeiras e tradicionais vendas, e para recebimentos principalmente de insumos, matérias-primas e demais produtos advindos, principalmente, do maior país asiático que é o maior fornecedor de diversos setores industriais do mundo todo. Especialmente dos setores tecnológicos e automotivos, bem como de uso e consumo geral.

As empresas reformularam seus planejamentos estratégicos, os orçamentos semestrais e anuais passaram por revisões sem precedentes (o que de certa forma provocou desestabilização em diversos setores da economia), e fato é que não há facilidade para encontrar um setor industrial que tenha se mantido firme e em crescimento constante desde o início de 2020. Para aqueles que praticam o Comércio Exterior, de um modo geral, é possível afirmar que quase sua totalidade sentiu o impacto de forma muito negativa. Houve aumentos dos valores de fretes internacionais, tanto aéreos quanto marítimos, para importações e exportações, causados pela escassez de navios devido às interrupções dos embarques na maioria dos portos do mundo desde março do ano passado.

Outra situação caótica para o mercado internacional foi causada pelo navio Ever Given, de bandeira panamenha e procedente da China, o qual perdeu o controle da embarcação enquanto navegava pelo canal de Suez que liga o Mar Mediterrâneo e o Mar Vermelho. Ali funciona como um atalho entre a Europa e a Ásia, facilitando a rota dos navios pois, sem essa opção, eles têm de dar a volta em toda a extensão da África, passando pelo chamado Cabo da Boa Esperança que, além de perigoso, deixa o trajeto mais extenso e custoso.

Passam por esse canal cerca de 12% da economia do mundo. Tal acidente comprometeu a passagem de 300 navios, gerando inúmeros atrasos de embarques e desembarques de cargas em vários lugares do mundo, com impactos significativos também para o comércio exterior brasileiro. Enquanto não se resolvia a questão da continuidade da viagem do Ever Given, a falta de contêineres e de navios para embarques de cargas causada pelos navios parados na região trouxe rápidos reflexos como o aumento significativo dos valores de fretes internacionais, e consequentes revisões de planejamentos de importações e exportações no contexto global.

Para ajudar, ainda temos dificuldades políticas advindas de fatores como a guerra comercial entre Estados Unidos e China, instabilidade política e insegurança jurídica no Brasil. E as empresas em nosso país se deparam também com significativo aumento da taxa cambial, uma desvalorização significativa do Real frente ao Dólar americano, deflagrando assim aumento excessivo nos preços de bens e produtos importados. Mesmo produtos produzidos aqui, muitos têm em sua composição a importação de matéria-prima. Ou seja, a desvalorização da nossa moeda fere claramente a cadeia de produção como um todo.

E para não dizer que não falei das flores, não se pode negar que este significativo débito causado pela desvalorização do Real incentivou e motivou as exportações brasileiras. Isso de fato deve ser bem visto e tratado sobre fortes tendências de criações de novos incentivos para que as empresas brasileiras possam participar do comércio exterior com suas exportações cada vez mais.

Angela Cristina Kochinski Tripoli

(*) Angela Cristina Kochinski Tripoli é coordenadora dos cursos Tecnologia em Comércio Exterior e Gestão Global Trading: Negócios, Logística e Finanças Globais do Centro Universitário Internacional UNINTER