Charles H. Spurgeon, príncipe dos pregadores, completaria 187 anos

O pregador e evangelista, nascido em 19 de junho de 1834, publicou mais de 3.561 sermões e 135 livros em 40 anos de ministério.

 Charles H. Spurgeon, príncipe dos pregadores, completaria 187 anos
Imagem: reprodução

Pão Diário, Curitiba, 16 de junho — No próximo sábado (19), comemora-se o aniversário de Charles H. Spurgeon, um dos maiores evangelistas do século 19, conhecido como o “príncipe dos pregadores”. Após quase 130 anos de sua morte, seu exemplo de fé e prática do evangelho ainda continua inspirando milhares de cristãos ao redor do mundo. Confira o artigo especial de Charles Spurgeon sobre as bem-aventuranças que preparamos para celebrar a data. O texto foi retirado do novo livro Sermões de Spurgeon sobre o Sermão do Monte, de Publicações Pão Diário:

Exposição por C. H. Spurgeon

Mateus 5:1-30

Jesus, vendo a multidão, subiu a um monte, e, assentando-se, aproximaram-se dele os seus discípulos; e, abrindo a boca, os ensinava, dizendo… (vv.1,2). Nosso Salvador logo reuniu uma congregação. As multidões perceberam nele o amor por elas e a disposição de lhes conceder bênçãos. Portanto, reuniram-se ao redor dele. Jesus escolheu a montanha e o ar livre para entregar esse grande discurso — e nos alegraríamos de encontrar tal local para nossas assembleias —, mas em nosso clima instável não o podemos. “…e assentando-se”. O pregador sentou-se e o povo permaneceu de pé. Poderíamos fazer uma mudança útil se, de vez em quando, adotássemos um plano semelhante. Temo que a comodidade da postura pode contribuir para o surgimento de uma letargia de coração nos ouvintes. Lá, Cristo assenta e “aproximaram-se dele os seus discípulos”. Eles formavam o círculo íntimo que sempre estava próximo a Ele, e a estes Jesus comunicou Seus diletos segredos. Porém, Ele também falou à multidão, por isso se diz “abrindo a boca”, como fazia sempre que houvesse grandes verdades de Deus para dela proceder e multidão tão vasta para o ouvir! “…abrindo a boca, os ensinava, dizendo…”.

Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus… (v.3). Este é um grande começo para o discurso do Salvador: “Bem-aventurados são os pobres”. Ninguém jamais considerou os pobres como Jesus, porém aqui Ele falava da pobreza de espírito, uma sujeição de coração, a ausência de autoestima. Onde esse tipo de espírito for encontrado, é doce a pobreza! “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus”.

…bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados (v.4). Há uma bênção que sempre acompanha o choro em si, mas, quando a tristeza é de procedência espiritual — prantear o pecado —, então, ela é certamente abençoada!

Pai, que eu não pranteie senão pelo pecado

E diante de ninguém, a não ser do Senhor.

E que assim eu seja — como deveria —

Um constante pranteador!

…bem-aventurados os mansos… (v.5). Os de espírito tranquilo, os gentis, os que se autossacrificam.

…porque eles herdarão a terra… (v.5). Parece que eles serão expulsos do mundo, mas não serão porque “herdarão a terra”. Os lobos devoram as ovelhas, mesmo assim há mais ovelhas do que lobos. E as ovelhas continuam a se multiplicar e a se alimentar em pastos verdejantes.

…bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça… (v.6). Os que anseiam por serem santos, que desejam ardentemente servir a Deus, ansiosos por espalhar cada reto princípio — esses são benditos!

…porque eles serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos (vv.6,7). Aqueles que são bondosos, generosos, solidários, prontos a perdoar quem os feriu — esses são bem-aventurados.

…porque eles alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos de coração… (vv.7,8). É uma aquisição muito abençoada ter esse anseio pela pureza que leva a amar tudo o que é casto e santo e ter aversão a tudo o que é questionável e ímpio. Benditos são os de coração puro.

…porque eles verão a Deus… (v.8). Há uma maravilhosa ligação entre o coração e os olhos! Um homem que tenha máculas de impureza em sua alma não pode ver Deus. Contudo, aqueles que são purificados no coração são purificados na visão também, pois “verão a Deus”.

…bem-aventurados os pacificadores… (v.9). Aqueles que sempre encerram uma discussão, se puderem. Os que se expõem para evitar a discórdia.

…porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus… (vv.9,10). Eles compartilham o “Reino dos céus” com o pobre de espírito! Normalmente são mal falados. Às vezes têm de sofrer o sequestro de seus bens — muitos entregaram sua vida por amor a Cristo. Porém, são verdadeiramente bem-aventurados porque “deles é o Reino dos céus”.

…bem-aventurados sois vós quando vos injuriarem, e perseguirem, e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa (v.11). Prestem atenção, deve ser dito mentindo, e deve ser por causa de Cristo, se você deseja ser bem-aventurado. Não há bênção em ser mal falado justamente, ou que haja mentira sobre você porque você tem alguma amargura em seu próprio espírito.

Exultai e alegrai-vos, porque é grande o vosso galardão nos céus; porque assim perseguiram os profetas que foram antes de vós (v.12). Você está na verdadeira sucessão profética se alegremente suporta censura desse tipo por amor a Cristo — você prova que tem a marca e o selo daqueles que estão a serviço de Deus!

Vós sois o sal da terra… (v.13). Seguidores de Cristo, vocês são o sal da Terra. Vocês ajudam a preservá-la e dominar a corrupção que há nela!

…e, se o sal for insípido, com que se há de salgar? (v.13). Um cristão professo sem a graça em si — um religioso cuja religião é morta — para que serve? E ele está em uma condição sem esperança. Você pode salgar a carne, mas não pode salgar o sal!

Para nada mais presta, senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens (v.13). Há pessoas que creem que você pode ser filho de Deus hoje e filho do diabo amanhã. Depois, novamente filho de Deus e no dia seguinte, filho do diabo. No entanto, creiam-me, não pode ser assim! Se a obra da graça for realmente efetuada por Deus em sua alma, ela durará por toda sua vida! E se não permanecer, isso prova que não é obra de Deus! O Senhor não coloca Suas mãos à obra uma segunda vez! Não há segunda regeneração. Você pode ser nascido de novo, mas não pode nascer de novo vez após vez, como alguns ensinam! Não há qualquer nota nas Escrituras desse tipo. Portanto, alegro-me que a regeneração uma vez verdadeiramente efetuada pelo Espírito de Deus é semente incorruptível que vive e permanece para sempre! No entanto, cuidado, professo, para não ser como o sal que perdeu o sabor e, portanto, não ter mais utilidade.

Vós sois a luz do mundo… (v.14). Cristo jamais considerou a produção de cristãos secretos — cujas virtudes nunca seriam exibidas —, peregrinos que viajariam para o Céu à noite e não seriam vistos por seus companheiros de peregrinação ou qualquer outra pessoa.

…não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas, no velador, e dá luz a todos que estão na casa (vv.14,15). Os cristãos precisam ser vistos e precisam deixar sua luz ser contemplada! Jamais deveriam tentar disfarçá-la. Se você é uma candeia, não tem o direito de estar debaixo do alqueire, ou da cama; seu lugar é no velador, onde sua luz pode ser vista.

Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai, que está nos céus (v.16). Não para que glorifiquem você, mas para que glorifiquem o Pai que está no Céu.

Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim ab-rogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til se omitirá da lei sem que tudo seja cumprido (vv.17,18). Nem o traço do “T” ou o ponto do “i” será extraído da Lei de Deus! Os requisitos dela serão sempre os mesmos — imutavelmente resolutos e nunca diminuídos, nem por coisas tão pequenas quanto “um jota ou til”.

Qualquer, pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus… (vv.19,20). Parecia que tinham alcançado o nível mais elevado de justiça — na verdade, eles achavam que haviam superado a marca em vez de estar abaixo dela. Porém, Cristo diz a Seus discípulos: “se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus…”.

…de modo nenhum entrareis no Reino dos céus (v.20). Essas são palavras solenes de advertência! Deus permita que tenhamos a justiça que excede a dos escribas e fariseus, uma justiça realizada pelo Espírito de Deus, uma justiça de coração e de vida!

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; mas qualquer que matar será réu de juízo (v.21). A antiguidade é frequentemente invocada como autoridade, mas nosso Rei faz pouco caso dos “antigos”. Ele começa com uma das alterações deles na Lei de Seu Pai. Haviam acrescentado aos preservados oráculos. A primeira parte do dito que nosso Senhor citou era divina, mas esse dito fora arrastado para um nível inferior pelo acréscimo da corte humana e da responsabilidade do assassino em lá comparecer. Assim, acabou se tornando mais um provérbio entre os homens do que uma declaração inspirada pela boca de Deus. Seu significado, como pronunciado pelo Senhor, possuía um âmbito mais amplo do que o contido no assassinato em si, de forma que poderia ser trazido diante de um assento de juízo humano. Reduzir um mandamento é comparável a anulá-lo. Também não podemos nos fiar na antiguidade para nos assegurar. É melhor toda a verdade recentemente afirmada do que uma velha mentira em uma língua antiga.

Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo, e qualquer que chamar a seu irmão de raca será réu do Sinédrio; e qualquer que lhe chamar de louco será réu do fogo do inferno (v.22). O assassinato está contido na ira, pois desejamos o mal ao objeto de nossa cólera, ou até desejamos que ele não existisse — e isso é matá-lo em desejo. A ira “sem motivo” é proibida pelo mandamento que diz: “Não matarás”, pois a cólera injustificada é assassinato no intento. Tal ira sem motivação nos coloca sob um juízo mais elevado do que o das cortes policiais judaicas. Deus conhece as emoções das quais os atos de ódio podem brotar e nos chama para prestar contas tanto pelo sentimento de raiva quanto pelo ato de assassinato! As palavras também estão debaixo da mesma condenação — um homem será julgado pelo que diz para seu irmão. Chamar um irmão de raca, ou sujeito indigno, é matá-lo em sua reputação. E lhe dizer “louco” é assassiná-lo na mais nobre característica de um homem. Dessa forma, tudo está debaixo da mesma condenação que os homens distribuem em seus júris. Sim, e o que é ainda pior: a punição concedida pela corte mais superior do Universo condena os homens ao “fogo do inferno”. Assim nosso Senhor e Rei restaura a Lei de Deus à sua força original e nos adverte que denuncia não apenas o ato de assassinato, mas o próprio pensamento, sentimento e palavras que tendem a ferir um irmão ou aniquilá-lo pelo desprezo.

Portanto, se trouxeres a tua oferta ao altar e aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai reconciliar-te primeiro com teu irmão, e depois vem, e apresenta a tua oferta (vv.23,24). O fariseu ressaltaria, como uma cobertura para sua maldade, que trouxe um sacrifício para fazer expiação, mas o nosso Senhor pede primeiramente que perdoemos nosso irmão e depois que façamos a apresentação da oferta. Precisamos adorar a Deus ponderadamente e, se no curso dessa ponderação lembrarmos que nosso irmão tem algo contra nós, devemos parar. Se prejudicamos alguém, devemos pausar, cessar a adoração e apressar-nos em buscar a reconciliação. Lembramos com facilidade quando temos alguma coisa contra nosso irmão, mas agora a memória deve se voltar para outra direção! Somente quando nos lembramos de nosso erro e nos reconciliamos, podemos esperar a aceitação do Senhor. A regra é: primeiro a paz com o homem e depois a aceitação de Deus. O santo deve ser percorrido primeiro para depois alcançar o mais santíssimo. Depois de ter a paz estabelecida com nosso irmão, podemos concluir nosso culto ao nosso Pai — e nós o faremos com o coração leve e zelo verdadeiro. Anseio estar em paz com todos os homens antes de tentar adorar a Deus, para que eu não apresente a Ele um sacrifício de tolo.

Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que, de maneira nenhuma, sairás dali, enquanto não pagares o último ceitil (vv.25,26). Anseie pela paz em todas as disputas. Abandone o conflito antes de começá-lo. Busque acordos pacíficos em todos os processos judiciais. Nos tempos de nosso Senhor, esse era com frequência um meio muito lucrativo e, normalmente, hoje é assim também. Melhor perder seus direitos do que cair nas mãos daquele que o depenará em nome da justiça e o apreenderá enquanto houver qualquer coisa parecida com uma demanda que possa ser contra você ou outro centavo possa lhe ser extraído! Em um país em que a “taxa de justiça” significava usurpação, era sábio ser assaltado e não reclamar. Até mesmo em nosso país, um magro acordo é melhor de que um processo gordo. Muitos procuram a corte para ganhar lã e saem de lá quase tosquiados. Não leve processos raivosos à corte, ao contrário, faça as pazes o mais rápido possível!

Ouvistes que foi dito aos antigos: Não cometerás adultério. Eu porém, vos digo que qualquer que atentar numa mulher para a cobiçar já em seu coração cometeu adultério com ela (vv.27,28). Neste caso, nosso Rei coloca de lado as interpretações humanas dos mandamentos de Deus e faz com que a Lei seja vista em toda sua amplitude espiritual. Ao passo que a tradição tinha confinado a proibição a um ato flagrante de falta de castidade, o Rei mostra que ela proibia os desejos impuros do coração. Aqui a Lei divina é mostrada como se referindo não apenas à prática da atividade criminosa, mas até mesmo ao desejo, imaginação ou paixão que sugeririam tal infâmia! Que Rei é esse nosso, que estende Seu cetro sobre o reino de nossa luxúria interior! Quão soberanamente Ele declara: “Eu porém, vos digo”! Quem, a não ser um ser divino, tem autoridade para falar desse modo? Sua palavra é lei. Então é assim que deve ser, visto que Ele aborda o vício em sua origem e proíbe a impureza no coração. Se o pecado não for autorizado na mente, ele jamais será manifesto no corpo! Essa, portanto, é uma maneira muito eficaz de tratar com o mal. Contudo, quão esquadrinhadora é! E quão condenatória! Olhares enviesados, desejos não castos e fortes paixões são a própria essência do adultério — e quem pode alegar ter a vida inteira livre deles? E são essas coisas que maculam o homem. Senhor, afasta-as de minha natureza e faz-me puro interiormente!

Portanto, se o teu olho direito te escandalizar, arranca-o e atira-o para longe de ti, pois te é melhor que se perca um dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado no inferno (v.29). Deve-se abrir mão daquilo que causa o pecado tanto quanto do pecado em si. Não é pecado ter um olho, ou cultivar uma percepção aguçada — porém, se o olhar do conhecimento especulativo nos conduzir a ofender pelo pecado intelectual, ele se torna a causa do mal e deve ser mortificado. Devo me livrar de qualquer coisa, mesmo que inofensiva, que me leve a fazer, ou pensar, ou sentir erradamente, tanto quanto se fosse o próprio mal! Mesmo que me desapegar disso envolva privação, deve ser descartado mesmo assim, pois até uma perda séria em uma direção é muito melhor do que perder o homem por completo! Melhor um santo cego do que um pecador míope! Se a abstinência do álcool causa enfraquecimento do corpo, seria melhor ser fraco do que forte e cair em embriaguez. Posto que as vãs especulações e arrazoamentos colocam os homens em incredulidade, não faremos qualquer uma delas! Ser “lançado no inferno” é um risco muito grande a se correr para meramente se permitir ter um olho mau de luxúria ou curiosidade.

E, se a tua mão direita te escandalizar, corta-a e atira-a para longe de ti, porque te é melhor que um dos teus membros se perca do que todo o teu corpo seja lançado no inferno (v.30). A causa da ofensa pode ser ativa como a mão, em vez de intelectual como o olho, mas é melhor ser atrasado em nosso trabalho do que atraído para a tentação. A mão mais hábil não deve ser poupada caso ela nos encoraje a fazer o mal! Não é porque algo nos torna mais inteligentes e bem-sucedidos que nos é permitido colocá-lo em prática — se ficar provado que é uma causa frequente de nossa queda no pecado, é melhor abandoná-lo e nos colocar em desvantagem em nossa carreira profissional do que arruinar todo nosso ser pelo pecado. A santidade deve ser nosso primeiro objetivo — tudo o mais deve tomar lugar secundário. O olho direito e a mão direita não serão mais direitos se nos levarem ao erro. Mesmo mãos e olhos devem ser deixados para que não ofendamos a Deus com eles. No entanto, que nenhum homem leia essa passagem literalmente e, assim, mutile seu próprio corpo como alguns tolos fanáticos já fizeram! O significado verdadeiro é bem claro.

Trecho do lançamento Sermões de Spurgeon sobre o Sermão do Monte

págs. 9 a 30, de Publicações Pão Diário

imprensa@paodiario.org