Estudo explica como a dieta melhora o microbioma intestinal, o que diminui o risco de doenças

Como consequência da modulação do microbioma intestinal, aumentando o número de bactérias benéficas, a dieta também pode diminuir, por tabela, o risco de doenças. Essa é a conclusão de um recente estudo publicado na Nature Medicine

Estudo explica como a dieta melhora o microbioma intestinal, o que diminui o risco de doençasHá um interesse crescente no microbioma do corpo humano e sua conexão com doenças crônicas. Um novo estudo, publicado em fevereiro deste ano na revista científica Nature Medicine, examinou essa conexão, juntamente com a forma como os alimentos que comemos influenciam a composição do nosso microbioma. “O microbioma protege o hospedeiro e desempenha um papel importante para diminuir o risco de doenças. Ele consiste em minúsculos organismos (bactérias, vírus e outros micróbios) encontrados no trato gastrointestinal, principalmente no intestino delgado e grosso. A flora intestinal normal – outro termo para o microbioma – protege seu hospedeiro humano. Para que o microbioma floresça, o equilíbrio certo deve existir, com as espécies saudáveis dominando as menos saudáveis”, destaca o médico nutrólogo e geriatra Dr. Juliano Burckhardt, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e da International Colleges for Advancement of Nutrology e Membro Titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Os cientistas não entendem totalmente como o microbioma influencia o risco de desenvolver doenças crônicas, como doenças cardíacas, obesidade e diabetes tipo 2, mas o novo estudo ajuda a entender melhor esse mecanismo.

Os pesquisadores estudaram mais de 1.100 indivíduos inscritos no PREDICT 1, um grande ensaio que analisa as respostas individuais aos alimentos. Eles usaram uma técnica chamada sequenciamento metagenômico para identificar, classificar, medir e analisar o material genético dos microbiomas dos participantes do estudo. Eles também coletaram informações detalhadas sobre a ingestão alimentar de longo prazo de todos esses indivíduos, para que pudessem analisar seus padrões alimentares, incluindo a ingestão de diferentes grupos alimentares, alimentos e nutrientes. Além disso, eles coletaram informações dos participantes do estudo sobre uma variedade de fatores que são conhecidos por influenciar o metabolismo e o risco de doenças, incluindo medidas pré e pós-refeição de açúcar no sangue (glicose), colesterol e inflamação. Finalmente, eles mediram os atributos pessoais de saúde dos participantes do estudo, incluindo idade e peso. “O estudo descobriu que a saúde do microbioma é influenciada pela dieta e que a composição do microbioma influencia o risco de desfechos para a saúde. Os resultados mostraram que micróbios intestinais específicos foram associados a nutrientes, alimentos, grupos de alimentos específicos e à composição geral da dieta. Condições de saúde como doenças cardíacas, diabetes tipo 2, obesidade e inflamação geral parecem ser as mais afetadas pelas mudanças no microbioma influenciadas pela dieta”, explica o médico.

Por exemplo, padrões de dieta menos saudáveis (sobremesas lácteas, carnes não saudáveis, alimentos processados) suportaram espécies de bactérias do intestino que foram associadas a altas taxas de açúcar no sangue, colesterol e inflamação, que estão significativamente associadas a maior risco de eventos cardíacos, derrames e diabetes tipo 2. “Em contraste, um microbioma intestinal mais diversificado estava vinculado a padrões alimentares saudáveis (vegetais ricos em fibras, como espinafre e brócolis, nozes e alimentos de origem animal saudável, como peixes e ovos) e também associado a um menor risco de certas doenças crônicas. Além disso, o estudo descobriu que as gorduras poli-insaturadas (encontradas em peixes, nozes, abóbora, linho e sementes de chia, girassol, cártamo e óleos de soja não hidrogenados) produzem espécies intestinais saudáveis ligadas a um risco reduzido de doenças crônicas”, diz o Dr. Juliano Burckhardt.

Então, o que essas descobertas significam para nós? Primeiro, o estudo mostrou que comer mais alimentos vegetais não processados – frutas, vegetais, nozes, sementes e grãos inteiros – permite que o microbioma intestinal prospere. “Alguns alimentos de origem animal, como peixes e ovos, também são favoráveis. Evitar certos alimentos de origem animal, como carne vermelha e bacon, laticínios e alimentos altamente processados (mesmo alimentos vegetais processados, como molhos, feijões cozidos, sucos ou bebidas adoçadas com açúcar e sobremesas) impede que espécies menos saudáveis do intestino colonizem o intestino. É importante notar que a qualidade dos alimentos é fundamental; alimentos à base de plantas processados ou ultraprocessados não foram associados a aglomerados saudáveis de micróbios intestinais. Ao escolher os alimentos, leve em consideração se são processados ou não, além de se tratarem de alimentos vegetais ou animais”, diz o Dr. Juliano.

Os padrões de refeição que enfatizam os alimentos benéficos para o microbioma são os padrões alimentares de alimentos integrais baseados em vegetais. Isso inclui dietas veganas (sem produtos de origem animal) e ovo-vegetarianas (vegetarianas mais ovos). O padrão alimentar pescatariano, em que peixes oleosos e brancos são as carnes preferidas, também é bom para o microbioma. “Enfatizar alimentos vegetais minimamente processados permite que o microbioma intestinal prospere, fornecendo proteção ou diminui o risco de doenças crônicas como doenças cardíacas, diabetes, doenças metabólicas e obesidade”, finaliza o médico.

FONTE:

*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Geriatra e Nutrólogo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), Pós-Graduado em Geriatria no Instituto de Geriatria e Gerontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2007). Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal, o médico atuou e atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. É diretor médico do V’naia Institute.

LINK: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33432175/