A difícil tarefa de definir o Rock

(*) Rodrigo Otávio dos Santos

Dia 13 de julho se comemora o Dia Mundial do Rock aqui no Brasil. Sim, porque apesar de ser denominado mundial, tal data é comemorada apenas em terras tupiniquins. O restante do mundo não está nem aí para essa data. Que pena para o resto do mundo, não é mesmo? E o que é o Rock, afinal? A definição mais comum é de que se trata de um estilo musical marcado por uma música simples, tocada com apenas três ou quatro acordes. Ou seja, um gênero que exige poucos instrumentos, em geral guitarra, bateria, baixo e uma voz.

Porém, essa definição não consegue abranger, por exemplo, as músicas da banda canadense Rush ou dos ingleses da banda Yes. Ambos os grupos (e tantos outros como Emerson Lake & Palmer, Premiatta Forneria Marconi ou Violeta de Outono) estão longe, muito longe de usar apenas dois ou três acordes. E, ao mesmo tempo, coexistem na cabeça, nos ouvidos e na admiração dos fãs bandas como Ramones, Ac/Dc ou Motörhead que tocam, basicamente, músicas com apenas três acordes.

Também não podemos falar que o rock é algo ligado à juventude. Até já foi, mas Chuck Berry morreu aos 90 anos, em 2017, e Little Richard morreu no ano passado, aos 87 anos. Mick Jagger está com 77 anos e Paul McCartney completou 79 anos em 18 de junho deste ano. As pessoas que começaram a escutar os Beatles e os Rolling Stones na sua infância ou adolescência têm netos.

Poderíamos falar que é um estilo predominantemente anglófono, mas isso já deixou de ser verdadeiro há muitos anos. Aqui no Brasil, veja só, temos o Rock presente desde 1955, com Nora Ney, e pudemos acompanhar artistas como Roberto Carlos, Wanderléa e Erasmo Carlos desde o início dos anos 1960. Os Mutantes também ganharam o Brasil no final desta década, abrindo espaço para nomes ainda hoje vendedores de milhares de discos como Secos & Molhados – na década de 1970 – ou Legião Urbana – na década de 1980. Além do Brasil, Argentina, Estônia, Camarões ou Coréia possuem igualmente seus representantes do estilo. O Rock parece ser uma língua universal, um tipo de música que transcende barreiras linguísticas, geográficas e culturais.

Mas será que é mesmo um estilo de música? Será possível considerar que artistas como Sepultura, Celly Campello e Raul Seixas fazem o mesmo tipo de música? Colocando no papel parece que sim, afinal são músicas com baixo, bateria, guitarra e voz. Os olhos podem até aceitar isso, já os ouvidos dificilmente aceitarão. Além disso, se formos da sonoridade mais singela de Paula Toller ao som mais agressivo de Krisiun dificilmente aparecerão familiaridades. Além da idade e das barreiras linguísticas, o Rock também rompeu a barreira musical.

A última questão parece ser a da conduta, pois o Rock, em sua gênese, era um tipo de música ligado a comportamentos subversivos, radicais e, principalmente, rebeldes. Mas nem isso se sustenta neste mundo líquido do século XXI. Atualmente podemos encontrar artistas radicais, rebeldes ou desafiadores na linha de Jello Biafra ou Iggy Pop, até aqueles comedidos como Coldplay ou Ed Sheeran que se encaixam no rótulo de bons moços e jamais pensariam em agredir a sociedade. Do bonzinho ao mais “malvadão” há Rock para todos os estilos.

Sendo assim, o que é o Rock? Talvez seja tudo isso e mais um pouco, talvez não seja nada disso. Talvez tenha a ver com a música, talvez tenha a ver com o comportamento, ou simplesmente seja uma forma de ver o mundo. Para mim o Rock é um velhinho que, tal qual a Esfinge em Gizé, é indecifrável.

(*) Rodrigo Otávio dos Santos é doutor em História e professor do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação e Novas Tecnologias – Mestrado e Doutorado – do Centro Universitário Internacional UNINTER