Criança procrastina? Escola curitibana ajuda pais e mães a lidarem com o “depois eu faço”

A professora Caroline Brand conta porque é importante identificar esse comportamento desde cedo e dá ferramentas de apoio

Criança procrastina? Escola curitibana ajuda pais e mães a lidarem com o "depois eu faço"Seu filho enrola para escovar os dentes, tomar banho ou fazer a lição de casa? Sempre que pode arranja uma desculpa ou demora demais para concluir atividades simples? A procrastinação infantil existe e para os estudiosos ela é um reflexo de como os pais e responsáveis lidam com a rotina e atividades diárias.

A professora Caroline Brand, da Escola Interpares, de Curitiba (PR), notou que na pandemia aumentaram as reclamações sobre a procrastinação das crianças. Mas, antes de tudo, ela explica que essa é uma característica nata do ser humano, especialmente na infância.

“Todos nós nascemos com o impulso de buscar o que é mais prazeroso a curto prazo. O comportamento das crianças está carregado disso e, ao longo da vida, vamos aprendendo que alguns prazeres precisam vir após o cumprimento de atividades e obrigações não tão prazerosas. Na infância, é papel dos pais e professores ensinar isso”, explica Caroline.

A professora conta que o hábito de procrastinar potencializa reações de fuga em relação ao que não se gosta de fazer ou ao que não dá resultado imediato. Se não trabalhada, essa fuga pode trazer dificuldades práticas e emocionais na vida adulta.

 

Pandemia

Desde o no passado as famílias vivem situações até então atípicas, como o ensino remoto, que exigiu dos alunos e responsáveis uma dinâmica mais intensa de organização e tarefas em casa. Para muitos, foi nesse momento que a procrastinação se revelou um problema.

“As escolas, de forma geral, ouviram muitos relatos de pais e mães contando que os filhos não estavam dando conta de se organizar com as aulas ou mesmo que não finalizam coisas básicas. Embora nem sempre fique notório, isso é um reflexo de como toda a casa lida com a rotina”, explica a professora.

Pais e responsáveis que também enrolam ou que dão espaço para a barganha acabam gerando margem para a procrastinação dos filhos nas atividades diárias. Durante a pandemia o aumento dos afazeres dentro de casa trouxe esse problema em efeito cascata, tanto para os adultos quanto para as crianças.

Segundo Caroline, o exemplo dos pais é a principal ferramenta para evitar a procrastinação. “Familiares que procrastinam são tomados como modelo. Todo mundo na vida deixa coisas para depois, mas como a criança está no campo da experiência, do movimento, a tendência de fazer isso é potencializada”.

A profissional explica que grande parte das crianças que gostam de rotina tem bons exemplos em casa. Para as famílias que enfrentam o problema, ela conta que a melhor maneira de evitar a procrastinação é pela conversa e com exemplos palpáveis.

“A criança geralmente precisa de uma imagem a longo e a curto prazo. Fazer combinados práticos, que envolvem horários, um calendário e responsabilidades de cada um ajuda nessa visualização. Famílias que têm dificuldade para montar e cumprir esses combinados muitas vezes identificam que são compostas também por adultos procrastinadores, confirmando a questão do exemplo”, explica ela.

Na escola

Na Interpares, os alunos maiores se organizam por meio de um sistema de planners personalizados para cada um. “Deixamos as crianças com mais autonomia para se organizarem e elas passam a experienciar as vantagens e desvantagens de procrastinar. Afinal, quem cumpre todas as tarefas acaba tendo mais tempo para brincar”.

Caroline explica que, tanto na escola quanto em casa, crianças que desenvolvem estratégias para fugir do que deve ser feito precisam ser mais cobradas. Do contrário, elas se aperfeiçoam nisso.

“Se a criança tenta todo dia barganhar ou descumprir o combinado, é preciso colocar limites e até restringir coisas que ela gosta, como tv ou celular, para lembrá-la de que precisa fazer o que foi determinado. Além de sempre avaliar bem se a família está premiando o filho por questões que não exigem dele grandes esforços, o que é bem comum”, conta.

Ela lembra que combater com a procrastinação infantil gera uma demanda de tempo dos pais e professores. “Ter tempo de explicar, de não deixar barganhar, de entender a capacidade da criança, criar o senso do que vai ser feito, observar os limites, tudo isso envolve atenção e dedicação do adulto. Se o adulto procrastina nisso, recomeça o ciclo familiar”, alerta.