Agosto Branco alerta para a conscientização do câncer de pulmão

O câncer de pulmão é um dos tumores mais comuns e o maior responsável pelas mortes decorrentes de câncer no mundo. Por isso criou-se o Agosto Branco, campanha que visa a conscientização e alerta para esse tipo de doença. O tabagismo e a exposição passiva são responsáveis por 85% das ocorrências, sendo o cigarro o causador de 9 em cada 10 casos de câncer de pulmão em homens e cerca de 8 em cada 10 casos em mulheres. Estimativas do Instituto Nacional de Câncer – INCA apontam 30.200 novos casos para este ano, sendo 17.760 em homens e 12.440 em mulheres.

De acordo com a oncologista clínica Thais de Abreu Almeida, do Instituto de Oncologia do Paraná – IOP, esse tipo de tumor pode começar nas células que revestem os brônquios e partes do pulmão, como os bronquíolos e alvéolos e a partir de então se desenvolver para vários estádios. Os dois principais tipos de câncer de pulmão são o carcinoma de pequenas células e o carcinoma de não pequenas células. Eles se diferenciam pela aparência de suas células. 

“O carcinoma de pequenas células é o tipo mais agressivo de câncer e pode se disseminar rapidamente para outras partes do corpo, o que chamamos de metástase. Ele é fortemente vinculado ao consumo de tabaco. Já o carcinoma de não pequenas células é o tipo mais frequente, sendo responsável por 90% dos casos. O desenvolvimento do tumor é mais lento”, aponta a oncologista clínica.

Os sintomas do câncer de pulmão começam a surgir a partir do momento que ele está mais avançado, mas há exceções e pessoas com câncer inicial também podem apresentar tosse persistente, escarro com sangue, dor no peito, rouquidão, dificuldade em respirar, perda de peso e apetite, pneumonia recorrente ou bronquite, cansaço ou sensação de fraqueza. “Ao sentir alguns desses sintomas, a recomendação é que se procure um especialista, pois é o momento de se iniciar um tratamento efetivo caso seja comprovado o diagnóstico de neoplasia”, diz Dra. Thais.

Prevenção

Uma das formas de prevenção do câncer de pulmão é não fumar e evitar a exposição passiva, que é a inalação da fumaça de derivados do tabaco, como, por exemplo, cigarro, charuto, cigarrilhas, cachimbo, narguilé e outros produtores de fumaça, por indivíduos não fumantes e que convivem com fumantes. 

Os benefícios para quem deixa de fumar começam a ser sentidos rapidamente: 20 minutos após a última tragada, já se observa a regularização dos batimentos do coração. 5 anos sem fumar traz a redução da possibilidade de desenvolver câncer de pulmão. 

Como medida preventiva recomenda-se, também, evitar a exposição a agentes químicos encontrados principalmente no ambiente ocupacional, como arsênico, asbesto, berílio, cromo, radônio, urânio, níquel, cádmio, cloreto de vinila e éter de clorometil.

Dra. Thais Abreu faz um importante alerta: “É preciso identificar precocemente a doença, o que irá possibilitar um tratamento mais eficiente e assertivo. Por isso, recomendamos como forma de rastreamento a Tomografia Computadorizada de Tórax com baixa dose de radiação (TCBD), que é indicada para pacientes com alta carga tabágica a partir dos 50 anos. Deverão fazer o exame uma vez por ano durante o período de três anos. A recomendação deve ser orientada pelo oncologista, que irá determinar a frequência e quando começar o rastreamento”.

Fatores de risco

O tabagismo é a principal causa do câncer de pulmão. Mas há outros fatores que precisam ser levados em consideração também, como exposição à poluição do ar, infecções pulmonares de repetição, deficiência ou excesso de vitamina A, doença obstrutiva crônica (DPOC) – bronquite e enfisema pulmonar. A idade avançada também contribui na maior parte dos casos e costuma afetar mais as pessoas entre 50 e 70 anos bem como fatores genéticos e a história familiar. 

As duas mutações genéticas mais comuns que são ligadas ao câncer de pulmão são EGFR e KRAS. Existem testes moleculares que detectam as mutações específicas nos genes KRAS e EGFR. Com a análise dos dados do teste é possível fazer um tratamento personalizado. 

Formas de tratamento

“Em geral, o tratamento pode ser cirurgia, radioterapia, quimioterapia, imunoterapia e terapia-alvo, tudo vai depender do grau que estiver o câncer. Em casos tardios, a possibilidade de cura é menor e o tratamento mais agressivo”, cita. 

Com a evolução da biologia molecular, muitas novas drogas foram surgindo e hoje a terapia-alvo é o tratamento de primeira linha para câncer de pulmão avançado quando há alvo específico. Outra opção é a combinação de imunoterapia e quimioterapia. O tratamento com imunoterapia tem como objetivo potencializar o sistema imunológico de maneira a que este possa combater as células tumorais. 

O tratamento com terapia-alvo é usado em pacientes com tumores que tenham determinadas características genéticas (moleculares) e já se encontram com estadiamento avançado da doença.

Câncer de pulmão e COVID-19

A American Society of Clinical Oncology – ASCO fez uma recomendação a pessoas com câncer e sobreviventes de câncer que têm seu sistema imune comprometido sobre o impacto da COVID-19 em sua saúde. Segundo a entidade, os pacientes devem conversar com seus oncologistas e equipes de cuidados de saúde para discutir as opções para protegerem-se da infecção.

Pessoas com câncer, quando infectadas pelo novo coronavírus, podem apresentar um quadro inflamatório pulmonar intenso, causado pela lesão pulmonar. O oncologista clínico Gustavo Vasili Lucas, do IOP, aponta que os pacientes com maior risco de evoluir para a forma grave são aqueles que estão em uso de quimioterapias que comprometem o sistema imunológico e aqueles com neoplasias hematológicas como leucemia, linfoma e mieloma múltiplo. Indivíduos transplantados também possuem risco da forma grave da doença. 

No caso de pacientes com câncer de pulmão, a própria inflamação causada pelo novo coronavírus gera lesão das células epiteliais pulmonares (pneumócitos tipo II – são células produtoras de surfactante que impede que os pulmões se grudem). “Caso o paciente evolua para uma forma mais grave da COVID-19, pode apresentar fluidos inflamatórios nos alvéolos, que são os responsáveis pelas trocas gasosas entre o meio ambiente e o organismo. Os alvéolos ficam em uma região do pulmão de grande vascularização e quando a pessoa inspira, o oxigênio se espalha pelo sangue. Isso afeta a troca gasosa pulmonar, prejudicando a oxigenação”, aponta.

Pacientes com câncer pulmonar podem apresentar pneumonite causada pelo uso de medicamentos, muito parecida com a infecção causada pelo coronavírus. Além disso, muitos têm comorbidades, como DPOC ou hipertensão arterial, limitando a condição pulmonar. “Apesar desse grupo possivelmente já ter tomado a primeira dose ou mesmo a segunda da vacina contra a COVID-19, a recomendação é que os cuidados sejam redobrados e mantidos”, pondera Dr. Gustavo.