Baixo consumo e nível de ômega-3 é tão ruim para o coração quanto fumar, diz estudo

O baixo índice de ômega-3 pode subtrair até 4 anos de vida e é tão poderoso para prever a morte prematura quanto o hábito de fumar, segundo estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition. Esse baixo nível de ômega-3 está ligado a doenças cardiovasculares, segundo o estudo

Baixo consumo e nível de ômega-3Consumir gorduras boas é fundamental para a saúde do coração. Essa é uma verdade irrefutável. Mas um novo artigo de pesquisa publicado no American Journal of Clinical Nutrition no meio de junho mostrou que um baixo índice de ômega-3 é tão poderoso para prever a morte prematura quanto fumar. “O baixo consumo e nível de ômega-3 é ruim para o coração, pois favorece doenças cardiovasculares, que são ainda a principal causa de morte em todo o mundo. Esse risco pode ser reduzido com a mudança de fatores comportamentais, como dieta não saudável, sedentarismo, tabagismo e consumo de álcool”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). “As gorduras boas, como o DHA, uma abreviação de ácido docosahexaenóico, um ácido graxo poli-insaturado, podem ajudar. A ingestão regular de DHA pode ajudar na função cardíaca adequada e ajudar a diminuir os níveis de lipoproteína de baixa densidade (LDL) e aumentar os níveis de lipoproteína de alta densidade (HDL), ou o colesterol ‘saudável’”, explica o médico nutrólogo e cardiologista Dr. Juliano Burckhardt, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC).

Os pesquisadores deste estudo analisaram que os biomarcadores que integram as escolhas do estilo de vida podem ajudar a identificar os indivíduos em risco e ser úteis para avaliar as abordagens de tratamento, prevenir a morbidade e retardar a morte. “Entre os biomarcadores baseados na dieta estão os ácidos graxos, sejam medidos no plasma ou nas membranas dos glóbulos vermelhos. Os ácidos graxos mais claramente associados ao risco reduzido de doenças cardiovasculares e de mortalidade total (ou seja, morte por qualquer causa) são os ômega-3, EPA e DHA, que são normalmente encontrados em peixes como salmão, sardinha, cavala, corvina e arenque, bem como suplementos de ômega-3 de óleo de peixe e algas”, explica a Dra. Marcella Garcez. “Se você não é fã de frutos do mar, é possível suplementar com óleo de peixe ou, se você não gosta do sabor de peixe, tentar suplementos vegetarianos feitos de DHA de algas”, acrescenta o cardiologista Dr. Juliano.

Em um relatório de 2018, que incluiu 2.500 participantes no Framingham Offspring Cohort, foi demonstrado que o índice saudável de ômega-3 foi significativamente e inversamente associado ao risco de morte por todas as causas. “Na verdade, os indivíduos com o índice ômega-3 mais alto tinham 33% menos probabilidade de sucumbir durante os anos de acompanhamento em comparação com aqueles com o índice ômega-3 mais baixo. O Índice Omega-3 mede a quantidade de EPA e DHA nas membranas dos glóbulos vermelhos e é um marcador do status do ômega-3. Um Índice Omega-3 ideal é de 8% ou mais, um Índice Omega-3 intermediário está entre 4% e 8% e um Índice Omega-3 baixo é de 4% ou menos”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella. A dieta ocidental faz com que muitas pessoas tenham um índice ômega-3 abaixo de 4%, o que as coloca em um risco significativamente maior de morte precoce.

De acordo com os pesquisadores neste estudo, a descoberta de que qualquer métrica baseada em ácidos graxos teria poder preditivo semelhante ao dos fatores de risco padrão bem estabelecidos foi inesperado. “É interessante notar que no Japão, onde a média do Índice Omega-3 é superior a 8%, a expectativa de vida é cerca de cinco anos a mais do que nos Estados Unidos, onde a média do Índice Omega-3 é de cerca de 5%. Portanto, na prática, as escolhas alimentares que alteram o índice ômega-3 podem prolongar a vida. No modelo combinado final, fumar e o Índice Omega-3 parecem ser os fatores de risco mais facilmente modificados”, explica a médica. “Prevê-se que ser fumante atual (aos 65 anos) subtraia mais de quatro anos de vida (em comparação com não fumar), um encurtamento de vida equivalente a ter um índice de ômega-3 baixo, segundo o estudo”, completa a médica. “Se sua dieta for estritamente rica em gordura saturada, seus níveis de colesterol no sangue serão mais elevados. Da mesma forma, se você está acima do peso, também corre um risco maior de colesterol alto. Também tome cuidado com as gorduras e açúcares escondidos. Seja um comedor informado; conheça os ingredientes e leia atentamente os rótulos nutricionais”, afirma o Dr. Juliano. Açúcares ocultos e ingredientes não saudáveis podem aumentar seu peso e piorar o perfil lipídico. “Fique longe de alimentos que contenham altos níveis de gordura saturada, colesterol e fontes ocultas de açúcar, como xarope de milho com alto teor de frutose e algumas dextrinas”, conta.

Segundo o estudo, as informações transportadas nas concentrações de quatro ácidos graxos dos glóbulos vermelhos foram tão úteis quanto as transportadas nos níveis de lipídios, pressão arterial, tabagismo e status diabético no que diz respeito à previsão da mortalidade total. “Isso mostra o poder do Índice Omega-3 como fator de risco e deve ser considerado tão importante quanto os outros fatores de risco estabelecidos, e talvez até mais”, completa. “O mais importante como medida de prevenção é buscar ajuda médica de um nutrólogo, que poderá orientar o paciente na busca de uma alimentação ideal para melhorar os níveis de Ômega-3 como forma de prevenção”, finaliza.

FONTES:

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

*DR. JULIANO BURCKHARDT: Médico Nutrólogo e Cardiologista, membro Titular da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). É membro da American Heart Association e da International Colleges for Advancement of Nutrology. Mestrando pela Universidade Católica Portuguesa, em Portugal, atuou e atua como docente e palestrante nas suas especialidades na graduação e pós-graduação. O médico tem certificação Internacional pela Harvard Medical School, para tratamento da Obesidade. É diretor médico do V’naia Institute.

Link: https://academic.oup.com/ajcn/advance-article-abstract/doi/10.1093/ajcn/nqab195/6301120?redirectedFrom=fulltext