Conheça os riscos de aceitar os cookies e termos de privacidade na internet

Especialista explica por que os termos de aceite ficaram em evidência nos últimos tempos e o que os usuários podem fazer para controlar o nível de dados pessoais que são capturados pelas páginas da web

cookies
Foto de Mikhail Nilov no Pexels

Com origem ainda nos primórdios da internet, lá nos anos 90, o termo “cookies” explodiu em popularidade nos últimos anos. Com as legislações seguindo cada vez mais na direção da proteção dos direitos e da privacidade dos usuários da internet, o conceito virou popular por aparecer na página inicial de praticamente cada site que visitamos.

Para se ter uma ideia, de acordo com o Google Trends, ferramenta que mostra os termos mais buscados na internet, a pesquisa “cookies o que é” atingiu seu ápice dos últimos 3 anos entre agosto e setembro de 2020 no Brasil. O período coincide justamente com a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), em 19 de agosto do ano passado.

A norma estipula regras que visam deixar mais transparente o trato com os dados dos usuários brasileiros na internet e foi inspirada pelo Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados (RGPD) da Europa.

O aumento do interesse dos brasileiros no assunto é muito importante, porém, é preciso tomar cuidados práticos e realmente entender o que está em jogo. Sylvia Bellio, especialista em infraestrutura de TI e CEO da itl.tech, empresa considerada a maior revendedora da Dell Technologies no Brasil por quatro anos consecutivos, pontua que os cookies estão entre os principais arquivos digitais que permeiam a relação de um pessoa com a internet.

“Os cookies são protocolos de comunicação muito comuns que fazem parte da experiência das pessoas não só no computador, mas também no acesso à internet através dos celulares, tablets e outros devices. Por isso, é essencial entender que apesar da comodidade que eles entregam, também há riscos envolvidos no processo”, argumenta.

O que é um cookie?

Sylvia Bellio explica que os cookies são um pacote de dados que se originou ainda na década de 90. A ideia do desenvolvimento do protocolo era garantir uma comunicação entre os sites e o usuário final. Pensado como uma solução para o e-commerce, o conceito evoluiu e se tornou presente em todos os tipos de páginas na internet.

“Os cookies são espécies de arquivos residuais que nós deixamos ao visitar praticamente qualquer site. Eles servem para personalizar a experiência do usuário e identificar a pessoa que está acessando o conteúdo. A partir dos cookies, as páginas têm uma ideia de quem somos e conseguem nos oferecer conteúdos relacionados a coisas que gostamos”.

A especialista pontua que existem vários tipos de cookies, mas que de maneira geral eles servem para o mesmo propósito de simplificar a navegação na internet. Os pequenos arquivos são enviados para os browsers que as pessoas usam. Ou seja, eles ficam armazenados no Google Chrome, Firefox, Opera, Safari, Internet Explorer ou outro software.

Por causa disso, grande parte da interação com os cookies pode ser feita nas abas de configurações dos navegadores. Por lá, é possível saber quais sites armazenaram os cookies e apagar os cookies salvos em determinado período (na última semana, por exemplo).

Quais dados os cookies armazenam?

Bellio comenta que os cookies podem armazenar centenas de informações de um usuário. Como as páginas têm informações e funções diferentes, cada uma opta por armazenar informações que lhe sirvam de alguma forma, seja para personalizar a experiência do usuário ou vender um produto ou serviço de forma mais direcionada. Confira, abaixo, detalhes que eles armazenam e exemplos de que modo as informações podem ser utilizadas pelos sites:

  • Localização: sites que pedem o acesso à localização do usuário podem converter a informação em propaganda direcionada de lojas próximas do local onde ele mora ou previsão do tempo na região, por exemplo;
  • Nome: os nomes dos usuários podem ser utilizados para oferecer experiências personalizadas de boas-vindas em uma página;
  • Gênero: o gênero do usuário pode ser utilizado como um marcador para saber o público-alvo de um site. Com essa informação, o site consegue acordos publicitários mais assertivos;
  • Endereço de e-mail: como quase todas as informações citadas anteriormente, o e-mail é bastante importante para e-commerces e marketplaces, já que ele pode servir como uma porta de entrada para e-mail marketings;
  • IP: o registro do IP, que é como se fosse a identidade de uma pessoa na internet, serve para responsabilizar usuários caso algum crime ou desrespeito às normas ou termos de uso de um site seja cometido. Uma pessoa que divulgar imagens impróprias ou ofender um outro usuário em um site de notícias ou rede social poderá ser identificada em um hipotético processo judicial através do IP, por exemplo;
  • Senhas: o registro das senhas é bastante comum em sites que precisam oferecer uma experiência contínua e sem interrupções para os usuários. Grandes plataformas de streaming salvam o registro para que a pessoa não precise inserir a senha novamente a cada vez que um filme ou vídeo é visto, por exemplo;
  • Páginas acessadas: também comum em sites de comércios eletrônicos, o registro das páginas visitas é importante para que a loja tenha uma noção dos gostos da pessoa e ofereça produtos que se parecem com aqueles que foram visualizados anteriormente;
  • Número do cartão de crédito: considerado um dos dados mais sensíveis, o registro do número do cartão de crédito serve para facilitar a compra de serviços e produtos online;
  • Outros usos: além de tudo o que já foi citado, os cookies também armazenam informações da escolha de idioma de um site; itens colocados em um carrinho virtual em uma loja; recuperação de pesquisas anteriores; preferências de layout das páginas; perfis diferentes de usuários e muito mais.

 

Perigos

Como este montante de dados armazenados, a quantidade de cookies pode chegar a gigabytes (GB), dependendo da quantidade de vezes que uma página é acessada em um período.

Bellio lembra que as discussões sobre privacidade estão cada vez mais maduras, já que há alguns anos o tratamento às informações dos usuários era feito de maneira obscura e muito pouco transparente.

A especialista lembra que após polêmicas recentes como a do TikTok, que supostamente exercia uma vigilância dos usuários e enviava informações para o governo da China, muita gente começou a se dar conta sobre a importância do controle dos próprios dados.

“Apesar de motivado por casos de vazamentos, os usuários do mundo todo estão se conscientizando e questionando para onde vão suas informações pessoais. No caso dos cookies a preocupação também precisa existir. Apesar de eles serem importantes aliados na nossa navegação cotidiana, é preciso manter no radar para quem estamos entregando detalhes pessoais”.

Ela afirma também que no caso do Brasil, após a aprovação da LGPD explodiram os avisos de cookies nos sites. Os quadros, que são bastante chamativos e ocupam às vezes até mesmo a visão de toda a tela, estão entre obrigações da nova lei.

“Este site utiliza cookies e tecnologias semelhantes para personalizar publicidade e recomendar conteúdo de seu interesse. Ao navegar em nosso serviço você aceita tal monitoramento”, é um dos padrões de mensagem mais comum nas páginas brasileiras.

Dicas de como lidar com cookies e termos de privacidade

Sylvia Bellio argumenta que no caso dos cookies, apesar de os avisos aparecerem na tela, eles não dependem necessariamente de aprovação para começarem a ser armazenados. Ou seja, basta acessar e interagir com as páginas preenchendo um campo de pesquisa ou clicando em links para que os registros comecem.

Por causa disso, a especialista elenca 8 dicas importantes para que os usuários controlem seus cookies e saibam como lidar com termos de privacidade:

  • Nunca aceite um termo sem ler: é essencial ler as normas e políticas de privacidade dos sites. Muitas vezes, as páginas e serviços captam informações que nem imaginamos, como número de telefone, fotos pessoais, dados biométricos, além dos já citados números do cartão de crédito. A obrigação da LGPD de fazer com que os sites ofereçam essas informações pode deixar nossa relação com a internet mais transparente.
  • Conheça os navegadores utilizados: a principal forma de lidarmos com os cookies é através dos navegadores. Browsers tradicionais como o Google Chrome e Firefox permitem a visualização de todos os cookies e o gerenciamento de acessos. No menu de configuração dos softwares é possível pesquisar pela palavra “cookie” para criar uma lista de sites que nunca podem usar cookies e até mesmo bloquear todos os cookies, o que não é muito recomendado, já que pode deixar a navegação bastante complicada.
  • Confira quais acessos foram dados aos sites: além dos cookies, as páginas pedem outras permissões de acesso como notificações (que aparecem no topo esquerdo da tela), imagens, pop-ups, anúncios e outras coisas. Nem todos os sites deixam claro quais permissões eles receberam com o aceite do usuário, o que abre brechas para desinformação e má fé. Por isso, é importante acessar as configurações do navegador para verificar o que os sites estão acessando.
  • Apague os cookies com frequência: é importante que o usuário crie o hábito de apagar os cookies com certa frequência, que pode ser estabelecida por ele. Apesar de auxiliar a navegação, muitas vezes o acúmulo de cookies está ligado a falhas e problemas no acesso a determinados sites.
  • Não dê aceites em computadores públicos: a pessoa que utiliza computadores públicos ou até mesmo de pessoas conhecidas precisa ficar atenta com os aceites dos termos de privacidade. Eles podem salvar as informações no navegador, permitindo que após o uso a outra pessoa tenha acesso a uma conta sua, por exemplo. Por isso, é essencial apagar os cookies e dados de navegação após a utilização de um computador que não é o pessoal.
  • Utilize o modo anônimo do navegador: uma das formas de navegar com mais tranquilidade em computadores ou celulares de outras pessoas ou até no próprio é utilizar uma navegação privada no navegador. Apesar de não ocultar a navegação de uma pessoa (o que só pode ser feito com uma VPN), a técnica permite que cookies, histórico de navegação, informações de formulários e outros detalhes não fiquem salvos (ou pelo menos sejam apagados assim que a janela for fechada).
  • Fique atento ao celular: o acesso à sites tem se tornado cada vez mais mobile principalmente por causa da portabilidade de um smartphone na comparação com um computador, mesmo um notebook. Por isso, todo o cuidado com cookies e termos de privacidade deve ser pensado também nos smartphones. Por isso é importante ficar atento aos aplicativos que estão sendo instalados e analisar todos os acessos que eles pedem.
  • Fiscalize o uso de crianças e adolescentes: assim como o do TikTok, que armazena não somente cookies, outros serviços e páginas que fazem sucesso com menores de idade devem ser fiscalizados pelos pais. A nível mais básico, os provedores venderão publicidade direcionada e mostrarão conteúdos que os pequenos gostam. Porém, a um nível mais elevado eles podem ser vítimas de uma exposição de dados, incluindo fotos e vídeos.

“Muito tem se debatido sobre a implicação do conceito ‘privacidade’ na era digital. Uma das constatações é que a privacidade absoluta virou uma utopia no cenário em que vivemos. Contudo, a conscientização de quais tipos de dados os provedores, páginas, lojas, redes sociais, apps e etc, capturam da gente pode ser o diferencial para evitar a exposição desnecessária e até mesmo o aceite de termos em serviços que podem efetivamente colocar nossas informações pessoais em risco”, finaliza Bellio.

 

Sobre Sylvia Bellio

CEO E cofundadora da itl.tech – empresa eleita por quatro anos consecutivos o Maior Canal de Vendas Dell Technologies.

É autora dos livros “Simplificando TI”, “Impressões Digitais” e “TI de Salto”.

Iniciou a carreira no setor financeiro, atuando como gerente da área administrativa de uma grande Instituição Financeira.

Com mais de 15 anos de experiência no mercado de tecnologia conduz sua equipe de arquitetos de soluções e executivos de negócios para se posicionarem lado a lado com os profissionais de TI na busca de soluções para resolver os desafios de negócios das empresas.

Introduziu no Brasil fabricantes como: DotHill Systems de armazenamento FC; EqualLogic armazenamento iSCSI; Force10 de networking; Compellent de armazenamento FC|ISCI.

Tem papel de destaque no empoderamento feminino dentro do universo da tecnologia.  É a única mulher a compor o conselho das empresas parceiras da Dell no Brasil. Participou de diversas edições do Dell World e Membro do DWEN e participante das últimas edições do Dell Women’s Entrepreneur Network e integrante do Female Force Latam.