Educação e esportes

Por Wanda Camargo

Geralmente nossa reação à conquista de medalha olímpica é de orgulho e reconhecimento ao mérito e esforço do atleta ou atletas que realizaram o feito. A medalha da “Fadinha” Rayssa Leal trouxe, além disso, um grande sorriso ao país. Os parentes e amigos têm atitudes afetivas naturais às vitórias dos seus, mas esta é uma das vitórias que comovem a todos, os próximos e os distantes.

Além da graça da menina de 13 anos que voou e dançou com seu skate na pista, ficamos encantados com sua alegria, que é cada vez mais necessária nesses tempos que parecem ficar mais escuros, com pandemia, irresponsabilidade pública e candidatos a tirano falando livremente.

Atletas em destaque é sempre bom, corpos saudáveis e longe do que prejudica a saúde é sinônimo de boas perspectivas futuras para a comunidade, mas garotas vitoriosas em setores que até muito pouco tempo atrás seriam considerados territórios predominantemente dos rapazes é ótimo, pois também abrem caminho para mais igualdade e isonomia.

Um fenômeno facilmente observado nas escolas públicas ou privadas hoje, é que as garotas mais jovens têm diminuído perceptivelmente as diferenças de escolaridade e bons desempenhos em relação aos garotos.

Se considerarmos que a formação da mulher vinha sendo estabelecida nos papéis tradicionais de trabalho relacionados ao “feminino” ou “masculino”, principalmente no Brasil, onde as primeiras instituições destinadas a educar as jovens datam da primeira metade do século XIX com profundas distinções de gênero, e seu direito efetivo à instrução apenas estabelecido em 1827, referindo-se exclusivamente à educação primária, baseada na moral cristã e manutenção dos pilares tradicionais da sociedade, e reforçando suas funções de mãe e esposa.

Em termos de estudos colegiais, sua educação estava restrita à formação de professoras para os cursos primários, e apenas em 1881 um Decreto Imperial permitiu suas matriculas em cursos superiores, o que pouco efeito prático surtiu, já que os estudos secundários de caráter mais geral eram voltados aos rapazes, o que manteve a diferença entre os dois sexos, fundamentalmente desiguais.

Embora a taxa de alfabetização da população tenha sido consideravelmente incrementada durante a República Velha, os níveis de analfabetismo conservaram-se extremamente altos, e assim até hoje, já que o país tem economia rural e péssimos indicadores de igualdade e justiça social.

Lamentavelmente, escolas nunca tiveram papel importante na qualificação da maioria das pessoas, e mesmo mulheres com algum acesso à educação formal estavam essencialmente destinadas ao casamento, após o qual tornavam-se, mesmo quando professoras primárias, donas-de-casa.

Após 1930, a industrialização e as demandas por serviços urbanos passaram a ter mais importância na formação da mão-de-obra, e em 1961, com a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), a base curricular passa a ser constituídas por três graus de ensino: primário, médio e superior; o que promoveu um salto qualitativo na situação educacional de todos, porém principalmente na das mulheres, que ampliam sua presença em todos os níveis de ensino e hoje ultrapassam os homens em termos de anos médios de escolaridade, embora a segmentação por sexo ainda prevaleça, com mulheres concentradas em áreas “menos valorizadas” da área de humanas e homens em carreiras “mais valorizadas” das ciências de núcleo duro.

O esporte têm papel importante na Educação, fiel à máxima latina “mens sana in corpore sano” que valoriza a saúde do corpo como elemento da saúde da mente, e as Olimpíadas são a vitrine do melhor que os esportistas têm a apresentar. As realizações de nossos atletas são benéficas para nosso amor próprio de cidadãos, todos eles nos representam e essa skatista nos representa da mesma forma no melhor que temos, a alegria.

 

Wanda Camargo – educadora e assessora da presidência do Complexo de Ensino Superior do Brasil – UniBrasil.