Jogos Olímpicos devem despertar o interesse pelos esportes

Os próximos dias serão do esporte. Com os Jogos Olímpicos de 2021 em Tóquio e na sequência os jogos Paraolímpicos, a atenção se volta às atividades físicas. É o momento que muitos atletas sonham em um dia representar seu país de origem, pela experiência, astral e energia que a competição promove desde sua criação, há mais 2.700 a.C.

Os últimos Jogos Olímpicos aconteceram em 2016, no Brasil. Com o término das competições, houve um aumento significativo das práticas esportivas, chegando em algumas capitais em 50%.

Para a educadora física e personal trainer Alessandra Teles Fadel, essa demanda após os jogos é muito importante, pois incentiva a atividade física regular. “Cada esporte tem suas características, no entanto, o importante é que envolva as pessoas que queiram praticá-lo, pois a atividade esportiva regular influencia diretamente no desenvolvimento saudável da pessoa”, explica.

E as crianças com Síndrome do X Frágil, podem praticar um esporte e sonhar em competir? Segundo Alessandra é possível sim. O esporte possibilita uma ampliação na gama das linguagens da criança. Utilizando o corpo para sua expressão, além dos benefícios para uma boa qualidade de vida, incluindo resistência cardiorrespiratória, força e flexibilidade, o meio social pode também ser trabalhado. “Em especial para a Síndrome do X Frágil onde a ludicidade pode transformar o tratamento em momentos de prazer e relaxamento, reconhecendo suas principais características e necessidades, nutrindo novas possibilidades da realidade”, enaltece.

Já para o Terapeuta Ocupacional e idealizador do Projeto Antes do Ouro, Heitor Vaselechen Rodrigues Teixeira, esporte é importante à criança para que elas saibam lidar com as outras crianças, aceitar regras, criar elos, respeito, companheirismo e lidar com as frustrações das derrotas.  “O esporte promove a inclusão social, aceitação e desenvolvimento cognitivo e motor, faz com que ela seja a mudança social em sua comunidade, promove a independência e autonomia, da voz para provar que é capaz de fazer tudo, o esporte apresenta regras e condutas de respeito. No esporte tudo se pode, na verdade só não pode ficar parado!”, enfatiza.

Heitor ressalta que não tem um esporte padrão para cada criança, existe fatores sociais e ambientais que facilitam a escolha dela. “Por exemplo se mora na praia, com familiares e amigos que surfam ela vai se interessar pelo surf, se está numa comunidade que gosta de esportes em quadra a tendência é ela buscar estas modalidades”, explica. A criança deve ser a protagonista das escolhas, não forçando algo. Segundo ele, os pais devem permitir a vivência delas em várias modalidades adaptadas e as não adaptadas. “Muitos pais colocam seus filhos em superproteção para que eles não passem pela frustração e vejo que a Terapia Ocupacional é um aliado, tendo uma metodologia voltada ao cliente e não na patologia. Assim, na sessão de terapia fará o melhor para reabilitar e já incluir o esporte seu plano de tratamento”, pontua.

Para Alessandra, o esporte pode, além da saúde como um todo e melhoria na qualidade de vida, ajudar na descoberta de potencialidades, na produção de autonomia para o autocuidado, reabilitação e ampliação do ciclo de amizades e novas relações sociais. “O esporte possibilita também, em pouco tempo, grandes descobertas de talentos em variadas modalidades”, enfatiza. Em relação a melhor modalidade para cada criança, Alessandra explica que há várias formas de trabalhar os esportes e gestos motores. A criança deverá ter a possibilidade de conhecer o que for possível de cada modalidade e optar pela qual melhor se adapta, ou qual mais gosta de praticá-lo.

A atividade física pode ser inserida de forma lúdica, para tornar-se regular na vida da criança. E a partir de variadas ações educativas englobando diversos tipos de ginástica, jogos e brincadeiras, danças e lutas, a criança é quem deve escolher com o qual gosta mais, ou se adapta melhor com os gestos motores. “No início o trabalho deverá ser de muita variedade para que a criança amplie seus conhecimentos corporais e possibilidades de movimento, bem como conheça os inúmeros esportes que existem, cabendo a ela escolher”, ressalta Alessandra.

 

Vivência Esportiva

Pedro Freitas Pequito é um jovem adulto de 30 anos e desde os 17 anos faz equitação. Segundo a mãe, Ana Cristina Nóbrega, o início das atividades físicas se deu quando Pedro iniciou a equoerapia, por conta das dificuldades que tinha devido a Síndrome do X Frágil, como movimentação, equilíbrio e noção espacial. “Por dois anos ele fez equoterapia, com o passar do tempo e como ele não demonstrava medo de estar em cima do cavalo, os próprios professores sugeriram que ele começasse o hipismo”, conta.

Pedro Freitas Pequito é um jovem adulto de 30 anos e desde os 17 anos faz equitação

O início da prática esportiva foi bem lento, saltando os primeiros obstáculos que até hoje chama de “xizinho no chão”, hoje, ele já salta oitenta centímetros de altura, o que, para a condição de Pedro é excelente. “Hoje ele compete com pessoas típicas, e a maior dificuldade que tem nas provas é a noção espacial dos obstáculos, pois em cada prova, o circuito é alterado, fazendo com que, algumas vezes, ele se perca no circuito”, conta Ana Cristina. Durante as provas, a família e instrutores ficam fora da pista passando dicas ao Pedro. “Pela direita, agora aquele obstáculo… é uma forma que temos para poder ajudá-lo a se localizar”, reforça a mãe.

Para Ana Cristina a relação do esporte para o desenvolvimento do Pedro foi fundamental. “A relação do atleta com o animal desenvolve a disciplina, o respeito e o entendimento do movimento. Todo esse contexto de relacionamento que é muito rico, e ajudou ao meu filho a ser o homem que é hoje, trabalhando, namorando e construindo a sua vida, dentro das suas limitações”, enaltece.

Já Sabrina Muggiati conta que o filho, Jorge Dib Abagge Neto de 17 anos, que possui a Síndrome do X Frágil e Autismo, pratica desde criança natação e tênis. “Optamos pela natação, num primeiro momento, para desenvolver a consciência corporal e as habilidades motoras. E, para buscar ajudá-lo na orientação de espaço, ritmo e equilíbrio. Já o tênis contribuiu muito para as noções de espaço e coordenação”, explica.

“O Jorge não chegou a competir, e nem acredito que venha a participar de campeonatos. O importante é encontrar um esporte com o qual a criança se adapte, sempre muito bem orientado e acompanhado. A atividade esportiva é essencial para que a pessoa com a Síndrome do X Frágil se socialize, quanto antes incentivarmos nossos filhos a praticar um esporte, antes promoveremos a qualidade de vida”, enaltece.

Portador da Síndrome do X Frágil, Paulo Victor Carneiro de 32 anos, treina Muay Thai desde os 18 anos, tendo a “ponta azul escura” na graduação. Segundo sua mãe, Zilma Padilha, os treinos foram ininterruptos durante 12 anos. “Precisou parar na pandemia e em abril desse ano, a médica orientou uma suspensão nos treinos por ser uma atividade de contato, e coincidiu com a mudança do orientador de equipe, e ele não se adaptou bem”, conta.

Portador da Síndrome do X Frágil, Paulo Victor Carneiro de 32 anos, treina Muay Thai desde os 18 anos

“O esporte o deixou mais consciente e centrado. Foi benéfico para sua autoestima e para sua coordenação motora. Com o professor antigo, ele ajudava os alunos mais novos no aquecimento. O senso de responsabilidade é enorme, ele ajudava a guardar os equipamentos e era o último a sair da academia. Outro sentimento que ele desenvolveu muito foi o da lealdade: ele corrigia todos que falavam mal do professor e não admitia intrigas no grupo”, relembra a mãe.

Paulo nunca participou dos campeonatos, “o Muay Thai é muito bom como exercício, mas os campeonatos são muito pesados”, salienta Zilma. Segundo ela, em uma disputa de faixa, o Paulo ficou 33 minutos ente um octógono e o tatame sem parar um segundo e saiu com o olho roxo e totalmente exausto. “Como ele se distrai facilmente, conversei na época com o professor para que não participasse dos campeonatos, que precisam de foco do atleta”, conta. Mesmo assim, segundo a mãe, Paulo mantem a meta que com a ponta preta da faixa já pode ser mestre. “Sem dúvida alguma o esporte trouxe para o meu filho concentração e coordenação motora, mais loquacidade na fala e espírito de equipe”, reforça Zilma.

Atividade Física em qualquer idade

A atividade física deve ser praticada em qualquer idade. Quando criança, ajuda no desenvolvimento. E na fase adulta, na redução de sintomas inerentes da Síndrome do X Frágil.

Pensando nos adultos, o Programa Eu Digo X idealizado pelo Instituto Buko Kaesemodel disponibiliza às mães, pré-mutadas cadastradas no programa, atividade física orientada por personal trainer, como forma de inserir o exercício físico regular na vida das mães e com isso, reduzir sintomas da menopausa precoce, ataxia entre outros.

O Programa Eu Digo X já proporciona, junto aos profissionais voluntários cadastrados, orientação fisioterapêutica para as crianças com Síndrome do X Frágil, atendimento psicológico para as mães pré-mutadas e agora atividade física. “Nesses atendimentos, proporcionamos o auxílio a todas as famílias cadastradas que tenham interesse e que possuam diagnóstico da Síndrome do X Frágil. Com esse auxílio dos profissionais voluntários do instituto, ajudamos no que diz respeito ao entendimento dos aspectos motores e funcionais, a compreensão e superação dos problemas reais e melhora dos sintomas emocionais relacionados a pré-mutação, e a possibilidade de início de uma atividade física devidamente orientada, tudo de forma online e gratuita”, explica Luz María Romero, gestora do Instituto Buko Kaesemodel.

Como a demanda pela procura é grande dentro do Instituto Buko Kaesemodel, estão sendo disponibilizados agendamentos gratuitos por mês junto aos profissionais. O agendamento se dará com a família do paciente com Síndrome do X Frágil, no caso da fisioterapia, e direto com a mãe com mutação completa ou em pré-mutação, no caso da orientação psicológica e personal trainer. Na sequência os profissionais darão a continuidade e agendarão outras sessões junto a família.