Terapia de prótons trata câncer com menos efeito adverso e ‘apagou’ tumor cerebral de criança

Jovem equatoriana submetida à terapia de prótons, um novo tipo de radioterapia de alta precisão e com menor efeito colateral, teve tumor no cérebro eliminado completamente. Veja como a novidade promete dar um novo rumo para tratamentos antitumorais, principalmente no cérebro

Terapia de prótons trata câncer com menos efeito adverso e 'apagou' tumor cerebral de criançaAs doenças oncológicas, principalmente as neuro-oncológicas (os tumores no cérebro), são de difícil tratamento, mas uma nova técnica promete dar mais esperanças aos pacientes e médicos. Trata-se da Terapia de Prótons, considerada a forma de radioterapia mais avançada. “Ela usa feixes de prótons com alto conteúdo de energia para radiar tumores em vez de fótons, como é feito na terapia de radiação tradicional. Esse tratamento tem alta precisão, entregando doses altas de radioterapia no volume alvo e reduzindo a dose espalhada nos tecidos adjacentes. Portanto, a técnica tem menores efeitos colaterais, uma vez que produz menos danos aos tecidos sadios em volta do tumor. Graças às vantagens, essa terapia de prótons é uma esperança interessante e pode ser usada para tratar vários cânceres, principalmente em situações em que as opções de tratamento são limitadas e a radioterapia convencional com feixes de fótons apresenta riscos inaceitáveis para os pacientes, incluindo nos casos de cânceres cerebrais, de cabeça, pescoço, próstata e pulmão”, explica o Dr. Gabriel Novaes de Rezende Batistella, médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Recentemente, uma criança equatoriana de 7 anos chamada Ahinara teve seu sarcoma cerebral (um tipo tumor) completamente eliminado após viajar para Madrid (Espanha) com a família para iniciar o tratamento na Unidade de Terapia de Prótons que a Clínica Universitária de Navarra mantém em sua sede.

Segundo o Dr. Gabriel, ao contrário do que acontece com o tratamento de radioterapia convencional, o feixe de próton visa diretamente o tumor e não o ultrapassa na direção de tecidos cerebrais saudáveis. “Por este motivo, os pacientes têm menos efeitos secundários com a terapia de prótons do que com a radioterapia padrão. Esse tratamento é novo, mas não está disponível em todos os lugares. No mundo todo, estima-se que existam apenas 107 unidades que utilizam a tecnologia da terapia de prótons, em apenas 20 países”, explica. O grande motivo? O preço, uma vez que o acelerador de partículas de prótons é diferente dos aceleradores lineares que geram fótons. “O custo de instalação é mais caro, bem como a operação e a manutenção, mas esperamos que essa realidade possa ser revertida num futuro próximo”, acrescenta.

Esse é um tratamento importante, principalmente no caso de tumores pediátricos, já que a maioria dos tumores infantis são cerebrais, segundo o Dr. Gabriel, e quando as crianças sobrevivem ao câncer ficam com sequelas, por conta dos tratamentos. “Essa terapia é menos tóxica. A radiação que atinge os vasos, artérias e sangue é minimizada, o que ajuda a proteger o sistema imunológico do paciente”, explica o neuro-oncologista.

No caso da menina Ahinara foram 30 sessões até eliminar completamente o tumor. O disparo dos feixes de prótons é rápido, levando em média um minuto, mas a preparação para o disparo é o que mais conta nesse tipo de tratamento: o posicionamento do corpo na máquina para realizar o disparo certeiro pode levar até meia hora. “No caso de crianças, para que não se mexam no momento do disparo, é possível usar anestesia com gases. Mas esse procedimento não dói”, diz o Dr. Gabriel. Na América do Sul, a Argentina prepara um centro construído em Buenos Aires especificamente para aplicação dessa terapia, o que pode ser esperança para muitos pacientes que viajam aos Estados Unidos para fazer esse tipo de tratamento.

FONTE:

*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).