Arte urbana, o museu Oscar Niemeyer e a preservação de patrimônio

Norimar Ferraro (*)

Um recente grafite dos artistas intitulados “Gêmeos” (Otávio e Augusto Pandolfo) na fachada do museu Oscar Niemeyer, em Curitiba, teve o objetivo de promover uma exposição deles que ocorre no local. Porém, a pintura desagradou o bisneto de um dos arquitetos brasileiros mais conhecidos entre nós e que projetou o museu.

O grafite executado na fachada, exatamente no mesmo lugar onde sempre existiram banners promocionais das exposições, deu certo como meio promocional, inquestionavelmente. É uma obra de arte temporária que será retirada após o encerramento da exposição, sem danos ao patrimônio histórico. As críticas julgaram que a intervenção estaria danificando o projeto de Niemeyer.

Porém, primeiramente é preciso ressaltar que o grafite é uma arte consolidada há décadas e nada tem a ver com aquilo que se vê comumente como pichação. Essa sim é realizada sem controle, furtivamente, em muitos casos como uma linguagem código e demarcação de territórios de determinadas gangues, sendo abominável para a paisagem das cidades e para as propriedades públicas e privadas. Pichações são de difícil controle, mesmo em países escandinavos onde há leis rígidas e tolerância zero por parte da polícia. Nesses países se questiona também a validade de paredes e muros deixados para “grafite legal” (sem trocadilho) – o que para alguns aumenta as pichações –, mas tudo é baseado em opiniões e não em trabalhos científicos. Ou seja, não tem como medir. Obviamente, essa resposta também varia de acordo com a sociedade.

O certo é que o grafite como arte urbana está consolidado, principalmente nos países europeus onde existem roteiros e museus para sua apreciação. Uma arte que relembra, inevitavelmente, o expressionismo alemão na pintura de artistas como Edward Munch e Hubert Roestenburg. Talvez seja o grafite, por isso, tão destacado e valorizado na Alemanha. Os Gêmeos, inclusive, são amplamente conhecidos e homenageados nos meios artísticos alemães.

Vale lembrar que Oscar Niemeyer integrava painéis decorativos de artistas às suas obras, principalmente os de Athos Bulcão compostos com ladrilhos geométricos. Uma das primeiras obras modernistas no Brasil, o Palácio Capanema localizado no Rio de Janeiro, é de autoria de Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Reidy, Vasconcellos e Machado Moreira, com consultoria de Le Corbusier e paisagismo de Burle Marx. E nele há um grande painel decorativo de azulejos de Cândido Portinari que, se olharmos bem, poderia ser um grande grafite.

O patrimônio histórico-cultural deve sim ser preservado, em toda sua integridade, e é isso que se ensina nos cursos de Arquitetura e Urbanismo. Há disciplinas próprias para a formação profissional e é uma atribuição dos profissionais trabalhar no setor de preservação e restauro.

O que se pode concluir sobre a polêmica é que ela trouxe à tona a importância do patrimônio histórico-cultural, de sua preservação, o que só ocorrerá com a educação da sociedade. Especialmente quando se cogita, por exemplo, a venda do Palácio Capanema. Voltando à intervenção no museu de Curitiba, a arte dos Gêmeos visualizada no apoio da construção retrata uma grande bailarina que é a grande inspiração formal do anexo ao museu (e não um olho). Pessoalmente, não creio que o grande arquiteto iria se importar com o grafite.

Ele já percebia que cidades importantes pelo mundo vivem em função de seu patrimônio histórico, sabem lidar com ele experimentando adaptações e ressignificações dos espaços públicos ao tempo presente. Enquanto uns evoluem, aqui outros consideram o que temos apenas edifícios antigos e sem valor.

(*) Norimar Ferraro é coordenador do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário Internacional UNINTER