Até que ponto as telas realmente são prejudiciais às crianças?

Flavia Sucheck Mateus da Rocha (*)

Desde o surgimento dos smartphones e de sua popularização entre crianças e jovens, é recorrente sermos impactados por discussões sobre o uso excessivo de telas. Nas redes sociais, vemos palestras e discursos que afirmam, categoricamente, que jogar utilizando as tecnologias móveis elimina a criatividade da criança e prejudica sua capacidade cognitiva. Mas afinal, essa informação é fato ou fake?

Existe, realmente, uma orientação da Sociedade Brasileira de Pediatria sobre a exposição exagerada de crianças às telas, devido à importância da exploração dos cinco sentidos no desenvolvimento humano. Também se sabe que determinados tipos de iluminação podem trazer problemas oftalmológicos.  Por outro lado, algumas pesquisas no campo educacional já mostram que, quando utilizados de forma pedagógica, o smartphone e demais tecnologias digitais móveis podem trazer ricas contribuições para os processos de aprendizagem.

Na França, em 2019, o uso de aparelhos celulares foi proibido em todas as escolas. Um ano depois, com o impedimento de aulas presenciais devido à pandemia da COVID-19, esse país e todo o resto do mundo, precisaram adaptar as aulas e fazer uso de todos os recursos tecnológicos possíveis, inclusive os smartphones. As novas formas de ensinar e aprender acabaram exigindo que o vilão smartphone se tornasse uma ferramenta pedagógica.

Acompanhar o uso de telas por crianças e adolescentes exige dos pais e professores uma postura desafiadora. Por isso, em muitos casos, é mais fácil apenas afirmar que a proibição é o caminho mais assertivo. Toda atividade humana requer equilíbrio, e isso não é diferente com o uso de telas.

Os pais devem ter cuidados, estabelecer regras e acompanhar ou limitar o acesso a determinados conteúdos. Já os professores, precisam de formação para o uso dessa tecnologia digital, pois a partir dela, o estudante pode desenvolver diferentes habilidades. Diferentemente do que prega a proibição, o uso de tecnologias digitais possibilita o desenvolvimento do Pensamento Computacional, que estimula a criatividade.

Privar crianças e adolescentes de ter contato com as tecnologias de sua geração pode contribuir para que eles deixem de dominar recursos que são inerentes à sociedade do século XXI. Ainda nem sabemos que profissões serão criadas para que essas crianças exerçam no futuro, mas, certamente, elas exigirão profissionais conectados e com amplos conhecimentos tecnológicos.

O uso de telas só será prejudicial se pais e professores não compreenderem as novas exigências sociais, se não estiverem dispostos a desenvolver uma educação para a tecnologia, expondo os riscos e possibilidades aos jovens usuários.

O fato é que os smartphones já fazem parte da nossa vida e devemos procurar as melhores estratégias para que as telas desses aparelhos apresentem conteúdos relevantes para o desenvolvimento de nossas crianças. Com equilíbrio e acompanhamento, afirmar que as telas prejudicam será uma informação fake.

(*) Flavia Sucheck Mateus da Rocha é mestre em Educação em Ciências e em Matemática e professora da Área de Exatas do Centro Universitário Internacional UNINTER