Estudo mostra que o estresse será a causa da queda de até 50% da população no final do século

Estudo publicado no Endocrinology no final de agosto destaca que as pessoas ficam estressadas com interações sociais mais frequentes, mas de menor qualidade, e isso pode suprimir a contagem de espermatozoides, a ovulação e a atividade sexual, resultando em declínio populacional no final do século.

Estudo mostra que o estresse será a causa da queda de até 50% da população no final do séculoRecentemente, um estudo publicado no periódico científico The Lancet fez a previsão de que haverá uma queda notável no número da população após um pico que será alcançado em 2064. Agora, um estudo da maior e mais antiga organização de cientistas do mundo dedicada às pesquisas hormonais, a Endocrine Society, destaca que o estresse das relações sociais de menor qualidade está no centro desse declínio populacional. “Os pesquisadores preveem um pico no número da população em 2064, seguido por uma queda de 50% até o final do século devido às mudanças no comportamento e função reprodutiva humana. Houve uma redução de 50% na contagem de espermatozoides nos últimos 50 anos. O aumento do número da população contribui para interações sociais menos significativas, retraimento social e estresse crônico, que subsequentemente suprime a reprodução, diminuindo a contagem de espermatozoides, a ovulação e a atividade sexual”, explica o Dr. Rodrigo Rosa, especialista em Reprodução Humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo. Segundo o estudo, uma característica única da queda populacional que se aproxima é que será quase exclusivamente causada pela diminuição da reprodução, em vez de fatores que aumentam as taxas de mortalidade. “Altos níveis de estresse podem tornar as chances de um casal engravidar menores. Isso porque o estresse causa processos fisiológicos que podem interferir na produção de hormônios reprodutivos importantes, além de, no homem, favorecer o surgimento de proteínas inflamatórias que prejudicam a qualidade do esperma”, acrescenta.

Segundo o especialista, os pesquisadores descobriram que as razões para a diminuição da reprodução também são únicas, pois, ao contrário dos séculos anteriores, hoje, a reprodução limitada dificilmente se deve à escassez de recursos. “Em outras palavras, a queda populacional prevista deve-se quase exclusivamente a mudanças no comportamento reprodutivo e na fisiologia reprodutiva. Hoje, as mudanças globais no comportamento reprodutivo são explicadas principalmente pelas ciências sociais em uma estrutura de hipóteses de transição demográfica, enquanto as mudanças na fisiologia reprodutiva são geralmente atribuídas a efeitos de poluentes desreguladores endócrinos, que afetam a qualidade e quantidade de espematozoides e óvulos. Este estudo, no entanto, descreve uma hipótese complementar ou alternativa, que conecta tendências reprodutivas com densidades populacionais, tendo como ponto principal a questão do estresse nas interações sociais de má qualidade”, explica o médico.

O trabalho diz que numerosos estudos experimentais e de vida selvagem de uma ampla gama de espécies animais demonstraram que o comportamento reprodutivo e a fisiologia reprodutiva são controlados negativamente por meio de sinalização endócrina e neural em resposta ao aumento da densidade populacional. Há uma explicação técnica para isso: a cadeia causal desse sistema de controle, embora não totalmente compreendida, inclui a supressão de todos os níveis da cascata hipotálamo-pituitária-gonadal (HPG) pelo eixo hipotálamo-pituitária-adrenal (HPA), ativado em resposta ao estresse crescente das interações sociais. Em outras palavras, o organismo reage ao estresse com a liberação de hormônios que alteram as funções reprodutivas, inclusive interferindo na liberação do hormônio folículo estimulante (FSH), que tem como função regular a produção de espermatozoides e a maturação dos óvulos durante a idade fértil. “O comportamento que contribui para a queda da população inclui mais casais jovens que optam por ficar ‘sem filhos’, pessoas com menos filhos e casais que esperam mais para começar uma família”, diz o especialista.

Os pesquisadores encontraram uma conexão entre números populacionais, estresse e reprodução revisando vários estudos e fazendo as seguintes perguntas: Por que as pessoas se recusam a ter filhos quando o acesso a todos os recursos vitais está se tornando melhor do que a humanidade jamais teve? Por que houve uma redução de 50% nas contagens de esperma nos últimos 50 anos? Por que estão surgindo diferentes formas de retraimento social? A partir dessas questões, eles chegaram à hipótese de que o declínio da reprodução pode ser devido ao estresse de menos interações sociais de qualidade e mudanças no comportamento reprodutivo, como um aumento de casais “sem filhos” e paternidade tardia. “Numerosos estudos de vida selvagem e de laboratório demonstraram que os picos populacionais são sempre seguidos por aumento do estresse e reprodução reprimida. Esta revisão fornece evidências de várias disciplinas de que os mesmos mecanismos anteriormente observados em espécies selvagens podem funcionar em humanos também”, finaliza o Dr. Rodrigo Rosa.

FONTE:

*DR. RODRIGO ROSA: Ginecologista obstetra especialista em Reprodução Humana e sócio-fundador e diretor clínico da clínica Mater Prime, em São Paulo. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana (SBRH), o médico é graduado pela Escola Paulista de Medicina – Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM). Especialista em reprodução humana, o médico é colaborador do livro “Atlas de Reprodução Humana” da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana.

LINK: https://academic.oup.com/endo/advance-article-abstract/doi/10.1210/endocr/bqab154/6354390?redirectedFrom=fulltext