Estudo sugere mudanças na dieta e conclui que comer cachorro-quente pode ‘custar’ 36 minutos de vida

No entanto, a escolha por uma porção de nozes pode ajudá-lo a ganhar 26 minutos de vida extra saudável, de acordo com um estudo da Universidade de Michigan, publicado na revista Nature Food, que classificou alimentos em três zonas de cores (verde, amarelo e vermelho), como um semáforo.

Estudo sugere mudanças na dieta e conclui que comer cachorro-quente pode ‘custar’ 36 minutos de vidaPequenas mudanças, grandes ganhos. Se na maioria dos aspectos da vida não funciona dessa forma, na dieta é exatamente assim que as coisas são, segundo um novo estudo da Universidade de Michigan, publicado em 18 de agosto na revista Nature Food. “O trabalho concluiu que pequenas mudanças na dieta podem gerar ganhos substanciais para o meio ambiente e para a saúde humana. Por exemplo, enquanto comer um cachorro-quente pode custar 36 minutos de vida saudável, a escolha por uma porção de nozes pode ajudá-lo a ganhar 26 minutos de vida extra saudável. Em paralelo, substituir 10% da ingestão calórica diária de carne bovina e carnes processadas por uma mistura de frutas, vegetais, nozes, legumes e frutos do mar selecionados pode reduzir, em termos de Sustentabilidade, a pegada de carbono (medida que calcula a emissão de carbono equivalente emitida na atmosfera por uma pessoa) na dieta em 1/3 e permitir que as pessoas ganhem 48 minutos de vida saudáveis”, explica a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia.

O estudo avaliou mais de 5.800 alimentos, classificando-os de acordo com a carga de doenças nutrológicas para os humanos e seu impacto no meio ambiente. Os autores desenvolveram o Índice Nutricional de Saúde para quantificar os efeitos marginais à saúde em minutos de vida saudável em ganhos ou perdas de 5.853 alimentos na dieta dos EUA, variando de 74 minutos perdidos a 80 minutos ganhos por porção. “Raramente as recomendações dietéticas abordam os impactos ambientais e geralmente não é calculado o valor de vida saudável com base em um alimento de maneira isolada”, afirma a médica nutróloga. “O índice é uma adaptação do Global Burden of Disease (GBD), no qual a mortalidade e morbidade da doença estão associadas a uma única escolha alimentar de um indivíduo. Nesse caso, os pesquisadores usaram 15 fatores de risco dietéticos e estimativas de carga de doenças do GBD e os combinaram com os perfis nutricionais dos alimentos consumidos nos Estados Unidos, com base no banco de dados What We Eat in America do National Health and Nutrition Examination Survey. Alimentos com pontuações positivas agregam minutos de vida saudáveis, enquanto alimentos com pontuações negativas estão associados a resultados de saúde que podem ser prejudiciais para a saúde humana”, explica a Dra. Marcella.

Para avaliar o impacto ambiental dos alimentos, os pesquisadores utilizaram o IMPACT World +, um método para aferir o impacto do ciclo de vida dos alimentos (produção, processamento, manufatura, preparação / cozimento, consumo, resíduos), e adicionaram avaliações aprimoradas para o uso da água, saúde humana e danos causados pela formação de partículas finas. Eles desenvolveram pontuações para 18 indicadores ambientais, levando em consideração receitas de alimentos detalhadas, bem como o desperdício de alimentos previsto. “Os pesquisadores classificaram os alimentos em três zonas de cores: verde, amarelo e vermelho, com base em seus desempenhos nutrológicos e ambiental combinados, como um semáforo”, explica.

A zona verde representa alimentos que são recomendados para aumentar na dieta e contêm alimentos que são nutrologicamente benéficos e têm baixo impacto ambiental. “Os alimentos nesta zona são predominantemente: nozes, frutas, vegetais cultivados no campo, legumes, grãos inteiros e alguns frutos do mar”, diz a médica. Alimentos como leite e ovos foram considerados ‘amarelos’: não representam perda ou ganho de vida, considerando (claro) os dois fatores (nutrológico e ambiental). Já a zona vermelha inclui alimentos que têm impactos nutrológicos ou ambientais consideráveis e devem ser reduzidos ou evitados na dieta alimentar. “Os impactos nutrológicos foram causados principalmente por carnes processadas; quanto ao clima e muitos outros impactos ambientais, eles foram causados por carne bovina e suína, cordeiro e carnes processadas”, diz a Dra. Marcella. “Os pesquisadores reconhecem que o alcance de todos os indicadores varia substancialmente e também apontam que alimentos nutrologicamente benéficos nem sempre geram os menores impactos ambientais e vice-versa. Estudos anteriores muitas vezes reduziram suas descobertas a uma discussão de alimentos de origem vegetal vs. animal. Embora o estudo tenha descoberto que os alimentos à base de plantas geralmente têm um desempenho melhor, existem variações consideráveis tanto nos alimentos à base de plantas quanto nos de origem animal, um exemplo é que os frutos do mar são considerados alimentos de zona verde”, explica a Dra. Marcella.

Com base em suas descobertas, os pesquisadores sugerem: diminuir os alimentos com os impactos ambientais e de saúde mais negativos, incluindo carnes altamente processadas, bovinos, camarões, seguidos por carne de porco, cordeiro e vegetais cultivados em estufas; e aumentar os alimentos mais benéficos do ponto de vista nutrológico, incluindo frutas e vegetais cultivados no campo, legumes, nozes e frutos do mar de baixo impacto ambiental. “O mais importante do estudo, no entanto, não é a classificação por si só dos alimentos, pois devemos ter consciência de que nenhum alimento é bom ou ruim sem um contexto alimentar. Na verdade, a noção de que pequenas mudanças no padrão alimentar são capazes de trazer grandes benefícios à saúde é uma forma encorajadora de pensar em mudanças na dieta, com benefícios para a saúde e para a sustentabilidade ambiental”, finaliza a Dra. Marcella.

FONTE:

*DRA. MARCELLA GARCEZ: Médica Nutróloga, Mestre em Ciências da Saúde pela Escola de Medicina da PUCPR, Diretora da Associação Brasileira de Nutrologia e Docente do Curso Nacional de Nutrologia da ABRAN. A médica é Membro da Câmara Técnica de Nutrologia do CRMPR, Coordenadora da Liga Acadêmica de Nutrologia do Paraná e Pesquisadora em Suplementos Alimentares no Serviço de Nutrologia do Hospital do Servidor Público de São Paulo.

 

Link: https://www.nature.com/articles/s43016-021-00343-4

https://theconversation.com/individual-dietary-choices-can-add-or-take-away-minutes-hours-and-years-of-life-166022