A sobrevida global média para todos os pacientes no estudo foi de cerca de 15 meses após o diagnóstico. “Mas aqueles que receberam o medicamento de quimioterapia temozolomida pela manhã e que tinham alteração do MGMT tiveram uma sobrevida global média de mais de dois anos, em comparação com uma sobrevida global média de cerca de 13 meses e meio para aqueles que tomaram o medicamento à noite, uma diferença estatisticamente significativa neste estudo, que tem como importante limitação ser um estudo retrospectivo e com um número pequeno de pacientes”, explica o neuro-oncologista. “Os dados ainda são imaturos, portanto, mais estudos poderão fortalecer essa expectativa. Mas temos que considerar também o bem-estar do paciente. No período de quimioterapia com radioterapia, pedimos que o paciente tome Temozolomida 1 hora antes da sessão de radioterapia. Em pacientes na fase adjuvante, isto é, após a radioterapia (fase dos ciclos), alguns podem optar por tomar o remédio pela manhã, mas caso sintomas atrapalhem o dia do paciente, preferimos que ele volte a usar o medicamento à noite, antes de dormir, para evitar sintomas ao longo do dia”, pondera o médico.
Ainda não há cura para esse câncer mortal e, no momento, os estudos se concentram em desenvolver melhores tratamentos, mas também em prolongar a sobrevida dos pacientes, levando em consideração também a qualidade de vida, segundo o médico neuro-oncologista. “Esses resultados são empolgantes porque sugerem que podemos estender a sobrevivência simplesmente dando nossa quimioterapia padrão pela manhã, algo extremamente simples de ser implementado.”
Até agora, poucos casos clínicos descritos na literatura científica consideram a hora do dia para tomar medicamentos. “O interesse na cronoterapia é algo muito recente para médicos oncologistas e cientistas, novos estudos vão direcionar a necessidade de começarmos a questionar qual o melhor momento para entregar quimioterapia para o paciente. Possivelmente muito do que iremos ler nos próximos meses ou anos irá vir de estudos mais simples, até que estudos com a real intenção de comparar tal iniciativa sejam implementados, o que pode demorar. Ainda não é hora de afirmar, com certeza, de que esta é a melhor forma de tratar, mas pode ser uma conduta aceitável no consultório, por não prejudicar o paciente e nem mudar a terapia padrão”, explica o médico.
Neste estudo retrospectivo, os pesquisadores analisaram dados de 166 pacientes com glioblastoma que foram tratados no Siteman Cancer Center no Barnes-Jewish Hospital e na Washington University School of Medicine entre janeiro de 2010 e dezembro de 2018. Todos os pacientes receberam o tratamento padrão para glioblastoma. Eles foram submetidos à cirurgia para remover o máximo possível de cada tumor e, em seguida, receberam radioterapia junto com o medicamento quimioterápico temozolomida. Após a conclusão do regime de radiação e temozolomida, os pacientes continuaram a tomar uma dose de manutenção de temozolomida – administrada em cápsula oral – pela manhã ou à noite, dependendo da preferência de seus oncologistas.
Segundo o estudo, muitos neuro-oncologistas preferem administram o medicamento à noite porque os pacientes tendem a relatar menos efeitos colaterais, o que também foi notado no estudo. “Mas os pesquisadores levantaram a hipótese de que o aumento dos efeitos colaterais – que podem ser controlados com outras terapias – seria um sinal que a droga está funcionando de forma mais eficaz. De qualquer forma, mais estudos ainda precisam ser feitos”, finaliza o Dr. Gabriel.
FONTE:
*DR. GABRIEL NOVAES DE REZENDE BATISTELLA: Médico neurologista e neuro-oncologista, membro da Society for Neuro-Oncology Latin America (SNOLA). Formado em Neurologia e Neuro-oncologia pela Escola Paulista de Medicina da UNIFESP, hoje é assistente de Neuro-Oncologia Clínica na mesma instituição. O médico é o representante brasileiro do International Outreach Committee da Society for Neuro-Oncology (IOC-SNO).
Link: https://academic.oup.com/noa/article/3/1/vdab041/6156855